China sinaliza estímulos moderados e promete impulsionar a procura interna

O compromisso foi assumido durante a Conferência Central de Trabalho Económico, que serve como guia estratégico para a definição das políticas macroeconómicas do próximo ano.
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A liderança chinesa comprometeu-se pela primeira vez com a recuperação do investimento fixo e sinalizou estímulos fiscais e monetários "limitados" para 2026, apostando antes na reorientação da despesa pública e apoio ao consumo interno.

O compromisso foi assumido durante a Conferência Central de Trabalho Económico, realizada esta semana em Pequim, e que serve como guia estratégico para a definição das políticas macroeconómicas do próximo ano.

Os objetivos concretos, incluindo a meta de crescimento do PIB, só deverão ser divulgados em março, na sessão plenária da Assembleia Popular Nacional, órgão máximo legislativo do país.

Segundo o comunicado final, divulgado pela agência noticiosa oficial Xinhua, o Governo vai "promover a estabilização e recuperação do investimento", recorrendo a projetos-chave, ao aumento do investimento do Governo central e ao incentivo ao investimento privado.

O investimento em ativos fixos caiu 1,7% entre janeiro e outubro, depois de uma queda de 0,5% nos primeiros nove meses do ano. A contração foi agravada por revisões estatísticas, mas também por restrições associadas à campanha contra a competição industrial excessiva, conhecida na China como 'neijuan' (involução), segundo analistas do banco de investimento norte-americano Goldman Sachs.

Para Ting Lu, economista para a China do banco japonês Nomura, o apelo ao relançamento do investimento mostra que a liderança "está plenamente consciente da recente queda acentuada" do investimento fixo, e deverá redirecionar receitas da emissão de dívida pública local para projetos de infraestrutura.

Mas Pequim rejeitou por agora um grande pacote de estímulos. "O comunicado sugere que haverá mais apoio político nos próximos meses, mas ainda não foi formulado um programa de estímulo decisivo", observou Lu.

Também segundo Julian Evans-Pritchard, da consultora britânica Capital Economics, o texto "não aponta para uma aceleração do crescimento em 2026", mas poderá "lançar as bases para uma economia mais saudável e equilibrada a médio prazo".

Evans-Pritchard destacou que Pequim tenciona cortar as taxas de juro e os requisitos de reserva bancária (RRR), mas considera que o impulso monetário "será demasiado tímido para estimular a procura de crédito". A consultora prevê cortes de 30 pontos base nos juros de referência e 75 pontos nos RRR.

A prioridade continuará a recair sobre a política fiscal, embora com moderação. Ao contrário de 2024, quando se prometeu "aumentar" o défice orçamental, o comunicado de 2025 refere apenas que este "será mantido", sem referências a emissões adicionais de dívida especial.

Face às dificuldades das administrações locais em encontrar projetos viáveis, o Governo central deverá "aproveitar melhor" o seu espaço fiscal, canalizando mais recursos diretamente para o orçamento nacional.

Segundo Ning Zhang, economista do banco suíço UBS, a conferência "marcou um tom de apoio continuado e políticas mais equilibradas para estabilizar o crescimento económico", prevendo-se uma "otimização da despesa" com reforço das redes de proteção social e incentivos ao consumo.

Evans-Pritchard salientou ainda que o Governo reconheceu explicitamente o "desequilíbrio entre uma oferta robusta e uma procura débil" e deverá adotar "ações especiais" para apoiar o consumo das famílias.

Apesar da redução recente do investimento em ativos fixos, não se espera uma retração no financiamento público à indústria de alta tecnologia, incluindo setores estratégicos como veículos elétricos, semicondutores e inteligência artificial.

O Fundo Monetário Internacional exortou esta semana a China a adotar medidas mais agressivas de estímulo à procura interna e alertou que, se não reduzir os excedentes comerciais, poderá enfrentar retaliações dos parceiros internacionais.

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