Em tempo de eleições

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Muito se fala da necessidade de estimular o crescimento económico, sem o que não é possível obter índices elevados de bem-estar social, mas ao muito falar tem correspondido muito pouco realizar. O investimento público negativo, em termos líquidos, no consulado de António Costa e o débil investimento privado não traduziram em medidas que alterassem o ambiente adverso a um crescimento minimamente forte e estável. O investimento dos últimos anos não chegou a compensar as amortizações e traduziu-se numa diminuição do stock de capital. O PIB potencial, grosso modo o resultante da utilização plena da capacidade instalada, condicionou o fraco crescimento da economia.

Já se torna penoso aludir à necessidade de remover os entraves ao investimento privado, uma política ambiental que tudo proíbe, uma política fiscal que drena recursos para o exterior, uma justiça inoperativa, um clima adverso ao lucro, uma burocracia asfixiante, mas muito criativa que, por cada regulamentação simplificada, faz nascer dez novos constrangimentos. Um organismo relevante do país esteve um ano para abrir uma nova unidade com base na invocação de diferente interpretação das mesmas normas, a última moda dos burocratas.

Mais esquecido, mas igualmente ou mais penalizante, tem sido o boicote levado a cabo por uma militância que aparece do nada, cuja representatividade se ignora ou é inexistente, mas que faz barulho, embaraça e torpedeia projectos e iniciativas, sobrepondo-se mesmo ao poder político eleito. Um activismo crismado de nomes criados para cada ocasião, escondendo os seus reais e clássicos promotores, as forças que se opõem à economia de mercado.

Um activismo que se estende à contestação de qualquer iniciativa em qualquer sector da economia, da agricultura, à indústria ou à construção. Contesta-se tudo, o olival, os frutos vermelhos, a exploração mineira, o eucaliptal, sempre um atentado ao meio ambiente e ao equilíbrio dos ecosssistemas.

É esse o novo marxismo cultural. Gasto o slogan da luta de classes, a ofensiva contra o capitalismo renasce sob novas formas, visando o quanto pior, melhor.

Neste ambiente, nunca o nível de vida progredirá.

Em tempo de eleições, a atitude inteligente será premiar quem, fora dos extremos, tenha já iniciado caminho para inverter tão danosa situação.

*António Pinho Cardão é economista

Diário de Notícias
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