Seguindo o plano de expansão divulgado para 2025, o grupo hoteleiro português Torel Boutiques acaba de inaugurar a sua primeira unidade fora de Portugal continental. O cinco estrelas Torel Terra Brava, na Ilha Terceira, é a aposta da empresa fundada por João Pedro Tavares para ampliar a oferta dos Açores como destino de luxo.Instalado num prédio no centro histórico de Angra do Heroísmo, onde antes funcionava o quatro estrelas Zenite, o Terra Brava resulta de um investimento de 2,2 milhões de euros do grupo, que ainda espera o resultado de uma candidatura a fundos europeus. "Se vai ter ou não, não sei. Não ficámos à espera deles sentados, avançámos com fundos próprios, com apoio da banca, e fizemos um investimento grande para a dimensão do que é normal fazer-se aqui na Ilha", revela o CEO numa conversa com jornalistas convidados para a inauguração.A estrutura do prédio - um solar do século XVIII destruído no terremoto de 1980 que devastou Angra, posteriromente reabilitado para a instalação do hotel Zenite - foi reformada em apenas três meses. O projeto é assinado pelo escritório portuense Nano Design, parceiro do Torel em outras unidades, e pelo arquiteto José Parreiro, profissional terceirense que esteve envolvido na anterior recuperação do solar. "Ele é local, é daqui da Ilha, e nós tentamos privilegiar sempre isso", diz João Pedro Tavares. ."Espelho" localO Torel Terra Brava assume-se como um hotel que quer ser "um espelho da qualidade local", afirma ao DN/Dinheiro Vivo Ingrid Koeck, sócia e responsável de comunicação do grupo. Num empreendimento com 44 quartos, bar, restaurante, sauna, spa, piscina e ginásio, o domínio é dos produtos açorianos, desde as amenities das casas de banho - todas da empresa de cosméticos Bam and Boo, sediada em São Miguel - às louças da também micaelense Cerâmicas Vieira da Lagoa ou da terceirense Olaria de São Bento."A nossa filosofia em todos os sítios é de mostrar o melhor do que já está cá, não fazemos coisas novas", explica Ingrid Koeck. "E somos muito mais locais neste projeto que nos outros. Normalmente, por exemplo, temos sempre nos nossos hotéis vinhos portugueses, porque a 'portugalidade' está no centro de tudo o que fazemos, mas aqui mostramos mesmo os vinhos dos Açores, da Terceira", completa, ressaltando também que a cozinha privilegia os produtos mais tradicionais da ilha. No pequeno almoço, por exemplo, destaca-se entre os pães o bolo lêvedo, os sabores das compotas de figo e ananás combinam na perfeição com os queijos açorianos, e há ainda os Dona Amélia e os Caretos a completar a doçaria..Esta aposta em refletir o que há de melhor nos Açores também passa por estimular nos portugueses uma maior valorização da região. "Nós pretendemos mostrar o valor destes tesouros. Claro que temos outros turistas, americanos, internacionais, mas esperamos que os portugueses possam ver este valor", pontua Koeck."Destino único". Alguns percalçosAbrir uma unidade nos Açores já estava nos planos para 2025, diz a sócia, mas a escolha da ilha ainda era um ponto a ser definido. A Terceira "surgiu como uma oportunidade", explica Ingrid Koeck, ressaltando que, agora, o grupo "está a descobrir [a ilha] ao mesmo tempo" que os hospédes."Todas as outras [ilhas], em coisas naturais, são todas lindas, não é? Mas esta tem uma característica que mais nenhuma tem, que é ser património da humanidade. Angra é das cidades mais bonitas do nosso país", diz o CEO, a reafirmar a aposta na Terceira, mesmo que alguns percalços para o início das operações ainda não tenham sido totalmente superados. O principal é a contratação de trabalhadores. "Tentámos e ainda estamos a tentar contratar localmente, porque achamos que faz mais sentido. Mas é muito, muito difícil", afirma João Pedro Tavares. Segundo o CEO, quase a totalidade dos funcionários do anterior hotel - cerca de 15 - foi mantida. "Só não ficou quem não quis", pontua, revelando que estão a tentar formar um staff com cerca de 35 pessoas e que têm "estado a usar todos os meios à disposição" para o recrutamente, desde "contatos com a Câmara de Comércio, anúncios, redes sociais, boca a boca, mas não tem sido realmente fácil encontrar pessoas".Entre as posições ainda por preencher estão as três principais para o funcionamento da cozinha: a de chef, de cozinheiro de primeira e de plonger, revela o gerente do hotel, Francisco Lisboa. Por isso, o restaurante Três, que tem como consultor o chef Guilherme Spalk, detentor de uma estrela Michelin com o 2Monkeys no Torel Palace Lisbon, só deve entrar em funcionamento no final do mês.O gerente também ressalta que "há um problema sério de fornecimento na ilha", com a dificuldade para chegada de alguns produtos, algo que causou certo atraso em alguns prazos. Para o CEO, "tudo isto aqui demora mais tempo", e cita o que ainda está por chegar. "Algumas colunas de som, mesas para a receção, para a zona de entrada. Nós não estávamos habituados a isto", confessa. No entanto, João Pedro Tavares acredita que esta será também uma mais valia para o empreedimento e para os hóspedes: aprender uma nova forma de desacelerar. "A pessoa só tem stresse nos primeiros dois dias, porque depois baixa o stresse e ninguém morre por isso. É muito o espírito que nós também queremos passar às pessoas, aos nossos clientes".Durante a inauguração, a secretária regional do Turismo dos Açores, Berta Cabral, saudou a chegada do empreedimento, destacando que o setor tem tido "crescimentos na casa dos dois dígitos todos os anos", tendo alcançado os 12% em 2024. "Mas em termos de proveitos, e é aqui também que eu quero chegar, estamos a crescer muito mais. Esse é o percurso que nós queremos continuar a fazer, de sustentabilidade, de qualidade e de aumento do valor acrescentado, mais do que a quantidade de pessoas que nos visita, nós queremos continuar a percorrer esse caminho com os nossos parceiros", finalizou.O grupo Torel Boutiques detém, além do Terra Brava, o Torel Palace Lisbon, em Lisboa, quatro hotéis no Porto, o Torel Quinta da Vacaria, no Douro e vai inaugurar, ainda este ano, o Torel Royal Court, em Guimarães..A jornalista viajou a convite do grupo Torel Boutiques..O luxo continua a falar francês