É muito provável que a sua próxima entrevista de emprego ou a dos seus filhos seja realizada por Inteligência Artificial (IA) sem lugar a interação com humanos. Não é ficção científica. “Sete em cada dez organizações em todo o mundo já utilizam a IA, a Realidade Virtual (RV) ou Machine Learning (ML) nos seus processos de recrutamento ou planeiam fazê-lo no espaço de três anos”. As conclusões são de um estudo da Experis Immersive Tech, um departamento do grupo Manpower para as Tecnologias de Informação, sobre ‘Como a IA e a RV vão transformar o mercado de trabalho’. Segundo aquele inquérito, enquanto 72% das empresas já usam o ChatGPT ou planeiam fazê-lo nos próximos três anos, 71% dizem o mesmo para a IA conversacional e para a IA geral e quase dois terços usam a realidade virtual ou estão em vias de o fazer.“Não dá mais para tapar o sol com a peneira, isto está a acontecer a grande velocidade e na Manpower Portugal já usamos ferramentas inteligentes para recrutar talento há pelo menos uma década”, disse Pedro Amorim, diretor de vendas corportivas, ao DN/Dinheiro Vivo. As novas tecnologias estão a abrir caminho para uma nova era da gestão do talento, seja com o Machine Learning, realidade aumentada, blockchain ou ferramentas de IA Conversacional (tais como o ChatGPT). “Todas têm potencialidades em todo o ciclo dos Recursos Humanos que as empresas não podem perder”, dizem os autores do estudo.É fácil imaginar as vantagens da IA para as empresas que recebem centenas ou milhares de candidaturas a postos de trabalho. Em breves minutos, a máquina analisa os CV e faz o match (correspondência) entre as competências e o perfil desejado, o que levaria semanas ou meses a fazer, dependendo do pessoal afeto a essa tarefa.“Não só se ganha tempo, como se poupa pessoal e até se pode garantir menos preconceito e juízos pessoais subjetivos na seleção de uma pessoa em detrimento de outra”, aponta Pedro Amorim, como característica a favor. Importa, no entanto, garantir que o sistema de IA não reproduz vieses e preconceitos que constem do histórico de recrutamento da organização, sejam eles de género, de idade, etnia ou outros.Se é verdade que o automatismo já é usado para a primeira triagem de candidaturas há algum tempo, só agora está a entrar na fase das entrevistas aos candidatos, pelo menos, até ao nível anterior à conversa final. Mas a maioria dos candidatos a uma oferta de emprego sente-se desconfortável com a eliminação da interação humana em todas as fases do processo de recrutamento, indica o inquérito da Manpower. “Só 38% dos candidatos se sentem confortáveis em ter uma candidatura inteiramente revista por IA”. Mas quase 60% dos profissionais estão abertos a experiências com Realidade Virtual, por exemplo, em feiras de emprego. E 51% dizem não se importar do convívio com a IA nas fases iniciais do processo.Do mesmo modo que as empresas tiram partido da IA, também os candidatos o fazem, nomeadamente para construirem o seu CV. “Para cada organização que usa IA para ler um CV, é provável que haja um candidato que a use para escrever um. A nossa investigação sugere que os candidatos estão muito confortáveis com a ideia de usar a IA para os ajudar”.O curioso é que “os recrutadores também já conseguem identificar os CV feitos pela IA, normalmente são demasiado clean e às vezes até subvalorizam o candidato, por falta de indicadores de qualidades humanas”, refere Pedro Amorim. Por tudo isto, a vantagem das tecnologias é mais a complementaridade com os humanos do que a mera substituição. As competências humanas, “as chamadas soft skills são sempre precisas e cada vez mais valorizadas, como a qualidade das relações interpessoais, comunicação eficaz ou a resistência ao stress”.Em jeito de conclusões, os autores do estudo acreditam que a IA transformará algumas etapas do processo de recrutamento, mas não todas. “Partes do processo, como a correspondência correta entre os candidatos e as funções, poderiam ser totalmente automatizadas num futuro não muito distante. Para outras partes, como as entrevistas finais, os candidatos ainda preferem a interação humana”.As novas tecnologias nas organizações vão muito além do recrutamento, podendo desempenhar também um papel importante na formação. “Em alguns cenários, o Metaverso pode proporcionar uma experiência de formação mais eficaz do que as ferramentas digitais convencionais, como o PowerPoint – e os colaboradores aprendem mais do que aprenderiam numa sala de aula”, diz o relatório.Por outro lado, “o Metaverso pode ajudar a reduzir o fosso digital criado pelo trabalho remoto e flexível. Em comparação com as videochamadas correntes, um espaço de trabalho virtual como o ManpowerGroup Experience Hub, pode dar uma impressão real da cultura da empresa e aproximar colegas a nível global”, refere ainda a análise da Experis.