Gonçalo Rebelo de Almeida: "No Brasil, quase todos os estados querem um hotel Vila Galé"

O administrador do Vila Galé lou com o DN à margem da inauguração do 13.º hotel do grupo no Brasil, em Belém do Pará.
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé, e Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé
Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador da Vila Galé, e Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila GaléFoto: Gerardo Santos
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A expansão dos hotéis Vila Galé no Brasil está para continuar. Depois da inauguração do Collection Amazônia, em Belém do Pará, o grupo já tem em cursos novos investimentos em Cururipe, no Alagoas (incluindo o primeiro Nep, dedicado às crianças), e em São Luís do Maranhão, além de dois projetos ainda numa fase inicial em Brumadinho (Minas Gerais) e em Floripa (Santa Catarina). "No Brasil, quase todos os estados querem um hotel Vila Galé", disse ao DN o administrador do grupo, Gonçalo Rebelo de Almeida.

O segredo do sucesso do grupo que em quase 25 anos criou 13 hotéis em 10 dos 26 estados brasileiros é simples: "Porque temos demonstrado que quando fazemos, fazemos, não são promessas que depois se arrastam muitos anos. E depois pelo impacto que é notório nas regiões, na criação de emprego, de rendimento, até na geração de imposto adicional para os municípios", lembrou Gonçalo Rebelo de Almeida, explicando que esse impacto sente-se mais em regiões menos exploradas. "Há um grande interesse em captar este tipo de investimentos", acrescentou. "Vejo a semelhança do que já nos acontece há algum tempo em Portugal, em que estamos permanentemente a ser assediados com ofertas de privados, de hotéis existentes, de terrenos", indicou. 

No Villa Galé Collection Amazônia, que foi inaugurado oficialmente a 31 de outubro, esse investimento foi de 180 milhões de reais (cerca de 30 milhões de euros), depois de o fundador e CEO do grupo, Jorge Rebelo de Almeida, ter aceitado o desafio do governador do Pará, Helder Barbalho, e do ministro da Casa Civil do presidente Lula da Silva, Rui Costa, de abrir em apenas 11 meses um hotel a tempo da Conferência do Clima das Nações Unidas (COP30). E ambos não pouparam elogios ao empresário português na cerimónia de inauguração do novo hotel.

Três armazéns centenários que pertenciam ao antigo porto e são património histórico foram cedidos e transformados num dos hotéis de topo de gama do grupo, nas margens da baía do Guajará, junto à Estação das Docas, o Porto Futuro II ou o histórico Mercado Ver-o-Peso. "Sou um viciado em recuperar património histórico", disse Jorge Rebelo de Almeida na inauguração do hotel, considerando que "as cidades que não recuperam o seu centro histórico ficam sem alma".

São 227 quartos, dedicados às mulheres, além de duas piscinas exteriores e uma interior, um spa, dois restaurantes com os sabores da Amazónia e três salas de eventos (duas delas com capacidade para 200 pessoas). "Este Governo [de Lula] está empenhado em dinamizar o turismo e voltar a pôr o Brasil no mapa turístico internacional. Alguns destes eventos, como a COP30 aqui em Belém, complementam essa estratégia. Não é um evento relacionado com o turismo, mas o Brasil posicionar-se no mapa mundial dos grandes eventos acaba por ajudar", referiu Gonçalo Rebelo de Almeida.

Mas é preciso fazer mais, nomeadamente no que diz respeito ao transporte aéreo, não apenas nas ligações internacionais, como até internas. "As três companhias existentes estão mais ou menos congestionadas", explicou, dizendo que esse "constrangimento no transporte aéreo está a impedir o crescimento e a circulação quer entre os diferentes estados, quer de atração de maiores fluxos." O seu pai deu o exemplo do impacto que teve a Ryanair para o desenvolvimento do destino Porto.

Dez milhões de turistas

A previsão do Governo brasileiro, confirmou o ministro do Turismo, Celso Sabino, é chegar este ano a um recorde de dez milhões de turistas internacionais. Em comparação, Portugal tem 30 milhões – sendo que, pelo segundo mês consecutivo, houve uma quebra na entrada de turistas estrangeiros segundo os dados do INE.

"Portugal não está a perder o encanto, porque os atrativos estão lá há bastante tempo e acho que são bastante sólidos. Contrariamente àquilo que às vezes de diz, não foi uma questão de moda. Mas há alguma instabilidade nos mercados europeus emissores", referiu Gonçalo Rebelo de Almeida, admitindo que se o cenário se mantiver os Vila Galé podem ser afetados (em média, 60% do mercado do grupo é internacional).

Mas nada que preocupe o administrador, que considera que uns mercados vão compensar outros. "A nossa antevisão para o ano de 2026 é de um ano relativamente tranquilo em linha com o que foi o 2025 e o 2025 em linha com o 2024. Já não há euforias de crescimento, mas no fundo estamos a estagnar num nível aceitável de procura", indicou. E lembrou que há cinco novos projetos do grupo em Portugal: em Miranda do Douro, Penacova, Quinta da Cardiga, Paço Real de Caxias e, em Lisboa, o Palácio Almada Carvalhais.

Gonçalo Rebelo de Almeida considera que vai haver alguma estagnação no crescimento do número de turistas nos próximos anos, "não só porque essa é a curva do ciclo", como "o próprio constrangimento do aeroporto de Lisboa vai obrigar a isso". Em causa está não só o problema operacional do funcionamento do atual aeroporto, com congestionamento nas entradas e saídas especialmente do espaço Schengen – "que é preciso resolver urgentemente", defendeu – mas também o facto de a infraestrutura não suportar grande crescimento atualmente, à espera do novo aeroporto de Lisboa.

O grupo tem também quatro hotéis em Cuba e um em Espanha, em Isla Canela, com Gonçalo Rebelo de Almeida a admitir que este é um destino que continua a interessar ao Vila Galé. "Espanha continua a ser, talvez, aquele destino que gostaríamos mais de ter maior presença. Mas nem sempre entre a nossa vontade e o encontrar os ativos aos locais certos há uma correspondência. Às vezes temos de ser pacientes", indicou. O administrador lembrou que esse é um mercado muito desenvolvido do ponto de vista turístico, onde já estão todas as grandes cadeias hoteleiras, e por isso há menos oportunidades do que no Brasil, "onde há mais território para desbravar".

*A jornalista viajou a convite dos grupo Vila Galé e da TAP

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