Há oito distritos em risco de ficar sem acesso a jornais a partir de janeiro. Bloco questiona Governo

Decisão da VASP deve-se, entre outros motivos, a uma "situação financeira exigente". Mariana Mortágua questionou Leitão Amaro sobre este caso e quer saber se o Governo vai tomar medidas.
Há oito distritos de Portugal em risco de ficar sem acesso a publicações impressas.
Há oito distritos de Portugal em risco de ficar sem acesso a publicações impressas.Diana Quintela/GI
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O Bloco de Esquerda questionou esta quinta-feira, 4 de dezembro, o Governo sobre a notícia avançada pelo Correio da Manhã que há oito distritos em risco de ficar sem jornais já a partir do próximo mês.

Em causa está uma reorganização das rotas por parte da distribuidora VASP (propriedade do Grupo Bel, que é acionista do Global Media Group, ao qual pertence o DN). Segundo a empresa, face à "situação financeira particularmente exigente, resultante da continuada quebra das vendas de imprensa e do aumento significativo dos custos operacionais", deixará de garantir a distribuição das publicações nos distritos de Beja, Évora, Portalegre, Castelo Branco, Guarda, Viseu, Vila Real e Bragança.

Perante isto, deputada única do BE, Mariana Mortágua, questionou o ministro da Presidência, António Leitão Amaro. Na missiva, a parlamentar argumenta que esta decisão vai afetar "o direito à informação", que está consagrado na Constituição (artigo 37.º), algo que é reconhecido pela própria VASP. Recordando ainda o Plano de Ação para a Comunicação Social apresentado pelo anterior Governo (em que uma das medidas era a de apoiar a distribuição nas zonas menos povoadas), a deputada bloquista pergunta ao ministro se o Executivo está "a par" desta situação, como está a medida de apoio à distribuição e se está prevista alguma ação para tentar reverter este problema.

No passado mês de setembro, aquando do 1.º Encontro Nacional de Pontos de Venda de Imprensa, o presidente da VASP, Marco Galinha, criticou a lentidão do Governo em lançar os apoios à distribuição, conforme noticiou o DN.

Há oito distritos de Portugal em risco de ficar sem acesso a publicações impressas.
Presidente da VASP critica lentidão do Governo nos apoios à distribuição no Interior

Na declaração que fez, o empresário afirmou que a distribuidora andava "há um ano a tentar ter um projeto de ajuda aos editores, para chegarem ao interior do país". "Mas andamos há um ano em reuniões. Reuniões atrás de reuniões e cada vez parece mais longe. E a VASP não é o Estado português. Fazemos o nosso dever, mas não nos podemos substituir aos deveres do Estado português”, afirmou nessa ocasião Marco Galinha.

Já nessa altura, lia-se na mesma notícia, a VASP e os principais grupos de media nacionais tinham pedido uma reunião urgente ao Governo para que fossem tomadas "medidas urgentes" para evitar estes problemas. Além disso, também o "adiamento consecutivo" por parte do Governo em lançar "um concurso público internacional para a distribuição de publicações em todo o país” gerava preocupação junto destes responsáveis.

Desertos de notícias intensificam-se. Cenário é pior do que em 2022

Caso o cenário se confirme, tal pode significar que as populações destes distritos do interior ficarão limitadas no acesso à informação, podendo consumi-la apenas pela televisão, nos meios digitais, ou por rádio. Mas há mais: em muitos destes locais, não há qualquer órgão de informação local e regional registado, o que torna a situação mais crítica.

Segundo um estudo realizado por investigadores do Labcom, da Universidade da Beira Interior (UBI), os chamados "desertos de notícias" (total ou semi-total) pioraram em relação ao levantamento anterior, feito em 2022. Em três anos, o número subiu de 78 para 83 municípios. A região do Alto-Alentejo, que abrange o distrito de Portalegre (um dos oito em perigo), é considerada crítica, tendo apenas nove meios de comunicação registados para uma população de 109 mil pessoas.

De acordo com a investigação, as regiões de Alentejo e Trás-os-Montes são as que têm as principais carências informativas.

Os dados divulgados pela UBI mostram ainda que 171 dos 308 concelhos de Portugal (55,5%) têm algum problema na cobertura noticiosa local. Isto representa um ligeiro aumento em relação a 2022, quando havia 166 municípios nessa situação.

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Deserto de notícias em Portugal "vai agravar-se", diz APImprensa

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