Indústria prevê grande subida de preços, serviços cortam no emprego

Em julho, decorridos três meses de guerra comercial e incerteza, INE consultou quase cinco mil empresários portugueses. Na Indústria, emprego total resiste. Nos Serviços, cede.
Turismo tem sido o grande motos dos Serviços e da economia portuguesa.
Turismo tem sido o grande motos dos Serviços e da economia portuguesa.Foto: Reinaldo Rodrigues / Global Imagens
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Passaram mais de três meses desde que os Estados Unidos, presididos por Donald Trump, abriram fogo sobre dezenas de economias de todo o mundo, europeias e Portugal incluído, impondo tarifas e ameaçando com tributos nunca vistos sobre o comércio internacional.

De acordo com dados novos do inquérito de confiança do Instituto Nacional de Estatística (a quase cinco mil empresários e gestores), conduzido entre 1 e 23 de julho, parece que as empresas estão a conseguir adaptar-se, não se registando grandes quebras no sentimento económico nacional.

Mas há mudanças de relevo, mostra o referido inquérito ao clima económico (de julho).

A indústria transformadora, o sector que está mais na linha da frente quando se pensa na atual guerra comercial em curso, até antecipa (a maioria dos empresários inquiridos) a possibilidade de reforçar quadros de pessoal nos próximos meses, até outubro, mas admite que isso terá de ser acompanhado com uma subida nos preços de venda.

Outros sectores estão mais de pé atrás. É o caso dos serviços, o maior sector em Portugal e maior empregador (mais de 70% do emprego total, o equivalente a 3,8 milhões de trabalhadores), onde os respetivos empresários antecipa uma travagem ou moderação no número de empregados até outubro. É neste ramos que está maior parte do portentoso turismo, por exemplo.

De acordo com o estudo do INE, o inquérito mensal conduzido entre 1 e 23 de julho recebeu as avaliações de quase 1.500 gestores e empresários da Indústria Transformadora e a esmagadora maioria está a antecipar, novamente, um forte agravamento dos preços de venda nos próximos três meses.

"O saldo de respostas das expectativas dos empresários sobre a evolução futura dos preços de venda" aumentou em julho "no setor da Construção e Obras Públicas e, expressivamente, no setor da Indústria Transformadora", indica o INE.

Tinha acontecido algo parecido em fevereiro, março e abril, na altura em que Donald Trump, o presidente dos EUA, iniciou a sua cascata de ameaças nas tarifas contra tudo e contra todos.

Agora, temos uma repetição do fenómeno, que pode alimentar mais inflação a prazo.

Em compensação, os mesmos industriais dizem estar a antecipar um reforço no número de trabalhadores até outubro.

De acordo com estes responsáveis, embora predomine a incerteza, os seus indicadores de procura global (carteiras de encomendas interna e estrangeira) estão a melhorar ligeiramente, depois do choque vivido no início deste ano.

Assim, as perspetivas de produção para os próximos três meses são mais positivas agora, e bem mais do que eram no ano passado, por exemplo, indicam os dados divulgados pelo INE.

Na Construção e Obras Públicas, foram ouvidos 660 empresários. Para estes, o emprego estará estável nos próximos três meses, mas a tendência nos preços que terão de ser praticados está a subir ligeiramente.

Nos Serviços, o INE recolheu testemunhos de 1.413 empresários ou gestores. O outlook para o emprego no maior sector da economia, que inclui o poderoso turismo, perde força. O indicador que antecipa a tendência da evolução do pessoal ao serviços nos próximos três meses (até outubro) está no nível mais baixo em mais de um ano e meio (desde o final de 2023).

Os mesmos responsáveis empresariais apontam ainda para um agravamento de preços nos próximos três meses. O respetivo indicador subiu para o nível mais alto desde o início de 2023, altura em que a inflação era o dobro da atual.

No Comércio, foram ouvidos quase 1.300 empresários e gestores. É outro sector que tem beneficiado da explosão e dos sucessivos recordes no turismo.

Aqui, as perspetivas de emprego para os próximos três meses saíram reforçadas em julho (avaliação média dos últimos três meses), tendo atingido o registo mais elevado dos últimos sete anos (desde julho de 2018).

Mas, como na indústria, os empresários esperam que isto possa ser acompanhado por vendas a preços mais elevados. A tendência para aumentar preços está no nível mais elevado desde março do ano passado, mostra a base de dados do INE.

Melhoria interrompida no sentimento económico português

O instituto explica ainda que, de uma forma geral, o indicador de clima da economia portuguesa como um todo (empresários e consumidores) “estabilizou em julho, suspendendo o movimento ascendente observado nos três meses anteriores”.

“Os indicadores de confiança diminuíram nos Serviços e na Construção e Obras Públicas, tendo aumentado na Indústria Transformadora e no Comércio”.

Segundo o INE, “o indicador de confiança dos Serviços diminuiu em julho, após ter aumentado em maio e junho, verificando-se contributos negativos dos saldos das apreciações sobre a atividade da empresa e das perspetivas relativas à evolução da procura, tendo as opiniões sobre a evolução da carteira de encomendas contribuído positivamente”.

“Na Indústria Transformadora, o indicador de confiança aumentou entre fevereiro e julho, tendo as opiniões sobre a evolução da procura global e as perspetivas de produção contribuído positivamente” e no Comércio “também aumentou, após diminuir nos últimos quatro meses”, refletindo os contributos positivos da avaliação sobre vendas e stocks, explica o INE.

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