E se pudesse comprar um sofá numa caixa que cabe na bagageira do carro?

Conceito inovador da startup brasileira Sofá na Caixa está a desafiar a indústria do mobiliário. Negócio entrou em Portugal com escritório e armazém no Porto, e no próximo ano poderá ter uma fábrica.
Rubens Stuque, CEO e fundador da startup brasileira Sofá na Caixa
Rubens Stuque, CEO e fundador da startup brasileira Sofá na Caixa
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Rubens Stuque, CEO e fundador da startup brasileira Sofá na Caixa, sempre teve espírito empreendedor. Começou como autodidata aos 16 anos a criar diferentes negócios, desde a construção civil à venda de simuladores de golfe. Até que aos 24 anos fundou a Eco Flame Garden, uma marca de móveis de exterior que rapidamente se destacou na América Latina e nos Estados Unidos. Com um faturação próxima dos seis milhões de euros, esta experiência deu-lhe uma visão clara dos desafios do setor do mobiliário, especialmente na logística e na dificuldade de escalar produção e distribuição.

Foi ao observar essas limitações que surgiu a ideia do Sofá na Caixa. Apaixonado por decoração, Rubens percebeu que os sofás enfrentavam desafios semelhantes aos colchões antes da industrialização: ocupavam demasiado espaço, o transporte era dispendioso e o mercado mantinha-se preso a métodos de fabrico tradicionais. O conceito da Sofá na Caixa nasceu precisamente para resolver estes problemas, tornando o processo mais eficiente. Graças a um design inovador, um único funcionário pode produzir até 40 sofás por dia, quando, no método convencional, cada trabalhador consegue fabricar apenas um sofá por dia.

Mas a verdadeira inovação vai além da embalagem compacta. O processo de fabrico foi otimizado para garantir uma produção escalável e mais eficiente. O impacto no armazenamento e transporte é significativo: enquanto um armazém tradicional consegue guardar apenas sete a oito sofás convencionais, o modelo do Sofá na Caixa permite armazenar até 72 sofás no mesmo espaço. Isso traduz-se numa redução de custos e numa distribuição muito mais ágil, abrindo caminho para um novo modelo de negócio no setor do mobiliário.

“Se pudesse voltar na década de 1960, 70, até 74, voltava. Acho que esse foi o auge da arquitetura, do design”, conta Rubens. É precisamente em alguns dos clássicos do mobiliário que se inspiram os seus sofás, como a poltrona “Togo”, criada em 1973 pelo designer francês Michel Ducaroy, com um design curvo, fluído, intemporal. Não sendo um original vendido pela Sofá na Caixa por cerca de 500 euros, é bem mais barato do que o original que custa alguns milhares de euros.

Rubens estudou engenharia civil, mas considera-se químico, marketeer, vendedor. Ele próprio desenhou a planta da fábrica e alguns produtos. A criatividade é um dos seus fortes. Mas não só. A sua liderança e gestão – e 16 horas de trabalho em muitos dias – elevaram esta marca, que nasceu a 4 de fevereiro de 2024, já para um total de 230 trabalhadores. Rubens e a sua equipa inverteram esse paradigma, criando um produto que pode ser facilmente transportado e armazenado, permitindo que cadeias de retalho e marketplaces digitais ofereçam opções mais acessíveis e eficientes aos consumidores, com presença em mercados como Brasil, Estados Unidos, Portugal e vários países europeus. Uma solução que reduz a pegada ambiental com o transporte.

A viver em São Paulo, mas com viagens frequentes para a China e para a Europa, Rubens investiu apenas 500 mil reais (menos de 100 mil euros) no projeto e acredita que o segredo do sucesso foi focar na inovação industrial e logística. A empresa registou uma patente global e, apesar de ter recebido propostas de investimento, optou por crescer de forma independente (bootstrap).

As primeiras duas fábricas surgiram em Capivari, que é uma cidade no interior de São Paulo, e Raffard. E já têm uma fábrica em Guangdong, na China. A Portugal, os sofás que aqui chegam vêm do Brasil e são depositados no armazém do Porto, perto do aeroporto – é também na Invicta onde a empresa já tem o seu escritório europeu. O cliente, ele não paga pelo transporte. “O que a gente vende são sete vezes mais camadas de espuma e conforto e o cliente paga só pelo produto. Nosso processo hoje logístico significa 2% no máximo”, explica. Os sofás vêm comprimidos envoltos num plástico dentro da caixa, e basta abrir para que eles ganhem a forma de um sofá. No fundo, é a espuma comprimida.

“A gente entrega uma espuma de altíssima resiliência e qualidade”, explica-nos Rubens com o seu sotaque brasileiro. “A estrutura que eu criei foi uma espuma que tem uma resiliência e poros grandes na molécula da espuma. Então o ar entra muito rápido, mas ele tem uma resistência, similar aos colchões, mas com uma altura de espuma muito maior, que é a grande dificuldade: 70 centímetros. Consegui ter essa resiliência.”

No total, no primeiro ano de operações a Sofá na Caixa faturou 17,4 milhões de euros, e só não foram além deste valor porque não tinham mais produto para vender. Mas para 2025, a faturação prevista já irá ascender aos 48 milhões de euros. O plano de expansão prevê a entrada em novos mercados todas as semanas e uma presença reforçada na Europa, com a abertura de um hub logístico em Paris.

A empresa planeia abrir uma unidade de produção na Europa, e que poderá localizar-se no nosso país. “Provavelmente ,no próximo ano já tem uma fábrica em Portugal”, adianta Rubens, explicando que já estão a sondar à procura de espaços. Além disso, está a desenvolver colaborações com marcas de moda para lançar edições especiais de sofás e poltronas.

A aposta em preços acessíveis também faz parte da estratégia, com modelos entre 500 e 2.500 euros. “O nosso core nosso é acessibilidade, design e conforto. Esse é o nosso mantra”, conta Rubens. “A gente tem modelos desde 500 euros até 2.500 euros. Mas os 2.500 euros que eu estou falando são sofás de design abruptos, que para ter um sofá desses em casa se pagaria 7 mil euros, 10 mil euros, 12 mil euros, o mais alta linha nossa.” Além disso, a marca aposta em colaborações com designers de moda, criando edições limitadas e tornando o sofá num objeto de desejo e tendência. Mas o foco é aumentar a produção ao máximo para ir baixando os preços e democratizar o acesso a estes sofás, conta o fundador da Sofá na Caixa.

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