"Madeira e Açores seriam candidatos perfeitos". ICANN vai lançar candidaturas a domínios online

A entidade responsável pela atribuição de domínios na internet, como ".pt" ou ".com", prepara uma nova vaga de candidaturas. É a primeira desde 2012 e destina-se a quaisquer organizações.
Theresa Swinehart é vice-presidente sénior da ICANN, que atribui os domínios online a empresas de todo o mundo
Theresa Swinehart é vice-presidente sénior da ICANN, que atribui os domínios online a empresas de todo o mundo
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Quando usamos a internet, é muito comum vermos domínios como ".pt" ou ".com", entre outros, no final dos links a que estamos mais habituados. A entidade que gere este ecossistema é a ICANN, que vai lançar candidaturas em 2026 e olha para Madeira e Açores como "candidatos perfeitos".

A consideração é de Theresa Swinehart, vice-presidente sénior da organização. A responsável esteve presente na Web Summit, em Lisboa, onde falou com o DN sobre o trabalho realizado pela ICANN (sigla em inglês para Internet Corporation for Assigned Names and Numbers).

Trata-se de uma entidade sem fins lucrativos, que é responsável pela coordenação do espaço que alberga todos os endereços IP disponíveis na Internet, pelo que permite uma rede única e internet que se espalha por todo o mundo.

Na prática, possibilita a obtenção de um domínio por parte de entidades (públicas ou privadas) que tenham interesse em contar com um domínio, ou seja, "uma casa própria", explica. Para tal, as mesmas deverão apresentar candidaturas através do preenchimento de um formulário que está disponível online.

Com a mesma finalidade, será necessário demonstrarem capacidade técnica (própria ou através de uma contratação externa) para gestão do domínio em questão, assim como a existência de sustentabilidade financeira da organização que se candidata. A obtenção de um domínio está ainda sujeita ao pagamento de 227 mil dólares (cerca de 197 mil euros, ao câmbio atual), valor que corresponde ao preço de custo, explica.

"Não vendemos" um produto ou um serviço, sublinha, o que significa que o pagamento equivale meramente ao pagamento das despesas associadas.

A ideia já despertou, por um lado, o interesse de empresas de grande peso à escala global, nos mais variados setores da economia (casos da Alphabet/Google, Amazon, Toyota, Barclays, Accenture ou Sky, entre muitos outros), Por outro lado, há também entidades públicas que já aderiram (são exemplos as cidades de Berlim e Amsterdão, a par do País Basco) e, em 2026, voltam a abrir candidaturas.

Responsáveis não fazem estimativas, mas piscam o olho às regiões autónomas portuguesas

Ora, no caso português é exemplo o domínio ".pt", que usado por tantas empresas nacionais, sendo que está também presente no site do Governo (independentemente das mudanças naquele órgão), por exemplo, cuja ligação termina com ".gov.pt".

Ora, organizações de todo o mundo vão poder candidatar-se a um domínio no próximo ano. A ICANN vai lançar candidaturas em abril de 2026 (a última vez foi em 2012) e, a esse respeito, "não temos qualquer ideia sobre quantas se vão candidatar, porque as organizações tendem a guardar essa informação", esclarece.

Posto isto, "não é possível" fazer uma previsão sobre quantas podem chegar de Portugal (ou de qualquer outra geografia). Ainda assim, as Regiões Autónomas podem ser candidatos de particular interesse, explica Theresa Swinehart.

Madeira e Açores são "ótimos exemplos" de possíveis adesões, em função das características diferenciadoras das próprias comunidades. A responsável lembra fatores como tradições e sentido de pertença que poderiam estar na base de uma candidatura que, caso fosse aceite, significaria "reconhecimento global".

Sobre o município de Lisboa, a responsável confessa que esteve à conversa com Carlos Moedas, juntamente com outros responsáveis da ICANN, mas acabou por não lhe sugerir ao presidente da Câmara Municipal de Lisboa a possibilidade de avançar para um domínio próprio.

A ICANN disponibiliza um programa de apoio a candidatos, "para entidades que sejam aprovadas para tal", num processo que estará aberto até meados de dezembro. Ao mesmo tempo, existe ainda a opção de serem criados domínios para "grupos de linguagem que podem estar interessados em ter um endereço na sua língua", explica. A própria dá exemplos como o cirílico, árabe e mandarim, que tem direito a uma "experiência integral com o próprio idioma, online".

Alerta para

De acordo com a própria, levanta-se o risco de a internet se fragmentar, em parte devido a restrições colocadas por legislação publicada por diversas entidades governativas, como é o caso da União Europeia (UE).

Theresa Swinehart aponta ao GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados), publicado pela UE. "A intenção é boa, porque todos queremos ter privacidade sobre os nossos dados", mas acaba por ter um efeito negativo, na medida em que impede as pessoas de saberem quem pediu a criação e detém um determinado domínio online.

"Isto teve um enorme impacto para jornalistas e autoridades judiciais", recorda. Há legislação a surgir "em várias partes do mundo", que faz recordar da necessidade de "não tomarmos a internet como garantida", sublinha.

"Se não tivermos cuidados", alerta, "ela tornar-se-á fragmentada", o que teria efeitos nefastos na economia global que está, hoje, mais do que nunca, profundamente dependente da internet. "Na pandemia, quando as pessoas estavam isoladas", lembra, "podiam obter educação e cuidados de saúde em formato online".

O risco que surge deve-se, em grande medida, a "políticas e regulações que podem fragmentar" a rede global, diz a própria. Posto isto, "há riscos com decisões dos governos que podem ter intenções muito boas, mas têm impacto [em parte negativo] na tecnologia", atira.

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