Um conhecido professor de comunicação política, no final do século passado, dizia aos seus alunos que é muito difícil um político fazer chegar o seu programa ao eleitor porque este está recetivo a apenas três mensagens. Por este motivo, mais do que estruturar o conteúdo das mensagens, o político deve saber escolher quais são as três ideias que o diferenciam, que lhe garantem apoio, votos..Pode ser que este princípio seja redutor, que o eleitor mereça menos condescendência, num mundo dominado pelas redes sociais onde a agenda política não é feita de ações, mas de reações. Por vezes até se lançam tópicos para perceber as tendências e escolher as mais consensuais. Longe vão os tempos das campanhas eleitorais que cumpriam sem desvios o seu caminho estrategicamente delineado, alheadas do estertor da concorrência e da opinião pública..O político é levado a acreditar que deve aproveitar o ruído quando lhe for favorável, senão torná-lo favorável. O que é o Twitter de Trump senão um instrumento de controlo da agenda mediática - o muro, as tarifas, o furacão. No caso de Trump, esta estratégia é suportada por uma máquina de comunicação eficaz, segmentada para a sua base eleitoral, que durante a campanha produziu 5,9 milhões de anúncios no Facebook, em contraposição aos 66 mil anúncios da campanha de Hillary Clinton..O artista erudito acredita que a sua obra eleva a cultura. “O que seria da arte se déssemos ao povo o que ele quer.” O mesmo acontece na política. Existe um preconceito do eleitor erudito que menospreza a decisão popular quando os improváveis são eleitos. Sejam os populistas, os extremistas, as celebridades, os excêntricos..A “entrevista” ao líder do PAN no programa Gente Que não Sabe Estar tem o dobro dos likes no YouTube das entrevistas aos líderes dos outros partidos. Estes likes são uma resposta ao humor de Ricardo Araújo Pereira, à prestação de André Silva ou à popularidade do partido?.Em véspera de eleições legislativas, destaca-se uma vez mais o supérfluo, demonstrando que os bastidores da política não retiram atenção às três mensagens que o eleitor consegue reter. Cartazes de propaganda com slogans inócuos enfeitam rotundas. Nas redes sociais triunfa o diferente, o humor, por vezes o ridículo. Os grandes partidos disputam sondagens, os partidos alternativos disputam visualizações no YouTube. E o eleitorado da maioria move-se como uma corrente marítima, pesada, lenta, impassível..Dizem que a transformação política apenas acontecerá quando as novas gerações estiverem em lugares de poder. Não é suficiente poder escolher, é preciso poder agir. A campanha eleitoral, em todas as suas plataformas, vai dar-lhes voz e votos. É importante que quando lá chegarem tenham ideias próprias e não reações às ideias dos adversários..Managing director da OMD