Muito se tem escrito sobre o tema ESG nos últimos meses. As práticas em sede de Environment, Social and Governance têm feito correr muita tinta e vieram para ficar.
Mas será que se tem reflectido ou planeado o suficiente do tema?
Sabemos que actualmente a legislação da UE exige que todas as grandes empresas e todas as empresas cotadas divulguem informações sobre os riscos e as oportunidades decorrentes das questões sociais (S) e ambientais (E) e sobre o impacto das suas atividades nas pessoas e no ambiente.
No início de 2023, com a entrada em vigor da Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) vieram modernizar-se e reforçar-se as regras relativas à informação social e ambiental que as empresas têm de comunicar.
Um conjunto mais vasto de grandes empresas, bem como PME cotadas, será agora obrigado a apresentar relatórios sobre a sustentabilidade - cerca de 50.000 empresas na UE, no total.
A estratégia da Europa em matéria ESG baseia-se em legislar: numa primeira fase legislar sobre aquilo que as empresas têm de informar, numa segunda fase sobre aquilo que as empresas têm de fazer.
Assistimos a um cenário regulatório que cria uma pressão mais forte e visa garantir que os investidores e outras partes interessadas tenham acesso às informações sobre o alinhamento dos investimentos com estratégias "verdes", de que necessitam para avaliar os riscos de investimento decorrentes das alterações climáticas e de outras questões de sustentabilidade.
Criarão também uma cultura de transparência sobre o impacto das empresas nas pessoas e no ambiente.
As primeiras empresas terão de aplicar as novas regras pela primeira vez no exercício financeiro de 2024, para os relatórios publicados em 2025.
As empresas que não se pautarem por padrões de sustentabilidade ficarão para trás, porque o próprio mercado se encarregará de ajustar comportamentos e escolhas.
O sector financeiro terá um papel primordial no posicionamento das empresas quanto aos temas ESG. O acesso a financiamento vai estar dependente de critérios que se coadunem com o cumprimento das métricas ESG e, necessariamente, projectos e empresas "verdes" terão maior facilidade no acesso ao capital. A banca a desempenhar um papel acelerador na transição energética.
Considerando o tecido empresarial Português (segundo o INE para o ano de 2021 contam-se cerca de 1.350.000 empresas das quais 1.315 são grandes empresas, sendo todas as restantes PMEs) a velocidade a que as últimas se adaptam a todo este escrutínio regulatório tem de ser necessariamente diferente. As grandes empresas mostrarão o caminho (porque a isso estão obrigadas) e o grosso da nossa massa empresarial terá de ir, aos poucos, pegando nestes temas, sobretudo traçando o caminho no G (Governance) porque sem G não há E nem há S.
Os órgãos de gestão e supervisão das sociedades, os líderes, os responsáveis pela tomada de decisões das empresas terão de mudar o mindset e considerar o tema da sustentabilidade, dar-lhe prioridade e incorporá-lo - a toda a velocidade - na sua cultura corporativa. Todas as empresas o conseguirão fazer se se focarem na ética organizacional, no combate à corrupção, no investimento e na fiscalidade responsáveis e finanças sustentáveis. A cultura tem de ser instalada e os temas de E e se S seguirão a tendência porque são temas mais "próximos" dos colaboradores, com os quais se identificam mais.
O que custa é começar, mas quem não começar vai sentir as dores mais tarde: estes temas são actuais, relevantes e serão de aplicabilidade rápida.
Qualquer "Gonzalez" que não seja "Speedy", não se destaca dos demais....
Mariana Veríssimo, country leader do TMF Group em Portugal
(Nota: a autora escreve seguindo o Antigo Acordo Ortográfico)