A BlackRock olha para Portugal com “bons olhos” e regista que o mercado de capitais português tem um potencial em que se equipara a Espanha, à frente dos congéneres europeus. Por outro lado, a IA não está numa “bolha” de investimentos.Quem o diz é o responsável pelo negócio da BlackRock em Portugal, André Themudo. Numa reunião com jornalistas realizada em Lisboa, o próprio traçou perspetivas para 2026 sobre os mercados mais promissores, tendo deixado nota de que a BlackRock se mantém otimista sobre o caso português.O evento é organizado pela gestora de ativos duas vezes por ano. Ali, são partilhadas perspetivas de alocação de ativos e perspetivas económicas. A reunião teve por base um relatório elaborado pelo BlackRock Investment Institute, formado por mais de 100 macroeconomistas e gestores de fundos da empresa.O otimismo sobre Portugal tem como ponto de partida a perspetiva sobre os mercados europeus. Nestes, explica, há “três setores de que gostamos: financeiro, infraestruturas e saúde”. Ora, de acordo com a BlackRock, os mercados acionistas ibéricos contam com representação significativa dos mesmos, pelo que vê potencial em Portugal e Espanha. Na origem desta avaliação à economia nacional estão o "crescimento acima da média da zona euro, baixa inflação face aos países pares e mercado acionista dinâmico", a que junta um cenário estabilidade política e o setor do turismo como motor do crescimento, esclarece.No que diz respeito a Portugal e ao mercado português, "continuamos positivos", já que se trata de "um caso de resiliência macroeconómica", aponta o responsável da BlackRock no país.Por outro lado, há "desafios", num cenário de "dívida pública ainda elevada, envelhecimento demográfico e ganhos de produtividade modestos em alguns setores de atividade". Neste contexto, o quadro é "bastante positivo para Portugal e Espanha, mas exige uma gestão prudente e reformas contínuas", assinala.Rejeita ideia de bolha na IA, mas... "nem tudo o que reluz é ouro"O especialista aponta fenómenos como a digitalização da economia e transição energética como "megaforças", que são estruturais, isto é, vieram para ficar a longo prazo. Em todo o caso, "no centro" está a Inteligência Artificial, que "está a tornar a tecnologia muito mais intensiva em capital", lembra, citando estimativas que apontam para investimentos de 5 a 8 biliões de dólares até 2030, à escala global. De resto, a IA mexe com as economias, mercados de capitais, energia e geopolítica, pelo que é "o principal motor das ações americanas", salienta.Assim sendo, André Themudo não acredita que exista uma "bolha na IA". Em causa está uma eventualidade que no passado recente foi levantada por vários especialistas, como é o caso do CEO da Alphabet (dona da Google), Sundar Pichai. Este alertou, em novembro, para aquilo que interpreta como “irracionalidade” em investimentos no setor.Assim sendo, a BlackRock antecipa que a IA "vai continuar a ser tema dominante em 2026" e mantém uma posição 'pro-risco', à semelhança do que assumiu no ano passado e em meados de 2025. Neste âmbito, sublinha a importância de "diferenciar entre vencedores e produtores", visto que "nem tudo o que reluz é ouro".Em causa está a ideia de que "cada vez mais estamos num ambiente de gestão ativa", em que se procura superar o comportamento do índice S&P 500. O cenário, diz, é mais favorável a esta abordagem do que à opção de investir em ETFs. Estes são fundos de investimento que reúnem títulos de várias empresas e dizem respeito a uma abordagem passiva, sendo que permitem diversificar a carteira com baixo investimento.O próprio refere três vertentes que diz serem prioridades claras para os países europeus, no que diz respeito a reformas estruturais. São elas a defesa (com aumentos no investimento), energia (mais barata e mais segura, através de investimento em renováveis, redes e simplificação de licenciamentos) e mobilização da poupança. "Na Europa existem mais de 14 biliões de euros parados em depósitos, que geram pouco ou nenhum rendimento", salienta a respeito deste último tópico.Blackrock antevê juros a estabilizarem no ano de 2026Outro tema em cima da mesa foi o cenário económico global, nomeadamente o futuro das taxas de juro de referência. No caso do Banco Central Europeu, André Themudo não vê espaço para novos cortes, pelo que espera a manutenção dos juros (entre 2% e 2,25%).No que diz respeito à Reserva Federal dos EUA o especialista antecipa um a dois cortes de 25 pontos base até ao final de 2026. André Themudo sublinhou que a previsão se mantinha, independentemente de um provável corte, horas depois da reunião. O cenário viria a confirmar-se, ainda na quarta-feira, com a Fed a baixar as taxas em 25 pontos, para 3,5% a 3,75%. Dito isto, o especialista espera agora a manutenção dos juros ou uma descida de 25 pontos base até final do próximo ano."Achamos que não há tanto campo para descer como, se calhar, o mercado antecipa". Olhando para 2026, o próprio reitera a existência de "várias oportunidades" e olha para os mercados dos EUA, Japão e ĺndia como positivos, a par da periferia europeia, que engloba Portugal e Espanha..BlackRock aliena 7,1% da Naturgy em operação de 1,7 mil milhões