IKEA quer mais clientes a comprar móveis usados
Reinaldo Rodrigues

IKEA quer mais clientes a comprar móveis usados

Mercado de produtos em segunda mão deverá duplicar até 2030, globalmente. A IKEA pretende estar na vanguarda da mudança e passou a integrar artigos usados na sua loja online. Ao Dinheiro Vivo, Oskar Johansson explica o porquê da aposta e os objetivos da empresa
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Foram precisos menos de dois anos para que os clientes da IKEA escolhessem mais de quatro mil artigos usados ao invés de novos, o que gerou uma receita de quase 250 mil euros à empresa sueca. O lançamento da Área Circular Online, em 2024, abriria caminho para aquilo que a IKEA apresenta agora: a integração dos produtos em segunda mão junto da sua oferta regular de produtos novos. Uma opção que é apresentada como “natural” por Oskar Johansson, Country Sales Manager da IKEA Portugal, em declarações exclusivas ao Dinheiro Vivo.

De forma muito simples, para utilizar o serviço IKEA Segunda Mão - Marketplace, basta que o vendedor tire uma fotografia ao produto e a Inteligência Artificial gera automaticamente a descrição do artigo. Depois, quando o artigo for vendido, pode optar por receber o valor da revenda do seu produto através de transferência bancária ou num cartão devolução, que pode gastar nas lojas IKEA por um prazo de 12 meses. Nesta última opção, a empresa oferece um bónus de 15% sobre o valor de venda acordado. E a IKEA garante que todos os produtos são inspecionados, limpos e preparados para ser vendidos. Ou seja, agora, e à semelhança do que já acontece em outras plataformas de retalho de diferentes áreas, quando quer comprar um sofá, irá encontrar não só o produto novo, mas também as possibilidades de sofás usados que tem à disposição.

“Há três razões principais que contribuíram para esta nossa decisão”, elenca: “primeiro, a questão de acessibilidade. Ou seja, tornar os produtos acessíveis a mais pessoas em Portugal, através do mercado de segunda mão, é uma excelente oportunidade. Porque sabemos que, em diferentes níveis de preços, os produtos em segunda mão são quase sempre mais baratos do que os novos. Ou seja, do ponto de vista estritamente da acessibilidade, o mercado de segunda mão é uma iniciativa fantástica para nós”, nota, usando também o atual momento económico das famílias para suportar a ideia.  “A segunda razão são os aspetos de sustentabilidade ambiental, que são um sweet spot para nós. Talvez seja desnecessário dizer que vai contribuir para uma marca IKEA mais circular e também para responder a essa alteração na procura dos consumidores”, admite. “A terceira coisa, que talvez não seja tão óbvia, eu diria que é a qualidade. Acho que é uma forma incrível de demonstrarmos que os produtos da IKEA podem durar, passando de mão em mão ou de casa em casa”.

A frase é dita enquanto passa os olhos pela loja, no meio da qual estamos sentados a conversar. Oskar está em Portugal há cerca de três anos, e diverte-se de cada vez que entra nas lojas da marca. Pediu especificamente para que o nosso encontro acontecesse no meio da área de exposição, porque acredita que é assim é mais fácil passar a mensagem. A música de Natal que ouvimos ao fundo confunde-se com as decorações que já enchem o espaço, enquanto famílias vão passeando por entre os móveis expostos.

“Sabemos que temos produtos de qualidade, mas também queremos que os nossos consumidores o saibam. E acho que isso também vai ajudar a esclarecer isso”.

Numa altura em que o prazo limite dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável pensados pela ONU está quase a chegar (2030), as empresas querem manter as suas estratégias ainda mais alinhadas com aquilo que são as mudanças inevitáveis do consumo e dos consumidores. E, apesar de em Portugal, a circularidade e o comércio de bens usados ainda serem hábitos relativamente novos, a verdade é que o país parece estar a amadurecer nestes segmentos.

Foi por isso, também, que entrou na lista dos que foram escolhidos – a par com a Espanha e a Noruega – para a implementação inicial do serviço IKEA Segunda Mão. “Os dados mostram-nos que, até 2030, haverá um crescimento de 50% neste mercado, em relação ao que temos hoje. E isto em cinco anos, ou seja, é um crescimento muito grande. Se essa projeção estiver perto de se concretizar, é claro que queremos fazer parte desse movimento”, salienta. “Mais do que crescimento ou de receita, este movimento pode tornar-se relevante para nós por muito boas outras razões”, considera. “Mas quem sabe em 2050 não seja relevante nessas também? Mas se não começarmos a explorar e atestar agora” será difícil de perceber, admite.

O facto de a iniciativa ter sido lançada perto no Natal acabou por ser apenas uma coincidência que Oskar, no entanto, vê com bom olhos, uma vez que pode servir como uma espécie de teste a estes movimentos de consumo cada vez mais conscientes.

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