Garantir habitação e programas de desenvolvimento pessoal para os funcionários está longe de ser um padrão das empresas portuguesas, mas é a estratégia da Integer para atrair, reter e multiplicar talento no mundo à parte que é o das Tecnologias de Informação (TI).Em maio de 2024, a consultora em TI recuperou seis apartamentos num edifício em Lisboa que, agora, disponibiliza aos funcionários que chegam de outros países, a preços mais acessíveis. E logo após a Pandemia implementou um ambicioso programa de desenvolvimento de competências emocionais e sociais da sua equipa, agora constituída por 250 pessoas.Este tipo de inovação social custa dinheiro à empresa, mas é vista como um investimento pelo seu CEO e fundador, Luís Setúbal, num mercado de mão-de-obra que quase se move mais pelo desafio tecnológico e qualidade de vida do que pelo salário, que é, em regra, elevado.“O setor das tecnologias de informação é muito competitivo e encontrar bons profissionais é difícil, por isso recorremos cada vez mais a profissionais estrangeiros, sobretudo brasileiros”. Em causa estão engenheiros de TI, sobretudo especializados em análise de dados e desenvolvimento de software. Mas cedo se percebeu que muitos destes analistas e programadores recusavam as ofertas de trabalho ou desistiam, devido à crise do mercado habitacional português. “A dificuldade em suportar o preço das casas ou encontrar fiadores - há senhorios que exigem o pagamento adiantado de seis meses ou um ano de renda – é um claro entrave a muitos profissionais, pelo que optámos por atuar diretamente numa das causas desse obstáculo”.O living hub – como lhe chama Luís Setúbal – funciona como um dos benefícios incluído no contrato, que prevê o alojamento por um período de nove meses, que se pode prolongar em caso de necessidade, mas que pretende dar tempo a quem se desloca de fora para se enquadrar e encontrar as melhores soluções habitacionais, explica.Para além dos apartamentos totalmente equipados, a empresa também disponibiliza um espaço de coworking, sobretudo para os colaboradores em regime de outsourcing. São apostas importantes para a Intenger, tendo em conta que cerca de metade dos seus funcionários são estrangeiros. “A esmagadora maioria são brasileiros, porque não só têm a facilidade da língua, mas a cultura é parecida e o nível de formação é bom”, diz o responsável. Entre as outras nacionalidades consta um indiano, um checo e um argentino.Os clientes da Intenger são maioritariamente do setor financeiro, das telecomunicações e, cada vez mais, da Administração Pública. Mas este ano, fruto da instabilidade nos mercados a nível global, “nota-se uma retração da procura, e uma desaceleração no ritmo dos projetos, com alguns dos clientes a suspenderem-nos”, observa o empresário. Os projetos relacionados com a cibersegurança e a Inteligência Artificial são os que vão garantindo um ritmo de trabalho e compensam a quebra nas outras áreas. Embora a Intenger trabalhe maioritariamente com o mercado nacional tem atualmente projetos noutras geografias como o Reino Unido e o Luxemburgo.Desenvolvimento pessoalFoi no período da Pandemia que Luís Setúbal sentiu que era necessário “avançar para uma cultura mais colaborativa enquanto parte da estratégia empresarial, mas também para melhorar o bem estar dos funcionários”. Esta é uma atividade em que o regime de outsourcing e o trabalho remoto é frequente e isso não facilita o entrosamento das equipas e a cultura de empresa. Por isso, e depois de se ter inspirado num modelo que conheceu quando esteve a fazer uma pós-graduação em Harvard, Luís Setúbal contratou uma coach certificada em Leadership Circle Profile (LCP) que está a trabalhar no desenvolvimento das capacidades humanas da equipa interna de 35 pessoas. O investimento é de 60 mil euros por ano e assenta num sistema em que um grupo de seis pessoas avalia as competências que um colega deve melhorar e transmite-as à coach. Por sua vez, esta confronta o funcionário com essa avaliação para obter ou não a sua concordância e traça um plano individual de desenvolvimento que é trabalhado ao longo de um ano. Em causa podem estar, por exemplo, competências de auto-conhecimento, comunicacionais ou criar relações de transparência e confiança, entre outras. “Muitas vezes as empresas perdem muito e as pessoas também por não existir um clima de abertura e confiança para se exprimir a opinião. E o nosso objetivo é acabar com os elefantes na sala, se há algum assunto é para discutir logo”. Sobre os resultados desta aposta, Luís Setúbal garante que está a dar frutos: “Nota-se que os colaboradores também acabam por levar esta cultura para os nossos clientes e a comunicação flui de maneira mais eficaz, evitando-se equívocos”.Embora o programa tenha começado pela estrutura dirigente, “é transversal a toda a equipa e o objetivo é que cada pessoa que passe pelo programa fique também capacitada para ajudar a desenvolver outros, replicando as competências de liderança”.Com anos de resultados a nível internacional, aquele programa é mesmo considerado um dos requisitos por algumas empresas para contratar pessoal, como é, por exemplo, o caso da Apple..Quase 70% das empresas de TI e telecom querem usar revisões salariais para reter e atrair talento