Já não era uma questão de "se", mas sim de "quando" é que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (DOJ, em inglês) formalizaria um processo contra a Google. A vontade de escrutinar a operação das grandes tecnológicas tem vindo a crescer ao longo dos anos, especialmente no que diz respeito às big four: Apple, Amazon, Facebook e Google. Exemplo disso são as múltiplas vezes em que os CEO destas empresas estiveram perante o Congresso dos Estados Unidos e, neste verão, pela primeira vez, numa audição em simultâneo..Depois dos rumores, que em setembro davam conta de que este anúncio de processo estaria para breve, a Justiça norte-americana formalizou uma ação contra a Google, que conta com o apoio de pelo menos 11 Estados norte-americanos. Em causa está a posição dominante da empresa no negócio dos motores de busca..Para o DOJ, "sem uma ordem judicial, a Google continuará a executar a sua estratégia anticoncorrência, limitando o processo de concorrência, reduzindo a escolha do consumidor e a limitar a inovação", dita o processo. A Justiça dos Estados Unidos aponta que a Google detém "90% de todo o mercado de pesquisa nos EUA e quase 95% das pesquisas feitas em ambiente mobile". Para este organismo, o resultado final da situação passa por "ninguém conseguir, de forma viável, desafiar o domínio da Google na pesquisa e na publicidade feita na pesquisa"..Os especialistas encontram semelhanças com um caso concreto do setor tecnológico, também ele de grandes dimensões: o processo que opôs os EUA à Microsoft. Em 2001, a Justiça americana moveu um processo contra a empresa de Redmond, onde a Microsoft também era acusada de ter uma posição dominante no mercado..Enquanto a Google é acusada de domínio na pesquisa, o caso da Microsoft incidia sobre o navegador Internet Explorer, na altura, aquele que reunia maior número de utilizadores. Os EUA consideravam que, através dos contratos com fabricantes, a empresa conseguia ter uma quota de mercado maior nos navegadores, até ao surgimento do Chrome da Google, anos mais tarde..No processo da Google, também o DOJ menciona a relação com os fabricantes de smartphones e computadores, nomeadamente com a Apple. O procurador Bill Barr enunciava inclusive que a Google "não compete com a concorrência através da qualidade dos seus resultados [de pesquisa]", mas sim com "sucesso comprado através de pagamento a fabricantes de smartphones e outros"..A resposta da Google ao processo não tardou. Numa longa publicação, assinada por Kent Walker, SVP para Global Affairs da Google, era dito que "a ação do Departamento de Justiça é profundamente defeituosa". "As pessoas utilizam o Google porque querem, não porque são forçadas ou porque não conseguem encontrar alternativas", reagia a empresa.."Este processo não fará nada para ajudar os consumidores. Pelo contrário, irá artificialmente inflacionar alternativas de pesquisa de baixa qualidade, aumentar os preços dos telefones e tornar mais difícil às pessoas chegar aos serviços de pesquisa que querem usar". A Google refere que este processo encara "os americanos como pouco sofisticados" para mudar as aplicações ou pré-definições de pesquisa nos equipamentos.