Crédito ao consumo em julho disparou 33% em dois anos

O recurso das famílias portuguesas aos créditos pessoais para equilibrar as contas tem vindo a subir. Economista Miguel Coelho aponta o crescimento da inflação dos últimos anos como factor decisivo.
No final do ano passado os critérios para a concessão de crédito tornaram-se mais restritivos.
No final do ano passado os critérios para a concessão de crédito tornaram-se mais restritivos.Líbia Florentino / Global Imagens
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As famílias portuguesas estão a recorrer cada vez mais ao crédito ao consumo. Os dados mais recentes do Banco de Portugal (BdP), no mês de julho os novos créditos neste segmento (automóvel e pessoal) totalizaram 826,9 milhões de euros, uma subida de 11,4% face ao mesmo mês no ano passado. Mas este crescimento não conta a história toda. Em relação a 2023, o recurso das famílias ao crédito ao consumo disparou cerca de 33%.

Ao DN, o economista e professor universitário Miguel Coelho aponta várias razões para este crescimento. “Em primeiro lugar está o processo inflacionista em 2021 e 2022 que minou substancialmente o poder de compra da classe media e média baixa e do qual não é fácil de recuperar”, salienta Miguel Coelho. “Desde então pode até ter havido ajustamentos no salário, mas não o suficiente, porque no cabaz essencial não houve uma recuperação o poder de compra”, nota.

Por outro lado, esta subida diz respeito a julho, mês antecede o principal período de férias de grande parte dos portugueses. Habitualmente, as famílias portuguesas equilibravam as contas e até pagavam as férias com o reembolso do IRS (em maio e junho), mas nos dois últimos anos, devido ao ajuste nas tabelas de retenção, a devolução tem sido ou muito menor, inexistente ou o agregado tem mesmo de pagar imposto.

Miguel Coelho reconhece que o não reembolso (ou o menor reembolso), pode ser um factor recente, mas reitera que “o processo inflacionista terá sido o aspeto decisivo”.

No entanto, aponta uma outro factor que pode contribuir para o crescimento. “Hoje em dia existem formas mais sedutoras de captar clientes para o crédito. Com isso as famílias ganham, no imediato, a possibilidade de funcionar, mas isso tem uma impacto a médio prazo, pois resulta num acumular de dívidas”, diz o economista. “É um pouco como os países, mas no caso das famílias, o buraco aparece mais rapidamente. Porque com as pessoas é uma questão de sobreviver ou não”.

De acordo com os dados provisórios do BdP, os montantes de novos créditos pessoais avançaram 10,9%, para 368,3 milhões de euros em julho, dos quais 14 milhões para “educação, saúde, transição energética e locação financeira de equipamentos” e a muito maior parte, 354 milhões para outros créditos pessoais (para a casa, obras e outras finalidades).

Esta categoria é a que tem o maior peso nos créditos pessoais e cresceu 12% face aos 305 milhões de 2024. Em 2023 estava nos 257 milhões em julho.

Por sua vez, o montante para operações de novo crédito automóvel subiu 11,7%, para 338,8 milhões de euros.

Com uma variação homóloga abaixo das restantes, o montante dos cartões e descoberto cresceu 7,7%, para 119,8 milhões de euros. Em julho, foram celebrados 150.283 contratos de crédito aos consumidores, um número 8,7% acima do registado no mesmo mês de 2024, e mais 9,7% que em junho. No primeiro mês do segundo semestre foram celebrados 75.470 créditos na categoria cartões e descoberto (subida de 5,8% em termos homólogos), 52.727 créditos pessoais (11,7%) e 22.086 créditos automóveis (8,3%).

No total, o crédito ao consumo em julho ascendeu a 826 ,8 milhões de euros, o que compara com os 742 milhões de 2024. Face aos 645 milhões em 2023, o crescimento disparou 33%. Do total de novos contratos de crédito em julho, 5,0% foram contratos subvencionados.

“Os contratos de crédito subvencionados são celebrados entre a instituição de crédito e o consumidor, mas parte do custo do crédito é suportada por uma entidade terceira (por exemplo, o ponto de venda onde o consumidor adquire o bem financiado)”, explica o BdP.

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