Sete em cada dez empresas usam IA e Realidade Virtual para selecionar pessoal

Máquinas já entrevistam candidatos, mas só 38% se sentem confortáveis com isso. IA seleciona milhares de CV em minutos, enquanto o Metaverso aproxima colegas e melhora a formação.
Sete em cada dez empresas usam IA e Realidade Virtual para selecionar pessoal
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É muito provável que a sua próxima entrevista de emprego ou a dos seus filhos seja realizada por Inteligência Artificial (IA) sem lugar a interação com humanos. Não é ficção científica. “Sete em cada dez organizações em todo o mundo já utilizam a IA, a Realidade Virtual (RV) ou Machine Learning (ML) nos seus processos de recrutamento ou planeiam fazê-lo no espaço de três anos”. As conclusões são de um estudo da Experis Immersive Tech, um departamento do grupo Manpower para as Tecnologias de Informação, sobre ‘Como a IA e a RV vão transformar o mercado de trabalho’. Segundo aquele inquérito, enquanto 72% das empresas já usam o ChatGPT ou planeiam fazê-lo nos próximos três anos, 71% dizem o mesmo para a IA conversacional e para a IA geral e quase dois terços usam a realidade virtual ou estão em vias de o fazer.

“Não dá mais para tapar o sol com a peneira, isto está a acontecer a grande velocidade e na Manpower Portugal já usamos ferramentas inteligentes para recrutar talento há pelo menos uma década”, disse Pedro Amorim, diretor de vendas corportivas, ao DN/Dinheiro Vivo. As novas tecnologias estão a abrir caminho para uma nova era da gestão do talento, seja com o Machine Learning, realidade aumentada, blockchain ou ferramentas de IA Conversacional (tais como o ChatGPT). “Todas têm potencialidades em todo o ciclo dos Recursos Humanos que as empresas não podem perder”, dizem os autores do estudo.

É fácil imaginar as vantagens da IA para as empresas que recebem centenas ou milhares de candidaturas a postos de trabalho. Em breves minutos, a máquina analisa os CV e faz o match (correspondência) entre as competências e o perfil desejado, o que levaria semanas ou meses a fazer, dependendo do pessoal afeto a essa tarefa.

“Não só se ganha tempo, como se poupa pessoal e até se pode garantir menos preconceito e juízos pessoais subjetivos na seleção de uma pessoa em detrimento de outra”, aponta Pedro Amorim, como característica a favor. Importa, no entanto, garantir que o sistema de IA não reproduz vieses e preconceitos que constem do histórico de recrutamento da organização, sejam eles de género, de idade, etnia ou outros.

Se é verdade que o automatismo já é usado para a primeira triagem de candidaturas há algum tempo, só agora está a entrar na fase das entrevistas aos candidatos, pelo menos, até ao nível anterior à conversa final. Mas a maioria dos candidatos a uma oferta de emprego sente-se desconfortável com a eliminação da interação humana em todas as fases do processo de recrutamento, indica o inquérito da Manpower. “Só 38% dos candidatos se sentem confortáveis em ter uma candidatura inteiramente revista por IA”. Mas quase 60% dos profissionais estão abertos a experiências com Realidade Virtual, por exemplo, em feiras de emprego. E 51% dizem não se importar do convívio com a IA nas fases iniciais do processo.

Do mesmo modo que as empresas tiram partido da IA, também os candidatos o fazem, nomeadamente para construirem o seu CV. “Para cada organização que usa IA para ler um CV, é provável que haja um candidato que a use para escrever um. A nossa investigação sugere que os candidatos estão muito confortáveis com a ideia de usar a IA para os ajudar”.

O curioso é que “os recrutadores também já conseguem identificar os CV feitos pela IA, normalmente são demasiado clean e às vezes até subvalorizam o candidato, por falta de indicadores de qualidades humanas”, refere Pedro Amorim. Por tudo isto, a vantagem das tecnologias é mais a complementaridade com os humanos do que a mera substituição. As competências humanas, “as chamadas soft skills são sempre precisas e cada vez mais valorizadas, como a qualidade das relações interpessoais, comunicação eficaz ou a resistência ao stress”.

Em jeito de conclusões, os autores do estudo acreditam que a IA transformará algumas etapas do processo de recrutamento, mas não todas. “Partes do processo, como a correspondência correta entre os candidatos e as funções, poderiam ser totalmente automatizadas num futuro não muito distante. Para outras partes, como as entrevistas finais, os candidatos ainda preferem a interação humana”.

As novas tecnologias nas organizações vão muito além do recrutamento, podendo desempenhar também um papel importante na formação. “Em alguns cenários, o Metaverso pode proporcionar uma experiência de formação mais eficaz do que as ferramentas digitais convencionais, como o PowerPoint – e os colaboradores aprendem mais do que aprenderiam numa sala de aula”, diz o relatório.

Por outro lado, “o Metaverso pode ajudar a reduzir o fosso digital criado pelo trabalho remoto e flexível. Em comparação com as videochamadas correntes, um espaço de trabalho virtual como o ManpowerGroup Experience Hub, pode dar uma impressão real da cultura da empresa e aproximar colegas a nível global”, refere ainda a análise da Experis.

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