
Os economistas já produziram muitas teorias sobre como aumentar a produtividade, mas o que uma investigação recente sobre o tema indica é que, afinal, ela depende essencialmente da dinâmica de um pequeno grupo de empresas excecionais, que obrigam os concorrentes a reagir. Com efeito, “menos de 100 empresas são responsáveis por dois terços do crescimento da produtividade no universo analisado de 8.300 grandes empresas na Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos”, revela um estudo do McKinsey Global Institute (MGI), a que o DN teve acesso.
Não quer isso dizer que o conjunto das restantes empresas avançadas não contribuam igualmente para o crescimento da produtividade, mas as diferenças no seu impacto são esmagadoras, conclui o aquele estudo, que se assume como disruptivo na abordagem académica sobre a produtividade. Isto porque esse pequeno grupo de empresas que sobressaem dão um contributo de 90% para o aumento da produtividade. As ‘extraordinárias’ são as que acrescentam pelo menos um ponto base à produtividade nacional.
Mas em que consiste então esse toque de Midas de meia dúzia de empresas capaz de impactar de forma tão dramática a produtividade nacional? A nível global, o estudo aponta casos que corroboram estas conclusões, destacando que “o crescimento da produtividade acontece em momentos de forte aceleração, quando as empresas encontram novos modelos de criar e escalar valor”. Exemplos disso são a Apple, ao expandir-se para os serviços, a easyJet, ao moldar o setor da aviação low-cost, e a Zalando, ao liderar o e-commerce de vestuário. “Este tipo de crescimento não corresponde à transformação gradual da eficiência nem à difusão progressiva descritas pela visão convencional”. Em Portugal é igualmente conhecido o impacto desproporcional de uma só empresa, a Wolkswagen Autoeuropa, para a aprodutividade nacional.
“A maior parte do crescimento da produtividade provém de apenas algumas empresas que tomam decisões ambiciosas — a que chamamos de Standouts (extraordinárias)”, afirma Chris Bradley, sócio sénior da McKinsey e diretor do McKinsey Global Institute. “Ao contrário do que se pensa, não é o crescimento moderado de várias empresas que faz a diferença, mas sim o grande crescimento de algumas”, assevera.
Isto acontece, nomeadamente, porque quando as empresas se tornam mais produtivas, as economias também crescem. E aumentar o valor criado por cada trabalhador impulsiona não só os salários, mas também os lucros das empresas. Estes são factos bem conhecidos entre os economistas — mas as restantes conclusões deste relatório nem tanto.
“Na verdade, as empresas com níveis excecionais de produtividade têm pouco em comum. O que as une é o facto de todas conseguirem criar propostas de valor e modelos de negócio superiores através de estratégias ambiciosas. Fazer as coisas de forma eficiente é importante, mas fazê-las de forma diferente é muito mais determinante”, considera também Jan Mischke, sócio do MGI.
Por isso, aquele responsável defende o reforço do conhecimento sobre estes casos.“Concentrar a análise nas empresas e realizar case studies aprofundados sobre o que distingue as Standouts oferece-nos uma nova perspetiva sobre como a produtividade é gerada e exige uma nova forma de pensar. Um novo modelo de atuação deveria, provavelmente, focar-se mais no poder de poucas empresas do que num grande número, mais na criação de valor do que na mera eficiência, e na realocação de recursos para os negócios que lideram”.
Quando comparados os casos dos Estados Unidos com os da Europa, o estudo confirma a sua tese, atribuindo a alta produtividade ao papel das empresas locomotiva, que contribuem em 50% para o aumento da produtividade nacional.Já na Alemanha e no Reino Unido, “o fraco desempenho persistente de algumas empresas foi um entrave ao crescimento”, refere o estudo. O estudo incidiu sobre empresas do setor automóvel, aviação, retalho, viagens e tecnologias.
“Esta análise às empresas ajuda a explicar porquê que os Estados Unidos lideram face às principais economias europeias neste tópico”, afirma Olivia White, sócia sénior da McKinsey e diretora do MGI. “Nos Estados Unidos, quase metade do aumento da produtividade resulta do crescimento de empresas altamente produtivas em detrimento de outras menos produtivas que acabam por se reestruturar ou abandonar o mercado. Nas duas economias europeias analisadas, Alemanha e Reino Unido, o panorama é mais estático e as empresas com fraca produtividade tendem a manter-se, travando o progresso. Ao longo de um período de dez anos, as novas empresas praticamente não contribuem para o crescimento da produtividade”, sustenta aquela executiva.
Os autores do estudo The Power of one: How Standout Firms Grow National Prodductivity defendem que esta nova perspetiva sobre o crescimento da produtividade exige um novo modelo de atuação. “A prioridade deve passar por potenciar o impacto das empresas líderes, focar-se na criação de valor mais do que na mera eficiência e na realocação de recursos para as empresas que lideram”.