Em Portugal continua a confundir-se esforço com produtividade. Trabalhamos longas horas e até podemos ser dedicados, resilientes e disponíveis, mas os resultados em geral ficam aquém do desejável. É fácil culpar os trabalhadores, como se a maioria de nós não fosse ou não tivesse sido trabalhadora; também é fácil culpar as políticas públicas, porque as estruturas governativas tanto a nível nacional como regional e local têm as “costas largas”.A verdade é que grande parte do tecido empresarial português ainda vive presa a uma cultura de trabalho baseada na presença física e no controlo hierárquico. O horário substitui o resultado, o que significa que o “estar” vale mais do que o “fazer”. Bastas vezes, o trabalhador que sai tarde tende a ser visto como mais empenhado do que aquele que produz mais em menos tempo. Tudo isto reflete uma lógica ultrapassada, que premeia a aparência de dedicação em detrimento da eficácia real.Com efeito, a baixa produtividade é, em primeira linha, um problema de natureza organizacional. Em demasiadas empresas, a formação é tratada como despesa, a inovação como luxo e a delegação como risco. Continuando a confundir autoridade com liderança e comando com motivação, gerem-se pessoas como se fossem máquinas e depois estranha-se que não haja criatividade, autonomia e vontade de progredir.Todos sabemos que não há falta de talento – o problema é que ele tende a dispersar-se por empresas e outras organizações que não o sabem valorizar. É por isso que uma parte significativa do talento que tão bem geramos nas nossas universidades prefere ir para outras paragens onde, por haver melhor organização, é mais bem aproveitado, cria mais riqueza e, em última instância, é mais bem remunerado.Tudo isto seria relativamente fácil de resolver se fosse apenas uma questão de incentivos públicos. A grande dificuldade é que pressupõe uma mudança cultural. É preciso que as empresas passem de uma lógica de sobrevivência para uma lógica de crescimento; que aprendam a gerir tempo, recursos e pessoas com visão e inteligência; que apliquem métricas de desempenho reais, em vez de se limitarem a controlar a hora de entrada e de saída; que substituam o medo do erro por uma cultura de aprendizagem contínua.Os países que deram saltos de produtividade – como a Irlanda e a República Checa – não o fizeram por decreto. Fizeram-no porque as suas empresas apostaram em gestores competentes, em formação e em tecnologia. Em Portugal, ainda há demasiadas organizações que confundem poupança com eficiência, cortando custos, mas não criando valor efetivo. Acreditam que trabalhar mais é sinónimo de produzir mais, quando o verdadeiro desafio é trabalhar melhor.Produtividade não é fazer mais com menos: é, acima de tudo, fazer melhor com o que se tem, o que significa gerar mais riqueza. Ora isso exige foco, autonomia e responsabilidade. Exige líderes que saibam inspirar e não apenas controlar. E exige que se deixe de glorificar o cansaço como prova de mérito.Numa altura em que a alteração da legislação laboral está em cima da mesa, Portugal precisa de um novo “contrato de trabalho” – não apenas no plano legislativo, mas, acima de tudo, de natureza cultural. Um “contrato” que, assentando numa nova mentalidade de empregadores (e respetivas associações) e trabalhadores (e respetivos sindicatos), valorize o resultado, a competência e a confiança. Só assim deixaremos de ser o país que trabalha muito, mas produz pouco. Porque o futuro não pertence a quem mais se esforça, mas a quem melhor transforma esforço em valor.