Portugal está entre os países “mais interessantes” para investir

O setor beneficia da elevada carga fiscal que incide sobre famílias, fruto da procura por “estabilidade” e pela manutenção de heranças, diz João Marmelo, country manager da Baloise em Portugal.
João Marmelo, country manager da Baloise em Portugal
João Marmelo, country manager da Baloise em Portugal
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A elevada carga fiscal que se verifica na economia portuguesa gera um ambiente positivo para o desenvolvimento das seguradoras. Prova disto é o crescimento do mercado de seguros de capitalização (destinados à rentabilização de poupanças) e, por outro lado, o aumento de “family offices”, cujo objetivo passa por dar resposta ao imposto sucessório.

Quem o diz é João Marmelo, Country Manager da Baloise Portugal, em entrevista ao DN.

A seguradora já conta com mais de 3 mil milhões de euros em ativos sob gestão no país. Neste momento, a casa-mãe, sediada em Basileia, está em processo de fusão com a Helvetia. O resultado será uma das 20 maiores seguradoras do setor, em caso de aprovação.

No Luxemburgo tem uma operação similar, que está espalhada pela Europa (incluindo Portugal), sobretudo através da disponibilização de seguros de capitalização. Estes são vendidos a particulares e empresas e envolvem a subscrição de uma carteira de ativos que é criada pela seguradora junto de um banco escolhido pelo cliente.

“Foi este posicionamento”, explica João Marmelo, “que nos permitiu entrar no mercado português e ter uma oferta em que havia uma lacuna”. Outra vertente em que a seguradora concentra esforços consiste na procurar as melhoras oportunidades para transmissão de heranças.

Aqui falamos de famílias que construíram um património significativo e querem deixá-lo à geração seguinte. Muitas receiam que os descendentes possam gastar o dinheiro em poucos anos. Para evitar esta situação, muitas criam ‘family offices’, formados por equipas de pessoas da área financeira, com o propósito de encontrar as melhores soluções sucessórias. É aqui que entra a Baloise Portugal.

“Há crescimento nos family offices porque há estas novas fortunas que foram criadas em Portugal, por empresários que tiveram sucesso nos últimos 30 anos” e que optam por procurar este tipo de serviços. Ora, com este e outros impostos a formarem um ecossistema de elevado esforço fiscal, o mercado nacional torna-se particularmente atrativo para as empresas que operam na área dos seguros.

“Não pelas boas razões, mas pelas razões que são comuns a toda a União Europeia, já que está mergulhada em impostos”, sublinha João Marmelo. Isto porque “os países mais interessantes são os que têm maior carga fiscal”, já que muitas famílias e empresas optam por procurar soluções para rentabilizar património e rendimentos, por exemplo.

“Enquanto não se cortar na despesa pública, vamos ter sempre a situação em que a carga fiscal será cada vez mais elevada”, com as pessoas mais ricas a pagarem quase metade dos seus salários em impostos (escalão mais alto de IRS corresponde a uma taxa de 48%).

Ora, “qualquer pessoa que pague um imposto de 50% tem um grande estímulo a procurar soluções”, de forma a pagar menos.

Em todo o caso, a procura resulta maioritariamente da necessidade de “estabilidade”. Em causa está o apuramento das mais e menos-valias e eventualmente fazer vendas fora do momento certo. Muitas famílias têm aqui uma das principais preocupações financeiras e fazem-no pela necessidade de evitarem “uma fatura fiscal muito alta”, lembra.

Ainda assim, “as pessoas mais sensíveis ao tema fiscal já há muitos anos não vivem em Portugal”, ou seja, já não pagam impostos no país. Na origem está o aumento da carga fiscal em anos passados e, a este respeito, o country manager da Baloise em Portugal deixa um alerta.

“Não vale a pena termos a utopia de que as pessoas vão ficar aqui eternamente a pagar impostos, mesmo que estes sejam hoje de 50%, amanhã 60% e depois de 70%”, de acordo com o próprio. “As pessoas vão saindo”, assinala, antes de apontar um exemplo concreto.

“Aconteceu o mesmo no Reino Unido”, onde a subida do imposto sucessório levou a que milionários fossem viver para outros países.

Posto isto, “temos que perceber que os impostos não podem continuar a crescer para sempre”, salienta, antes de apontar ao leste europeu, onde esta perspetiva está muito presente, de acordo com o próprio.

Países como Polónia ou Hungria têm taxas médias “em torno dos 20%” e provam que “menor despesa pública e maior crescimento económico se consegue com impostos mais baixos”.

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