EUA ponderam adiar tarifas sobre semicondutores que ameaçam cadeia global

Trump olha para o calendário para evitar uma ruptura com Pequim e um possível conflito de medidas recíprocas que perturbe o abastecimento de matérias‑primas críticas.
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Donald TrumpEPA/AARON SCHWARTZ / POOL
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Fontes oficiais e interlocutores do sector afirmam que a administração norte‑americana está a reconsiderar o calendário para a imposição das tarifas sobre semicondutores, anunciadas no verão como potencialmente próximas de 100%.

As conversas mantidas nos últimos dias apontam para um adiamento ou uma redução do âmbito das medidas, numa tentativa de evitar um confronto comercial com a China que poderia perturbar cadeias de abastecimento críticas, avança a Reuters, esta quinta-feira, 20.

De acordo com várias fontes com conhecimento direto das negociações, responsáveis governamentais têm comunicado a empresas e entidades públicas que a aplicação imediata das taxas está a ser reavaliada. “Nenhuma decisão é definitiva até ser assinada pela administração”, advertiram as fontes, que, contudo, não excluem a hipótese de tarifas “de três dígitos” serem aplicadas mais tarde.

A Casa Branca rejeitou relatos de mudança de postura. Kush Desai, porta‑voz presidencial, afirmou que a administração de Trump "permanece comprometida em usar todos os instrumentos do poder executivo para trazer de volta a produção crítica para a nossa segurança nacional. Qualquer reportagem anónima em sentido contrário é simplesmente Fake News”. Um responsável do Departamento do Comércio acrescentou que “não há alteração na política do departamento relativamente às tarifas 232 sobre semicondutores.”

O cenário político e económico explica a prudência. A administração procura conciliar objetivos industriais — incentivar a relocalização da produção de chips para os EUA — com o risco político e económico de reabrir um confronto tarifário com Pequim. A China continua a ser um fornecedor central de semicondutores e de componentes essenciais; um conflito escalado poderia interromper o fornecimento de matérias‑primas e dispositivos e provocar efeitos adversos sobre os preços ao consumidor.

A decisão assume também importância doméstica. Um agravamento dos custos de importação de semicondutores podia traduzir‑se em aumentos de preço para produtos eletrónicos do dia a dia, desde smartphones a eletrodomésticos, num momento em que a inflação e a pressão sobre os orçamentos familiares são temas sensíveis para o executivo antes da época de compras.

De recordar que durante a cimeira de Busan, Washington e Pequim acordaram suspender certas disputas, mas altos‑responsáveis norte‑americanos advertiram ainda os chineses sobre potenciais medidas de segurança nacional nos próximos meses. A embaixada chinesa em Washington incentivou a cooperação e pediu a implementação dos consensos de Busan para “manter a estabilidade da cadeia global de semicondutores”, disse um porta‑voz do governo chinês.

Em causa estão decisões que irão definir, a prazo, a estratégia industrial dos EUA, o custo final de muitos produtos electrónicos e a estabilidade de uma cadeia de valor global altamente interdependente.

Donald Trump
Trump promete taxas "bastante significativas" sobre semicondutores

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