Mário Draghi criticou esta terça-feira, 16 de setembro, a lentidão e inércia da União Europeia (UE) no que respeita à competitividade, apelando a uma nova dinâmica para que sejam obtidos resultados “em meses, não anos”. E percebe-se porquê: só uma em cada 10 medidas propostas no relatório que herdou o seu nome, para aumentar a competitividade económica da UE, foi até agora adotada, quando se assinala um ano desde a publicação do documento.No Relatório Draghi – uma espécie de agenda estratégica para a Europa _ publicado em setembro de 2024 e encomendado um ano antes, o ex-primeiro ministro italiano estimou em 800 mil milhões de euros as necessidades anuais de investimento adicional na UE face aos concorrentes China e Estados Unidos, o equivalente a mais de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) comunitário e acima do Plano Marshall para ganhar na guerra da competitividade e em setores estratégicos.Draghi relaciona mesmo a inércia europeia com o descontentamento dos europeus e vai ao ponto de considrar que ela não só põe em causa a economia, como a própria soberania. “As empresas e os cidadãos […] manifestam uma frustração crescente, estão desiludidos com a lentidão com que a UE atua”, referiu Draghi, intervindo numa conferência de alto nível para analisar o progresso da Comissão Europeia na implementação das recomendações estabelecidas naquele relatório.O antigo presidente do Banco Central Europeu (BCE) sublinhou a necessidade que a UE tem de seguir um caminho diferente, que exige “uma nova velocidade, escala e intensidade”, “obtendo resultados em meses, não em anos”. Defendendo que a opção por uma nova via de competitividade significa que os Estados-membros devem “atuar em conjunto e não fragmentar os esforços” e “concentrar os recursos onde o impacto é maior”.“Por vezes, a inércia é mesmo apresentada como respeito pelo Estado de direito”, considerou, acrescentando que “isso é complacência”.Referindo-se às dinâmicas dos Estados Unidos e da China, os maiores concorrentes da UE, Draghi lembrou que são menos constrangidos e considerou que se a UE não alterar o seu percurso, terá de se resignar a ficar para trás.Lembrando que um ano depois do relatório, o bloco está “numa situação mais difícil”, Mário Draghi sentenciou que o modelo de crescimento europeu está a desvanecer-se. “A inação ameaça não só a nossa competitividade, mas também a nossa própria soberania”, acrescentou.Uma das propostas integradas no relatório é a emissão regular de dívida comum na UE, como aconteceu para fazer face à crise da covid-19, um investimento maciço em defesa e uma nova estratégia industrial comunitária. O documento definiu três prioridades para a Europa: resolver o défice de inovação em tecnologias avançadas, traçar uma via de descarbonização que apoie o crescimento, e reforçar a segurança económica.Só 11% das medidas foram adotadasSegundo dados agora divulgados pela organização europeia de lóbi Conselho Europeu para a Inovação Política (EPIC, na sigla inglesa), do total de 383 recomendações apresentadas, apenas 11,2% (43 medidas) foram totalmente cumpridas.Contando com os progressos parciais, o EPIC estima que a UE já tenha implementado 31,4% (77 medidas) das iniciativas defendidas por Mario Draghi, estando o resto em curso (46%, 176 medidas) ou por aplicar (22,7%, 87 medidas).Esta organização fala em “disparidades setoriais marcantes”, especificando que os transportes e as matérias-primas críticas estão à frente, impulsionados pela segurança da cadeia de abastecimento e pela transição para veículos elétricos, enquanto as áreas da energia e da digitalização estão atrasadas devido às diferentes sensibilidades políticas na UE, à regulamentação complexa e à propriedade fragmentada.Num outro instrumento de monitorização de resultados, chamado de “Draghi tracker” e assinado pela Iniciativa Europeia Conjunta Disruptiva, estima-se em 14% a implementação das principais medidas propostas no relatório Draghi, tendo por base as 20 recomendações mais importantes.A conferência de alto nível para analisar o progresso da Comissão Europeia na implementação das recomendações estabelecidas no relatório Draghi realizou-se em Bruxelas, mas, apesar de contar com o antigo presidente do Banco Central Europeu e com a presidente da Comissão Europeia, o evento não foi aberto à imprensa, apenas transmitido ‘online’.