Santos Pereira critica Centeno em várias frentes

Futuro governador do Banco de Portugal foi contundente nas críticas ao seu antecessor na audição parlamentar. Garantiu independência e defendeu necessidade de rigor fiscal num clima de incerteza.
Álvaro Santos Pereira foi indigitado como novo governador do Banco de Portugal.
Álvaro Santos Pereira foi indigitado como novo governador do Banco de Portugal.MIGUEL A. LOPES/LUSA
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Foi um Álvaro Santos Pereira contundente, que se apresentou esta quarta-feira à Assembleia da República como futuro governador do Banco de Portugal (BdP). Garantiu que terá máxima independência no exercício do cargo, seja qual for o Governo que esteja em funções e também com a banca. E criticou opções do seu antecessor, no passado, assim como se pronunciou sobre as decisões pessoais de Mário Centeno para o futuro.

Numa audição parlamentar, que é parte do processo de indigitação, em que se abordou o polémico tema da construção da nova sede do BdP (as Finanças pediram uma auditoria), o ex-ministro da Economia de Passos Coelho disse aos deputados que, ao contrário de Centeno, não aprovaria decisões “estruturantes” como a construção de uma nova sede nos últimos dias de mandato, assim como não reconduziria um chefe de gabinete que, agora, informou, vai ser dispensado.

Mas as críticas não se esgotaram aqui. Questionado sobre o futuro do seu antecessor, Mário Centeno, também não foi neutral. Apesar de afirmar não saber o que Centeno vai fazer no futuro próximo, por disso ainda não ter sido informado, garante que se estivesse na sua posição, tendo sido governador e não tendo sido reconduzido não permaneceria no banco, mesmo como consultor da administração, um cargo em que se mantém um salário quase equivalente. “Eu sei o que eu faria: eu sendo governador, nunca ficaria no banco depois de ser governador – mas cada um faz o que quer”. Outros ex- governadores, como Vítor Constâncio e Carlos Costa, não continuaram no banco após o fim dos mandatos.

Ainda sobre a tónica da independência partidária, o até à data economista-chefe da OCDE reiterou que, com ele como governador, o Banco de Portugal não irá admitir que os seus quadros tenham um “envolvimento na política ativa”.

O governador indigitado defendeu em 2011, num livro que publicou sobre a economia portuguesa, a necessidade de conhecer a filiação partidária das pessoas que vão para cargos públicos. Esta quarta-feira disse que não vai perguntar a filiação partidária a ninguém mas defendeu, claramente, que quem está no Banco de Portugal “não deve estar envolvido em política ativa”. “Eu sempre fui e sempre serei ferozmente independente, é a minha natureza”. Ao criticar o “despesismo” do então governo do PS que levou à “bancarrota”, Santos Pereira gerou protestos de deputados do PS, que questionaram a sua própria independência, alegando que também Mário Centeno não era militante do PS.

Sobre as perspetivas para a economia portuguesa, Álvaro Santos Pereira antecipou taxas de juro estáveis e defendeu disciplina na política fiscal.

O ex-ministro alertou para uma série de riscos para a economia mundial e nacional e salientou que “é essencial manter a disciplina fiscal nos próximos anos”, para ter “margem de manobra”.

Enumerou riscos orçamentais, de crises financeiras nos países menos desenvolvidos e emergentes e também relacionados com os criptoativos. E disse ter “os necessários recursos técnicos, de gestão e diplomáticos para o exercício das funções do Governador de Portugal e de membro do Conselho da Governação do Banco Central Europeu. com LUSA

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