Carlos Tavares prevê que China salve empregos, mas eliminando rivais na indústria automóvel europeia

Ex-CEO da Stellantis traça quadro sombrio para os grupos automóveis europeus em entrevista ao Financial Times.
O ex-CEO da Stellantis, Carlos Tavares
O ex-CEO da Stellantis, Carlos TavaresAFP
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O ex-presidente da Peugeot e da Stellantis, Carlos Tavares, prevê que os fabricantes automóveis chineses acabarão por ser os “salvadores” das fábricas e empregos europeus, com aquisições graduais que, contudo, acelerarão o fim de alguns fabricantes ocidentais.

Numa entrevista publicada esta terça-feira, 28, pelo Financial Times (FT), cerca de um ano após deixar a Stellantis, devido a um conflito na administração, Tavares traça um quadro sombrio para os grupos automóveis europeus em particular, que enfrentam regulamentos rigorosos em matéria de emissões, uma guerra comercial global e mudanças ao nível da política de eletrificação.

O ex-executivo português prevê que, nos próximos 10 a 15 anos, os fabricantes automóveis chineses, atualmente já à procura de alvos para compra, farão novas aquisições na Europa, entrando no capital ou comprando na totalidade fábricas em dificuldades.

“Há muitas janelas interessantes a abrir-se para os chineses”, disse Tavares. “No dia em que um fabricante de automóveis ocidental estiver em sérias dificuldades, com fábricas à beira do encerramento e manifestações nas ruas, um fabricante de automóveis chinês virá e dirá: ‘Eu fico com isso e mantenho os empregos’ e serão considerados salvadores”, antecipou.

Enquanto presidente executivo da Stellantis, Carlos Tavares assinou, ele próprio, um acordo com o fabricante chinês de veículos elétricos Leapmotor, adquirindo uma participação de 20% na empresa e ajudando-a a entrar nos mercados internacionais.

Uma medida que defende, mas ressalvando estar ciente de que a Leapmotor tinha as suas próprias motivações para entrar na parceria: “A razão é simples: eles querem engolir-nos um dia”, sustentou, revelando que várias empresas chinesas o abordaram para gerir ou assessorar os seus negócios.

Tavares, que construiu a sua carreira em França - primeiro na Renault e depois à frente da PSA, fabricante da Peugeot - disse que a sua insistência em seguir a mudança para os veículos elétricos imposta pela União Europeia (UE) lhe custou o emprego.

Prevendo que a UE abandone a proibição dos motores de combustão interna até 2035 - os fabricantes de automóveis europeus estão a exercer uma forte pressão para permitir que outras tecnologias, como os híbridos, sejam vendidas após essa data - Tavares critica o enorme desperdício e a “estupidez” das decisões da UE de limitar a indústria.

“Quem está a responsabilizar a UE pelos 100.000 milhões de euros de investimentos que não serão utilizados? Ninguém”, afirmou na entrevista ao FT.

Num livro de memórias recém-publicado, o gestor português previu que apenas cinco ou seis fabricantes de automóveis sobreviveriam globalmente, começando pela Toyota no Japão, a Hyundai na Coreia do Sul, a BYD na China e, “provavelmente”, outra empresa chinesa, como a Geely.

O ex-executivo, que há muito prevê um resultado “darwiniano” para a indústria e é conhecido por cortar custos, levanta também questões sobre o futuro da Stellantis e prevê que a Tesla perderá para os rivais chineses.

Ao FT, Tavares diz ainda que a Stellantis foi “estrategicamente criada de forma perfeita para a globalização”, mas que o seu Conselho de Administração terá agora de decidir se essa ainda é a abordagem certa.

O ex-CEO da Stellantis, Carlos Tavares
Italiano Antonio Filosa sucede a Carlos Tavares como CEO da Stellantis

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