É inegável que o caminho para a estabilidade económica passa pela redução das dívidas. E quem já se aventurou no mundo das finanças pessoais em busca de auxílio sabe que há muitos métodos e abordagens antagónicas que em comum têm promessas de eficácia. Uns defendem a abordagem assente na lógica matemática e financeira - pagar primeiro as dívidas com juros mais elevados ou as mais avultadas; outros apelam à motivação e ao incentivo psicológico, que podem assumir um grande peso numa tarefa que exige disciplina e até algum sacrifício..O método snowball, ou bola de neve, em português, é um dos mais conhecidos e diferencia-se precisamente por obedecer à lógica comportamental, ao invés da lógica financeira, e resume-se numa frase: dar prioridade ao pagamento das dívidas mais reduzidas, por serem mais rápidas de saldar. A motivação decorrente de acabar com uma dívida é a chave do sucesso desta fórmula..“Este método parte de um paradigma que faz sentido: a nossa relação com o dinheiro é mais emocional do que racional”, diz João Raposo, consultor financeiro na Reorganiza, destacando que “é essencial, para que alguém se liberte da escravidão das dívidas, uma noção de progressividade” e de “retorno do esforço”. O especialista defende, contudo, que apesar da compensação “afetiva e emocional muito mais evidente”, o método é mais eficaz quando estão em causa dívidas com taxas de juro semelhantes: “O custo do empréstimo está refletido na taxa de juro e quanto maior a taxa, mais caro é. Matematicamente será melhor libertar-me desse crédito primeiro.”.Leia também: 15 hábitos de quem se tornou milionário.É precisamente por ser “contraintuitivo” que Susana Albuquerque, secretária-geral e coordenadora de educação financeira da Associação de Instituições de Crédito Especializado (ASFAC), considera o método snowball eficaz. De acordo com a experiência de aconselhamento da especialista, esta técnica “é eficaz num aspeto essencial para sair de uma situação de dificuldade financeira: perceber que se tem a capacidade, a resiliência e a força para ultrapassar a situação”. Mas ressalva que a sua eficácia dependerá sempre “da pessoa e da situação específica” em que se encontra..Há vários estudos que comprovam a eficácia deste método. Um dos mais recentes, focado nos cartões de crédito e publicado no final do ano passado na Harvard Business Review, diz que os indivíduos que o experimentaram conseguiram saldar as dívidas 15% mais depressa. O mesmo estudo dá conta de um aumento da perceção de progresso e da consequente motivação para o sucesso e prova que, em termos de motivação, é mais importante ver diminuir o valor em dívida do que o saldo que sobra após o pagamento..Para João Raposo, “a redução do endividamento é o melhor investimento”. É, de acordo com o consultor financeiro, “um investimento que não tem qualquer risco e que tem um retorno muito maior do que qualquer depósito a prazo”. Mas requer um planeamento cuidado e a preparação de um plano. E fica o alerta: se acha que está em risco de sobre-endividamento, não arrisque. Procure aconselhamento na Rede de Apoio ao Consumidor Endividado, no Gabinete de Apoio ao Sobre-Endividado da Deco ou na ASFAC.