A falta de vidro chegou já aos grandes grupos. Que o diga a Super Bock que está a vender, já há algumas semanas, as suas sidras em garrafas escuras em vez das tradicionais, brancas. E é com uma certa dose de humor que comunica aos seus consumidores essa alteração. As garrafas âmbar ostentam não só a informação de que se trata de uma nova garrafa temporária, como ainda acrescenta no rótulo do gargalo: "Mudámos a casca sem mexer na maçã". Uma alteração necessária para fazer face ao crescimento da procura de Somersby, cujas vendas estão 50% acima do período homólogo de 2019, ou seja, pré-pandemia.
"Há globalmente, e também na Ibéria, alguns constrangimentos na produção de vidro branco e, atendendo ao crescimento da procura de Somersby projetada, decidimos proativamente por uma mudança temporária [...] para não corrermos riscos de abastecimento. Vivemos tempos complexos e que nos exigem muita proatividade e flexibilidade para conseguir antecipar constrangimentos, mitigá-los e, acima de tudo, responder à procura", explica o presidente executivo da Super Bock.
Rui Lopes Ferreira avança que a "nova garrafa" chegou já ao mercado "há algumas semanas" e que não gerou reclamações. A preocupação em manter o consumidor informado levou, além da inclusão da informação na rotulagem à medida temporária, à disponibilização de informação em formato Q&A [perguntas e respostas] na página web da marca.
CitaçãocitacaoOs tempos que vivemos introduzem elementos de incerteza constante e, por isso, continuamos a gerir o nosso dia-a-dia assente em planeamento cauteloso e rigoroso
No site ficamos a saber que o motivo da alteração se deve a constrangimentos na produção de vidro, "com maior impacto no vidro branco", que não tem qualquer impacto na bebida ou no processo de reciclagem do vidro. Somos ainda informados que coexistirão as duas garrafas, a âmbar e a transparente, à venda e que "esta mudança temporária será apenas em Portugal, mas poderá ser alargada a outros mercados". Durante quanto tempo, ninguém sabe dizer. "Mas não é um tema português, já questionámos a Carlsberg [o grupo dinamarquês que é acionista da Super Bock] e eles indicam-nos que sentem a escassez do vidro branco a nível mundial", diz Rui Lopes Ferreira.
O CEO do grupo cervejeiro admite que as sidras são uma "categoria relevante" para a empresa. "É uma categoria que foi muito construída por nós e em que somos líderes, com uma quota de mercado na casa dos 75%", frisa. E que este ano está a crescer 50% face a 2019. "É significativo e seria uma pena se, por dificuldades de abastecimento de garrafas, houvesse uma rotura de abastecumento ao mercado", acrescenta.
Sobre a Super Bock, Rui Lopes Ferreira indica apenas que, com o fim da pandemia, a atividade tem estado a "evoluir a bom ritmo". O arranque do ano ainda foi difícil, mas, nos meses de maio e junho, "todas as categorias estratégicas" estão já a recuperar para níveis de 2019.