Há seis anos que não havia tão poucos a mudar de emprego

Em 2021, apenas 7,7% dos trabalhadores trocaram de empregador, segundo o INE. Fenómeno "<em>the great resignation</em>" parece estar a passar ao lado de Portugal.
Publicado a

Se o desenrolar da pandemia trouxe a mercados de trabalho muito dinâmicos, como o norte-americano, um aumento significativo daqueles que se despedem à espera de ofertas com melhores condições e salários, Portugal parece estar a passar ao lado do fenómeno, apelidado em inglês de "the great resignation", ou a "grande demissão", em português.

No ano passado, a percentagem de trabalhadores que mudaram de emprego não foi além dos 7,7%, num mínimo de seis anos. É preciso recuar a 2014, aos anos finais da última crise, para encontrar um nível de rotatividade tão baixo no mercado de trabalho nacional.

Mesmo em 2020, ano de embate da pandemia e com maiores dificuldades na procura de emprego, a percentagem foi mais elevada, de 8,7% e mantinha-se nos dois anos anteriores acima dos 10%, mostra a primeira análise anual aos fluxos entre estados no mercado de trabalho, publicada ontem pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Em média anual, o INE estima que 335,6 mil tenham mudado de emprego em 2021, menos 11% do que os 380,7 mil que fizeram a transição no ano anterior, e menos 29,7% do que os 477,3 mil de 2019, ano com o maior número absoluto de mudanças entre trabalhos desde o início da série estatística, que arranca em 2012.

Sendo novos, os indicadores portugueses - e europeus - não avançam o número de despedimentos por iniciativa do trabalhador, aquela que tem sido a grande referência nas análises sobre uma tendência de recusa de participação no mercado de trabalho em condições ou salários vistos como insuficientes, após a pandemia ter penalizado fortemente o emprego em setores como o turismo e o retalho um pouco por todo o mundo. Administrativamente, no entanto, os dados sobre cessação de contratos por iniciativa do trabalhador são comunicados pelos empregadores através da Segurança Social Direta. O DN/ DinheiroVivo questionou a Segurança Social sobre a disponibilidade destes dados já no final do ano passado, mas não obteve resposta até aqui.

No caso norte-americano, o Departamento do Trabalho divulgou ontem estimativas de 2021 sobre o número de trabalhadores que apresentaram demissão. Terão sido 47,8 milhões, ou 32,7% do total. A nível europeu, as taxas de probabilidade de mudança de emprego exibidas até aqui pelo Eurostat não mostram grandes alterações nos países, mas os últimos dados disponíveis são ainda de 2020.

A redução da percentagem de trabalhadores que avançaram para novo emprego no ano passado coincidiu em Portugal com um máximo de população empregada, acima dos 4,8 milhões de trabalhadores, e com uma taxa de desemprego relativamente baixa, de 6,6%.

Ainda assim, há setores que não recuperaram os postos de trabalho. As atividades ligadas ao turismo contavam ainda no ano passado com menos 76,3 mil trabalhadores do que aqueles que tinham em 2019, as atividades administrativas e serviços de apoio com menos 26,2 mil, e as indústrias transformadoras com menos 25,2 mil. Têm sido estes os setores que mais se queixam quanto à dificuldade de recrutar mão-de-obra, ao mesmo tempo que outros - nas administrações públicas, atividades financeiras, e informação e comunicações, com salários mais elevados - deram emprego a perto de mais cem mil do que dois anos antes.

A possibilidade de haver mais mão-de-obra a recusar ofertas em favor do desemprego ou até da inatividade parece, à partida, afastada pelos dados do INE. Em 2021, a permanência no desemprego foi a mais baixa desde 2012, não indo além dos 109 mil indivíduos, ou 31,3% dos desempregados. A permanência na força de trabalho potencial - que inclui os desencorajados da procura de trabalho - também se alterou pouco, e é mais baixa do que em grande parte dos anos da última década. Passou dos 41,7 mil inativos em 2020 para os 46,5 mil no ano passado, representando 0,8% do total.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt