Eurofighter quer ser a solução europeia para substituir os F-16 em Portugal

O consórcio europeu que produz o avião de combate Eurofighter quer fornecer caças a Portugal para substituir a frota dos F-16. Airbus assinou memorando com AED Cluster.
Eurofighter quer ser a solução europeia para substituir os F-16 em Portugal
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Há mais um candidato em cima da mesa à substituição dos caças F-16 em Portugal. O consórcio europeu que produz o Eurofighter, composto pelas empresas europeias Airbus Defence and Space, BAE Systems e Leonardo, quer que este avião de combate seja a escolha do Governo português na hora de renovar a frota da Força Aérea.

Neste sentido, a Airbus Defence and Space e o Cluster Português para as Indústrias da Aeronáutica, Espaço e Defesa (AED Cluster Portugal) assinaram esta segunda-feira, 27, um memorando de entendimento nas instalações da fabricante europeia de aviões, em Lisboa. Em junho, a AED já tinha assinado um memorando semelhante com a Lockheed Martin, a fabricante do caça F-35, precisamente para explorar futuras oportunidades de cooperação industrial, com o objetivo de identificar empresas portuguesas que possam integrar o programa do caça furtivo F-35. 

"Graças às mudanças recentes no contexto político e nas orientações estratégicas em Portugal, vemos agora uma grande oportunidade para um programa de colaboração europeia, como o Eurofighter. Com o apoio de mecanismos de financiamento da União Europeia, queremos posicionar o Eurofighter como o candidato ideal para a substituição dos F-16 em Portugal", assumiu o diretor de vendas da Eurofigther.

Na cerimónia de assinatura do documento, Ivan Gonzalez reforçou que este é "um passo lógico e muito atrativo" que criará valor para Portugal. "No final, reforçará a autonomia estratégica europeia permitindo-nos ser mais autossuficientes e independentes em matéria de defesa. Isto é muito importante não apenas para a soberania nacional de Portugal, mas também para a soberania europeia em geral", apontou.

O Eurofighter é um programa de cooperação europeu de aviões de combate desenvolvido pela Alemanha, Itália, Espanha e Reino Unido, assegurando já mais de 100 mil postos de trabalho em toda a Europa. Até ao momento, foram já encomendadas mais de 740 aeronaves Eurofighter por nove países: Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, Áustria, Arábia Saudita, Omã, Kuwait e Qatar.

O acordo agora firmado visa estabelecer as bases com o intuito de iniciar um conjunto de pesquisas com o objetivo de desenvolver uma proposta industrial para a substituição da atual frota portuguesa de F-16, que se encontra em fim de vida, por uma solução europeia.

Para Ivan Gonzalez há três fatores que tornam a proposta competitiva para o país. "Portugal operaria no mesmo padrão da NATO utilizado no Reino Unido, na Alemanha, na Itália e em Espanha, além de outros países. Em segundo lugar, esta assinatura é um compromisso da Airbus em continuar a apoiar o desenvolvimento da indústria portuguesa, que já o faz e não está a começar do zero, e do lado político há hoje uma intenção clara na Europa de reforçar capacidades próprias, e o Eurofighter é um reflexo desse esforço conjunto a nível europeu", enumerou.

A Airbus admite que já bateu à porta do Governo para discutir o projeto. "Iniciámos já conversações com o Ministério da Defesa português bem como reuniões com a Força Aérea para entender requisitos. Sabemos que sair de uma relação histórica com o F-16 não é fácil, mas estamos a trabalhar para mostrar como podemos corresponder às necessidades operacionais. Este processo será longo, dois a três anos e terá de ter orçamento alocado. Queremos garantir que todas as peças, militares, políticas e industriais, se alinham com uma proposta competitiva", frisou.

Questionado sobre a concorrência, nomeadamente por parte da sueca SAAB (com o caça Gripen E) e da americana Lockheed Martin (F-35), o responsável admitiu que estes são "fortes", mas a parceria o Eurofighter representa "algo maior". "A operação é estruturada com quatro potências europeias da NATO em vez de depender de um único país. Industrialmente, uma parceria com a Airbus abre oportunidades mais amplas que os outros não conseguem equiparar", justificou.

Já o presidente da AED Cluster Portugal defendeu que o memorando conjunto com a fabricante de aviões representa "uma forma de pensar adiante" garantindo que há ainda "muito mais a fazer na aeronáutica, na defesa e no espaço".

"Isto significa mais negócio para Portugal e potencialmente mais crescimento. A Airbus não é apenas membro do cluster, tem sido patrocinadora e tem apoiado a AED desde 2019. E este acordo é um reconhecimento desse envolvimento e espero que no final tenhamos sucesso não apenas nisto, mas noutras oportunidades, como em helicópteros e outras que estão na calha", destacou José Neves.

A Airbus conta, atualmente, com parcerias firmadas com mais de 30 empresas portuguesas sendo responsável pela criação de 1600 empregos altamente qualificados no país, gerando cerca de 70 milhões de euros por ano em encomendas da cadeia de fornecimento.

Além dos centros em Lisboa e Coimbra, a multinacional francesa tem ainda uma unidade industrial em Santo Tirso, a Airbus Atlantic. A representante para Portugal da Airbus referiu que a prioridade na fábrica de Santo Tirso é a produção civil, nomeadamente com a produção das secções de fuselagem para as famílias Airbus A320 e A350, mas admitiu que há espaço físico para uma expansão futura. "A lógica é replicar, na área da defesa, o mesmo caminho de confiança e crescimento construído no setor comercial", assumiu Nathalie Hellard Lambic.

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