Embora os partidos de extrema-direita tenham subido nestas eleições, ainda são as grandes famílias do centro político que detêm a maioria dos lugares no Parlamento Europeu. Isso significa que o Partido Popular Europeu (onde estão PSD e CDS), o Socialismo & Democracia (onde está o PS) e o Renovar a Europa (onde está o IL) deverão continuar a poder ter condições para levar a cabo as iniciativas estratégicas de maior relevância que estão em prática - desde que se consigam entender inicialmente em torno de uma liderança (Ursula von der Leyen tem legitimidade para fazer um segundo mandato), e em torno de um programa para o mandato de cinco anos, que poderão ter contornos e desafios estratégicos de monta para o continente europeu, não apenas a nível geopolítico, mas também a nível económico e social..Ou seja, não é de esperar que se registem enormes alterações imediatas no rumo económico. Mesmo com a perda de influência dos partidos ambientalistas, o que está atualmente definido como prioridades nas metas de carbono zero dificilmente será alterado. Claro que, ao mesmo tempo, a construção de um green deal com medidas mais ambiciosas será menos provável, mas a UE não deixará de ser um dos maiores campeões a nível global das alterações climáticas, e da sustentabilidade. Até porque a autonomia energética pós invasão da Ucrânia e desafio de transição digital são objetivos incontornáveis da União Europeia. Haverá provavelmente um enfoque maior deste mandato no que diz respeito ao setor da segurança, ou da política industrial..Continuam a existir alguns riscos, mas são controlados. A combinação de uma construção de maioria mais complicada no Parlamento Europeu do que esperado inicialmente, e a mudança para partidos e políticas mais nacionalistas, tanto a nível europeu como nacional, significa que os grandes projetos europeus transfronteiriços têm menos probabilidades de serem finalizados ou desenvolvidos - por exemplo, a união dos mercados de capitais ou nos novos veículos comuns de investimento europeus. Mas a ascensão de partidos eurocéticos provavelmente fará sentir-se em áreas políticas como a segurança e a imigração do que em áreas económicas tradicionais..Apesar disto, a nível regional, se nada for feito para aumentar a coesão social e integração, podemos estar perante uma bomba-relógio política com implicações a médio prazo. As consequências nacionais dos resultados eleitorais poderão alterar os parâmetros da cooperação da UE, com uma maior mudança para a agenda interna. Por enquanto, o risco de novas tensões na dívida soberana permanece limitado à França e até às eleições legislativas..Contudo, um ciclo de extrema-direita eurocética em muitos países de relevo na EU poderá levar ao lançamento de políticas fiscais mais flexíveis a nível nacional, seja através de estímulos pró-crescimento ou simplesmente de mais transferências sociais. Isto poderá, consequentemente, trazer novas tensões com a Comissão Europeia, e o regresso da incerteza para os mercados financeiros, sobretudo visível nos prémios de risco, embora a possibilidade de uma nova crise soberana seja sempre bastante remota. Poderá talvez, a médio prazo, causar um afastamento gradual dos investidores financeiros da União Europeia, pouco confiantes na estabilidade do projeto europeu, e na capacidade de criar valor económico futuro com retornos apelativos..Luís Tavares Bravo, economista, presidente do Internacional Affairs Network