O Canadá é o segundo maior país do mundo e tem a terceira maior reserva de petróleo, além de gás natural, minérios e floresta. Abençoado com recursos naturais, soube aproveitá-los como poucos, ao longo do século XX, e isso evidencia-se ainda hoje. No setor da energia, a Cenovus Energy fatura $52bn por ano, a Suncor, $46bn, e a Imperial Oil, $42bn. Em termos de Market Cap, quem lidera é a Embridge Inc., com $74bn, seguida da Canadian Natural Resources Limited, com $62bn. Na agricultura, o país produz e exporta grãos, sementes oleaginosas, carnes, lacticínios, produtos hortícolas, entre outros. Com $10bn de receitas, a J. D. Irving destaca-se nesta área; sendo que na alimentação e bebidas, merecem particular destaque a McCain Foods, a Agropur Dairy Cooperative e, claro, a Maple Leaf Foods. No retalho, entre as maiores companhias figuram os supermercados Loblaws e Sobeys, merecendo igualmente referência a cadeia de lojas de conveniência Couche-Tard, com receitas anuais de $51bn. Nos serviços financeiros, podemos falar do Royal Bank of Canada ($136bn), Toronto-Dominion Bank ($119bn), entre vários outros que claramente se impõem na região e inclusive além-fronteiras. A todos estes setores se acrescenta um forte tecido empresarial nas ciências e tecnologias, abrangendo desde farmacêuticas a informática e tecnologia de ponta. Além de uma academia que já se notabilizou com escolas de pensamento, como é o caso da Escola de Teoria da Comunicação da Universidade de Toronto, onde lecionaram Harold Innis e Marshall McLuhan..Assim se percebe porque muitos ainda veem no Canadá um bastião do ocidente - uma espécie de EUA alternativo, mais requintado, civilizado, polido, onde o espírito capitalista se verga à boa educação. Mas, será mesmo assim? Ou será que todas as maravilhas que referimos não passam, afinal, de vestígios do passado? Um canto do cisne, talvez, no qual já se vislumbra o grasnar de uma sociedade em colapso..Se olharmos apenas ao crescimento do PIB (algo bem diferente do PIB real), o Canadá tem sido mais resiliente, nos últimos anos, que as restantes economias do G7 - com exceção dos EUA. No entanto, este dado isolado não reflete uma autêntica prosperidade económica, já que o nível de vida dos seus cidadãos tem baixado consideravelmehttps://www.numbeo.com/property-investment/rankings_by_country.jsp?title=2023-mid®ion=019&displayColumn=0nte. E o problema vem de trás. No início dos anos 1980, o PIB real per capita do Canadá estava $4,000 acima da média das economias avançadas e relativamente equiparado aos EUA. Em 2000, os EUA ultrapassaram o Canadá por mais de $8,000. Entretanto, desde o choque petrolífero de 2014-15 que esta realidade tem ido de mal a pior; tendo o PIB real do país crescido a um parco ritmo de 0,4% ao ano, uma taxa significativamente menor à média das economias avançadas, que foi de 1,4%. Dentre outros fatores, têm contribuído para este pobre cenário a diminuição da mão-de-obra qualificada e eficaz, bem com a redução drástica do investimento em inovação. Em 2021, a despesa canadiana em I&D representava cerca de 1,7% do PIB, cerca de metade da dos EUA e Japão, enquanto a Grã-Bretanha e a Alemanha ultrapassavam os 2,5%. Não admira, portanto, que a consultora PwC relegue o país para um modesto 22º lugar no ranking do PIB, nas suas projeções para 2050. A meu ver, até está a ser otimista. Mas, os canadianos aceitam tudo isto sem tossir nem mugir. Educadamente, como é seu apanágio. Só não sabemos até quando..Alguém se lembra de a qualidade de vida no Canadá andar ela por ela com a dos EUA? Pois... hoje em dia, nem por sombras..De acordo com a maior base de dados sobre custo de vida, NUMBEO, o índex de poder de compra dos canadianos (90,9) está mais próximo do dos espanhóis (83,6) que dos estadunidenses (117,7). No que respeita o preço das casas, o ratio propriedade/rendimentos, nos EUA, é de 4,2; ficando o Canadá(9,6) atrás de Puerto Rico (4,9), Honduras (8,5), México (8,6) e Costa Rica (9,2). E caso pertencesse ao velho continente, ocuparia o 14º lugar, atrás da Espanha, Bulgária e Itália. Em grande parte, isto deve-se ao rendimento líquido dos canadianos que, em conjunto com outros fatores (por exemplo, inflação), lhes vem retirando poder de compra, ao mesmo tempo que o custo de vida se mantém ou piora. Ora, por detrás disto, que outra coisa poderia estar senão a mão intrusiva do Estado?.O rendimento anual médio de uma família canadiana é de $91,535. Nada mau, à primeira vista. Não fora o facto de esta pagar $39,000 em impostos (42,6%); além de outras contribuições fiscais que se vão acumulando no dia-a-dia. Enfim, uma loucura sem fim à vista. Mas, a educação canadiana tudo parece perdoar com zelo evangélico. Afinal, as contribuições e impostos são apenas uma singela amostra do intervencionismo estatal no seu todo. Nos últimos anos, o governo de Trudeau tem transformado o país num autêntico laboratório de engenharia social - uma realidade que só os jornalistas e media conservadores andam a reportar, como é o caso de Steven Edginton do The Telegraph..No seu recente documentário, Canada"s woke nightmare: A warning to the West, Edginton começa por entrevistar Aaron Gunn, ativista anti-drogas e autor de Vancouver is Dying . O cenário parece alarmante. Nos últimos 10 anos, e sobretudo desde que a província de Colúmbia Britânica liberalizou as drogas duras, incluindo heroína, cocaína e fentanil, a criminalidade tornou-se galopante, multiplicaram-se os sem-abrigo e as overdoses aumentaram mais de 1000%. Tal acontece, não somente devido à liberalização, mas às próprias estruturas de apoio a toxicodependentes que, por laxismo ou negligência, em vez de os recuperar, os mantêm no vício..O segundo entrevistado de Edginton é Chris Elston, mais conhecido por Billboard Chris, por andar pelas ruas de Vancouver com um cartaz recheado de frases contra a ideologia de género. Em particular, contra cirurgias de transição em menores. E pronto. Lá se vai a polidez canadiana. Só o facto de Chis considerar os aspetos ideológicos da gender theory, faz saltar a tampa a um transeunte. Sem argumentos, apenas revolta, o transeunte diz que é queer, como se tal coisa acabasse de vez com a discussão. Ao lado,.entretanto, está um senhor - por sinal, gay - que acaba por ser a voz do bom senso. O seu argumento é muito simples: Se, no seu tempo, a sociedade pressionasse os homens mais efeminados a mudar de sexo na adolescência, ele possivelmente teria cedido e tomado a decisão da qual mais se arrependeria para o resto a vida..Contudo, a entrevista mais chocante do documentário é, sem dúvida, com Christine Gauthier, veterana do exército e ex-campeã paraolímpica. Após 10 anos de serviço nas Forças Armadas Canadianas, teve um acidente grave numa trincheira e ficou paraplégica. Teve ainda força mental e anímica para vencer o campeonato mundial paraolímpico de kayak, por cinco vezes. Mas, foi completamente abandonada pelo estado social canadiano, no seguimento da privatização dos serviços de apoio aos veteranos. Agora, só lhe renovam a cadeira de rodas a cada 12 anos (antes, era a cada 5). A renovação do elevador interno da casa (para que possa descer as escadas) também está sempre a adiar-se. Nada funciona. Está tudo perro e a cair aos pedaços..Em desespero, Christine procurou ajuda nos referidos serviços. E qual foi a solução que lhe deram? Esta: "Minha senhora, se não consegue aguentar mais, você tem o direito a morrer". Ora, aqui está a verdadeira face da eutanásia; nada mais que uma solução eugenista para a sustentabilidade do Estado Social - essa aberração público-privada para quem ainda acha que há almoços grátis..Christine lamenta e chora. Mas, como boa canadiana, nunca perde a educação. Talvez seja este o problema, sustenta Jordan Peterson. Por mais notável que tenha sido o país, torna-se inevitável que venha a cair no abismo tirânico. Afinal, é isso que acontece sempre que um bando de psicopatas se depara com um povo disposto a tudo, menos a ser desagradável. Eis o calcanhar de Aquiles do Canadá: pouco se importa com o Triunfo dos Porcos, desde que, educadamente, estes lhe peçam licença..Economista e Investidor