O ministro da Habitação afirmou esta terça-feira (30), no parlamento, que não decretou “que as rendas em Portugal a partir de agora vão ser de 2.300 euros”, realçando que se mantêm todos os benefícios para rendas mais baixas.A medida anunciada há dias pelo Governo que cria uma “renda de valor moderado”, até 2.300 euros, aqueceu o debate na Comissão Parlamentar de Infraestruturas, Mobilidade e Habitação, com críticas à esquerda e perguntas à direita.“Não decretámos que as rendas em Portugal a partir de agora vão ser de 2.300 euros”, vincou o ministro das Infraestruturas e Habitação, Miguel Pinto Luz, na audição regimental na Assembleia da República.“Não acabámos com os benefícios”, acrecsentou, sublinhando que o Programa de Arrendamento Acessível (PAA) se mantém nos mesmos moldes. “Acabou o nome [renda acessível], mas não acabaram os benefícios”, reafirmou.Pinto Luz esclareceu ainda que “nas regiões de maior pressão, entenda-se Lisboa, Porto, Cascais, Oeiras”, o Governo será “absolutamente justo” do ponto de vista social. “Não estamos a fazer estes benefícios para o luxo, não estamos a fazer estes benefícios para o último percentil, não estamos a fazer estes benefícios para o último quadril”, assegurou.“Estamos a fazer estes benefícios para a classe média”, reconheceu. E, antecipando que o questionariam sobre que classe média tem a possibilidade de gastar 2.300 com a renda de casa, acrescentou: “Eu não quero viver neste país onde continuamos a dizer que cinco mil euros por mês de agregado familiar de marido e mulher são ricos. Não são ricos. E nós também fazemos políticas para eles. Fazemos políticas para todos.”Com a adoção da “renda de valor moderado”, o Governo quis “simplificar” porque “na área da habitação ninguém se entende”, notou o ministro.Os esclarecimentos não satisfizeram a esquerda parlamentar, ainda que em doses diferentes.O PS, através do deputado Humberto Brito, admitiu que a medida anunciada “não altera nada de substancial”, mas assinalou que “incendiou ainda mais um mercado já quente e esse não é o papel do ministro da Habitação”.Isto porque o Governo “transmitiu sinais errados ao mercado”, no sentido em que expressa que “considera aceitável e normal que em Lisboa a classe média pague 2.300 eros de renda” e, consequentemente, essa normalização “irá levar a que os proprietários possam aumentar as rendas” nesse mercado.Já o Livre, pelo deputado Jorge Pinto, disse que gostava “que fosse realidade que um casal que ganha 5.000 euros fosse classe média” e apelou ao ministro: “Saia da sua bolha, vá ao encontro daquilo que é a realidade portuguesa.”Pelo PCP, Paula Santos manifestou “estupefação” face ao novo conceito de renda de valor moderado, “uma ofensa para os trabalhadores”.O ministro voltou a dizer que 2.300 euros “é o teto” e que quer garantir que as famílias que pagam abaixo “estão todas apoiadas”, acusando o PCP de criar “uma realidade alternativa”.A medida – elencou – “abrange muito mais escalões e muito mais famílias”, tendo presente que “há mais famílias com problemas de habitação” e pretende “apoiar todos os que precisam e não só os que mais precisam”.O ministro confia que “o mercado vai funcionar” e questionou os deputados: “Por nós, agora termos um teto a partir do qual não temos benefício fiscal, uma renda em Oleiros vai passar a ser 2.300 euros? (…) Não brinquemos com os portugueses. Esta medida vai a todos”.Pinto Luz disse não perceber a reação à medida como “a mais imoral e injusta”, considerando-a até “uma excitação do momento”, quando se tratou apenas de “simplificar todas as fórmulas que existem” numa só.“A medida é clara, simples, poucas fórmulas e que abranja o território nacional todo e o maior número de rendas possível”, referiu.Sobre os detalhes da medida, o ministro disse que “o processo está a ser ultimado”, deixando o compromisso: “Mal tenhamos o projeto fechado claro que partilharemos, claro que vamos discutir.”.Lei da Habitação: Conheça todas as mexidas anunciadas pelo Governo.Medidas para a habitação. "Queremos abanar o mercado da construção e do arrendamento", diz Montenegro