Flats & Houses: Quando das ruínas nascem palácios

A empresa de Cláudia Borges apostou na reabilitação de antigas casas de pescadores de Setúbal. Ainda antes de estarem concluídas, as pequenas moradias já estão vendidas.
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Flats & Houses by Cláudia Borges é a concretização de um sonho, de uma vontade imensa de iniciar um novo percurso profissional, de, ao invés de alimentar os sonhos dos outros, tornar o seu realidade. Depois de 15 anos à frente de uma agência de viagens em Setúbal, de assinalar no mapa-múndi a passagem por mais de 50 países, Cláudia Borges resolveu dar o salto para uma nova vida. Na bagagem, levava já um pequeno ensaio. Em tempos, comprou uma casa nesta cidade de pescadores, deu azo à sua vontade de pôr mãos à obra, recuperou todo o espaço e vendeu o imóvel. A experiência só lhe alimentou ainda mais o bichinho dos projetos de reabilitação. "Já ia para a agência contrariada. Pensava, tenho quase 40 anos e vou fazer o mesmo a vida toda? O que eu gosto mesmo é de andar nas obras, de escolher torneiras e bidés". Quase por acaso, surgiu a oportunidade de vender a agência de viagens e não hesitou. Partiu para a nova aventura.

Os degraus foram escalados em pequenos passos. A primeira viagem neste ambicionado novo mundo foi um contrato de franchising com o "Querido Mudei a Casa". Foram dois anos a ganhar experiência, contactos, confiança e a traçar o percurso que a levaria à materialização do seu sonho. A recetividade dos clientes - muitos da antiga agência, a rede de amigos e familiares, e, por fim, aqueles que chegaram do passa-palavra -, deu o empurrão final. Como conta, em voz alegre, "disseram-me que eu transformo ruínas em palácios". Terminado o contrato e já com um pequeno suporte financeiro, começou a investir em imóveis velhos na zona histórica de Setúbal. Agora, "compro, reabilito e vendo". Atualmente, a empreendedora sadina responde por um portfólio de mais de uma vintena de casas recuperadas em Setúbal, a maioria pequenas moradias de antigos pescadores da cidade, tudo sob alçada da marca que criou: Flats & Houses by Cláudia Borges.

O negócio tem sido um sucesso. Segundo revela Cláudia Borges, 80% das moradias recuperadas são adquiridas por estrangeiros e ainda em fase de projeto. Nos próximos dias, será assinada a escritura de venda de um imóvel a um casal de ingleses que nunca visitaram presencialmente a casa. "Foi tudo por video calls. Têm um advogado que os representa e que vai assinar a escritura", diz. Um processo pouco habitual, mas que o modelo de negócio que imprimiu agiliza. Como refere, logo que o projeto de reabilitação está concluído em 3D (integra a recuperação do edifício, mas também decoração e mobiliário) é colocado em portais imobiliários internacionais pelas três agências imobiliárias com quem trabalha. "Numa a duas semanas após o início da obra, as casas estão vendidas", sublinha.

Para Cláudia Borges, o êxito do negócio deve-se ao seu respeito pelo caráter original do imóvel. "Respeito os valores tradicionais da arquitetura portuguesa, mantenho as características das casas, a traça, dou privilégio ao uso de materiais de construção antigos, como a azulejaria", com toques, sempre que possível, de modernas comodidades como um jacuzzi no exterior ou uma pequena piscina, que pode ser vista como um tanque rústico ou um espelho de água. "Olha-se para uma casinha de pescador, uma fachada com uma porta e duas janelas, e atrás é um mundo!", diz enfática.

Cláudia Borges conta também a história da moradia Santo António, construída por um pescador e vendida pelo neto, a quem prometeu preservar a imagem do santo na fachada, em nome da memória do avô. "São características que faço questão de preservar, são únicas e conferem autenticidade e carisma aos imóveis". Neste momento, está em processo de criação. Um dos projetos, que designará de Oficina, era uma antiga carpintaria e que a empreendedora quer transformar num loft de 100 metros quadrados - "talvez seja comprada por um solteirão", aponta.

Às portas de Lisboa

Setúbal tem sido muito procurada por investidores estrangeiros nos últimos anos. A experiência de Cláudia Borges diz-lhe que a maioria adquire casa como segunda residência, rentabilizando o investimento nos períodos em que está vaga com arrendamentos de curta duração. Mas tem notado algumas alterações neste comportamento. Há estrangeiros para os quais Setúbal não era a primeira opção, mas começam a namorar a região, apercebem-se que os imóveis em Lisboa são muito mais caros, que a capital está a pouca distância, e que a região sadina tem bons estabelecimentos de ensino. E agora estão a chegar para viver.

Além da compra de imóveis para reabilitação e posterior venda, a Flats & Houses faz também obras de remodelação para terceiros, embora com a pandemia Cláudia Borges tenha colocado um travão nesta atividade. "A covid tem servido de desculpa para muitos atrasos e não tenho aceitado obras de clientes por causa disso. Acabam por me dar prejuízo". Nos negócios da empresária, destacam-se ainda dez casas reabilitadas, distribuídas por Setúbal, Comporta e Tavira, que explora em regime de alojamento local.

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