IA pode ter crescentes riscos no sistema financeiro alemão, alerta Bundesbank

O impacto da Inteligência Artificial na estabilidade do setor é "difícil de prever". De acordo com o banco, surgem "oportunidades" que devem ser aproveitadas e "riscos" que merecem cautela.
Sede do Bundesbank em Frankfurt. Foto: Frank Rumpenhorst/AP
Sede do Bundesbank em Frankfurt. Foto: Frank Rumpenhorst/APSede do Bundesbank em Frankfurt. Foto: Frank Rumpenhorst/AP
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O Bundesbank alertou esta quinta-feira, 6 de novembro, para os crescentes riscos que a inteligência artificial (IA) poderia representar para o sistema financeiro alemão, no relatório anual sobre estabilidade financeira.

Se a IA pode melhorar a eficiência dos serviços financeiros e apoiar decisões de crédito ou investimento, o seu impacto permanece "difícil de prever", afirma o banco central.

"As oportunidades e os riscos relacionados à IA ocupam, portanto, um lugar central nas discussões sobre os possíveis efeitos na estabilidade financeira", segundo o documento.

As instituições bancárias alemãs já utilizam cada vez mais a IA, por exemplo, para 'chatbots' no relacionamento com o cliente, mas pouco em áreas centrais como análise de solvência de um cliente ou negociação.

Os riscos de crédito e mercado poderiam diminuir se os modelos de IA processassem as informações de forma mais rápida e sistemática.

Mas se os modelos forem treinados "em conjuntos de dados semelhantes, eles podem causar um comportamento homogéneo, acentuando as exagerações nos mercados financeiros e a volatilidade", adverte o banco central.

A IA também poderia reforçar as concentrações e dependências no sistema financeiro: quanto mais caro for o seu uso ou o desenvolvimento de modelos próprios, mais certos atores poderiam aumentar o seu poder de mercado, e novas dependências em relação a poucos fornecedores poderiam surgir, segundo o documento.

O Bundesbank também alerta para riscos indiretos: a automação poderia alterar os modelos económicos tradicionais, reduzir a procura de mão-de-obra e complicar a avaliação dos riscos de crédito em certos setores, potencialmente acentuando os riscos de mercado e de falência.

Perante estas incertezas, o Bundesbank defende uma vigilância maior dos sistemas de IA utilizados no seio das atividades bancárias.

O Bundesbank propõe, neste caso, uma cooperação internacional, nomeadamente através do Conselho de Estabilidade Financeira (Financial Stability Board), um órgão internacional criado após a grande crise de 2008 e sediado em Basileia, na Suíça.

No relatório anual, o Bundesbank afirma ainda que as tensões geopolíticas e os conflitos comerciais, como o aumento da dívida pública na Europa, são fatores que pesam sobre a estabilidade do sistema financeiro alemão.

Nesse contexto, as "muito altas" avaliações de ações e títulos fazem com que esses produtos de investimento não estejam a salvo de "correções bruscas", conclui o Bundesbank.

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