A 22 de novembro, Leonel Simões completa 80 anos. Filho mais velho de Luís Simões, foi o motor que acelerou o pequeno negócio paterno de transporte rodoviário de mercadorias, transformando-o no líder nacional do setor e num dos operadores de referência em Espanha. O grupo Luís Simões tem hoje uma faturação da ordem dos 300 milhões de euros e emprega mais de 2450 pessoas. A estrada foi difícil, muitas vezes, extremamente penosa. Valeu-lhe a tenacidade, a intuição do futuro, a união da família num objetivo único. É uma história que não quis perdida, assim como a sua filha mais nova, Cátia Simões, que assina o livro biográfico “Leonel Simões. Do zero ao império. A jornada de um visionário”, que será lançado na próxima quarta-feira. É também um documento de vida, que conta a estrada percorrida desde os tempos da ditadura até à era digital, os desafios que enfrentou, as alegrias e as tristezas do caminho, e que se quer afirmar como um legado aos netos, em particular, mas também a todos os leitores. A mensagem é clara e Leonel Simões repete-a ao Dinheiro Vivo: “Nunca deixar de lutar pelos sonhos”.O último capítulo do livro é aliás dedicado aos cinco netos. É uma carta onde Leonel Simões fala das sérias e muitas dificuldades do seu percurso, mas onde deixa uma mensagem emocional e para o futuro. Lembra que um dia também foi “menino”, teve “sonhos e irreverência”, e foi essa ambição, matizada de luta e força, que lhe permitiu atingir objetivos. No caminho “tem de haver respeito pelo trabalho que foi desenvolvido”, “planear aquilo que queremos” e não esquecer que “sozinhos não vamos longe”, aconselha. O empresário, que continua a partilhar o conselho de administração do grupo com os seus dois irmãos, realça ainda a importância do diálogo, da resiliência, da seriedade para atingir o sucesso. E acima de tudo lembra a importância da família, “a única coisa que não muda” e que “será sempre um pilar”. O grupo Luís Simões é o retrato desta mensagem. Nasceu e continua a crescer no seio da família Simões. Como recorda no livro, “o meu pai não me deixou caminhar sozinho”, fez questão de sublinhar “que a família tem de ir sempre junta”. Hoje, o comando dos negócios está também nas mãos da terceira geração. Cada um dos três filhos do fundador tem um descendente na mesa das decisões. Faltam os netos.. Esta passagem de testemunho exigiu regras. A primeira a ser estabelecida foi a frequência obrigatória de estágio de verão na empresa. As três filhas de Leonel Simões não tiveram escolha e todas estagiaram no grupo para conhecer o negócio e ganhar “sentido de responsabilidade e de pertença”. Pelo menos um mês das férias “era passado a trabalhar na organização, passando por diferentes áreas, desde o atendimento telefónico, até ao apoio aos recursos humanos e ao cliente”. Mais tarde surgiu o Fórum Familiar, um encontro anual para promover a aproximação e garantir que a empresa continuava a ser um projeto de família, e o Conselho da Família. Mas ainda não era suficiente para garantir a transmissão do legado. “Com o apoio de especialistas externos, elaborámos o nosso Protocolo Familiar, onde estipulámos condições essenciais: terminar os estudos; ganhar experiência, durante pelo menos três anos, fora da empresa”. Só depois é que a terceira geração pode integrar a organização, assegurar um cargo específico, conta no livro. Caminhos de esperança . O início da construção deste legado ocorre em tempos de esperança - a Segunda Grande Guerra tinha terminado -, mas sombrios. Foi nessa época que Leonel Simões nasceu. Por essa altura, o pai transportava frutas num burro até ao Mercado da Ribeira, em Lisboa, onde as vendia para ganhar o sustento. Homem de visão, viu uma oportunidade no trespasse de uma mercearia, Comprou e garantiu comida para a família, em tempos de racionamento. Leonel Simões lembra que nunca faltou pão à mesa, apesar de ter apenas quatro anos quando assumiu o seu primeiro trabalho, a guardar gado. “Foi assim durante toda a minha infância”, diz. Quando chegou a altura da escola, teve de conciliar o cuidado do gado, trabalhos agrícolas e a aprendizagem das letras e contas. Não havia tempo para os deveres da escola. Tinha sete anos quando iniciou o seu primeiro negócio. “A minha avó dava-me uma latinha com queijos para eu ir vender de porta em porta”, e “só regressava a casa quando tivesse tudo vendido”. A recompensa eram dez tostões. “Foi assim que comecei cedo a ter algum dinheiro para as minhas coisas e a aprender sobre a vida real”, descreve Luís Simões, no livro.Nesse período, o pai, de quem herdou o instinto visionário, decide tirar a carta de condução e ser motorista por conta de outrem. Foi o primeiro passo para a criação do grupo Luís Simões. Mais tarde, compra o primeiro camião e inicia o seu próprio negócio. Leonel Simões teve de o acompanhar aos 11 anos, logo que terminou o ensino primário obrigatório. Era preciso “alguém para carregar as hortaliças, acompanhar nas voltas, e ajudar a dar conta do recado”. Foram tempos muito duros, mas Leonel Simões nunca se queixou. “Sentia-me parte da solução”, diz..Aos 14 anos, já Leonel Simões conduzia um camião. Sem a devida licença, pagou várias multas, mas seguiu em frente, aproveitando todas as oportunidades que lhe surgiam pela frente. Aos 17, já tinha carta de condução, paga com o dinheiro amealhado com a venda de hortaliças por conta própria e as gorjetas que recebia no mercado. A tropa veio interromper o percurso desta estrada, e acabou mobilizado para a Guiné-Bissau, mas até neste período o empresário encontrou benefícios. Descobriu a disciplina e a organização, aprendeu a inovar e, acima de tudo, a ser líder. No regresso, junta-se ao pai que, nesse seu período militar, tinha fundado a Transportes Luís Simões. Em 1969, compra o seu primeiro camião.“Os negócios estavam estáveis. Tínhamos a mercearia, três camiões e dois tratores agrícolas… mas aquilo cheirava-me a pouco”, conta. Tinha também dois irmãos mais novos para conduzir. E é deste pequeno universo, assente na família, que começa a construir “o império”. Tomou decisões, enfrentou crises, assumiu riscos e sonhou em posicionar a empresa entre as cinco primeiras do país. “Uma empresa acabada de criar, com três irmãos, dois deles muito jovens, parecia algo louco e inimaginável. Mas foi conseguido em 18 anos!”, lê-se na biografia..O negócio foi crescendo e novos desafios surgiram. O mercado estava mais exigente e queria mais velocidade. Ao mesmo tempo que apostava na informatização da empresa, foi confrontado com a necessidade de ter conhecimentos de gestão. Os três irmãos sentam-se novamente nos bancos da escola. É também a altura em que fica definido o papel de cada um na companhia. Como explica no livro, “o meu irmão do meio tinha mais conhecimentos administrativos e eu, juntamente com o mais novo, éramos mais operacionais”. Fez sentido que “fosse ele o presidente”, um compromisso que assumem até hoje.Nos anos 90 do século passado, o grupo regista um dinamismo exponencial e dá-se a internacionalização para Espanha, mas nem isso impediu Leonel Simões de assumir uma nova missão: presidente da ANTRAM - Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias. Sempre empenhado no trabalho, atento ao futuro, com respeito ao legado do pai, aos 55 anos abandonou a ideia de se reformar, como durante muitos anos acarinhou. Uma década mais tarde cumpre essa formalidade, mas ainda hoje tem lugar na mesa das decisões. Afinal, “a empresa tem sido a minha maior missão.” Aos netos deixa a mensagem: “Façam sempre o melhor que puderem e souberem. A vida não é fácil, mas vale a pena lutar.” .Vila Baleira reforça em Porto Santo com abertura de um hotel de luxo.Ataques de ‘ransomware’ em Portugal dispararam 250% no primeiro semestre