
O setor do fitness em Portugal está num processo acelerado de consolidação. A SC Fitness, detentora das marcas Solinca e Element, incorporou no primeiro trimestre deste ano seis espaços Kalorias, uma unidade Holmes Place e dois ginásios independentes. E tem já em curso quatro outros processos de aquisição para concluir ainda em 2024, que integram a meta de abrir mais de 25 clubes neste exercício, revela Bernardo Novo, CEO da empresa do grupo Sonae ao DN/Dinheiro Vivo. Este movimento da líder da indústria do fitness no país deverá ser acompanhado pela entrada de novos operadores internacionais no mercado. Enquanto isso, a SC Fitness prepara-se para ganhar escala na Europa, com a abertura dos primeiros quatro ginásios na Chéquia.
As peças deste negócio não param de se mover. Este mês, soube-se que a rede Fitness UP está à venda. Esta cadeia, fundada por Hélder Ferreira, tem perto de 50 ginásios, a maioria concentrada no Norte do país. Contactada, a empresa com sede em Famalicão não adiantou quaisquer informações sobre a eventual transação, nem dados da atividade. Já a SC Fitness não deu indicações de estar interessada em adquirir a rede. “As notícias de 2024 que conheço sobre esse tema são deste mês e referem uma eventual venda com mandato de assessoria financeira entregue à Clearwater, depois de uma ajuda do Banco do Fomento; não sei mais do que isso que foi tornado público”, afirma Bernardo Novo.
Segundo José Júlio Castro, presidente da Portugal Activo, associação que reúne as empresas da indústria portuguesa de fitness, o interesse de operadores internacionais que existiu antes da pandemia, e que foi por ela interrompido, regressou. “Acreditamos que os próximos anos tragam novas empresas a operar em Portugal”, nomeadamente no segmento low-cost, diz. A Fitness HUT, marca do grupo espanhol Vivagym, admite existir “muita margem para crescer” no mercado nacional e, por isso, pretende continuar a expansão da rede “premium low-cost”, como define o seu modelo de negócio. A empresa, que explora 41 ginásios, reconhece “que estão a chegar mais operadores e que o setor está em processo de consolidação”, mas há “mercado para todos”, adianta fonte oficial.
O gestor da Sonae também acredita que se continuará “a assistir a movimentos de consolidação, com reforço da posição de alguns operadores”, e lembra as “variáveis, como o marketing e os sistemas de informação, que requerem investimentos significativos mais facilmente rentabilizáveis quando existe escala”. Na sua opinião, “o mercado português ainda está muito fragmentado no nosso negócio e, à medida que amadurece, deve consolidar e expandir”.
700 mil praticantes
O setor ainda não conseguiu regressar aos níveis da performance registada em 2019, ano anterior à pandemia que ficou marcado por indicadores recorde. Mas começa a aproximar-se e há até um parâmetro que já foi ultrapassado: o número de praticantes. Como aponta José Júlio Castro, “em 2022, tínhamos já registado um aumento em relação ao período de antes da pandemia [em 2019, contavam-se 688 mil] e estimamos que já tenhamos, em 2023, ultrapassado os 700 mil praticantes”. A oferta de espaços também já apresenta sinais de forte recuperação. As estimativas da associação são para a existência de mais de mil ginásios no país, que compara com os 1100 em funcionamento antes da crise pandémica.
Já a faturação está ainda longe dos 289,3 milhões de euros registados em 2019. As contas do ano passado ainda não estão fechadas, mas há “já alguns indicadores que permitem afirmar que existe um acréscimo na faturação dos ginásios em Portugal na ordem dos 15%”, ou seja, rondará os 264 milhões de euros. E isto “apesar do crescimento já significativo do número de praticantes”. Como explica, uma das razões “será, sem dúvida, o crescimento de ginásios de baixo ou médio preço. Só cerca de 10% serão do segmento premium”. No ano passado - marcado pelo aumento do custo de vida -, também “não houve aumentos de preços significativos”, o que “muito contribuiu para o aumento do número de utilizadores dos clubes”, realça.
A SC Fitness fechou 2023 com 44 clubes em operação (30 Solinca, 14 Element), tendo registado um crescimento de 23% no volume de negócios e 14% nos sócios ativos. Para Bernardo Novo, a faturação registada no ano passado “reforçou a nossa posição de liderança no mercado português, aproximando-se dos 50 milhões de euros”. A empresa investiu cerca de seis milhões nos clubes existentes e na abertura de quatro novas unidades Element. A Fitness HUT melhorou em “todos os indicadores” - número de sócios, receitas e EBITDA -, num exercício marcado pelo “aumento da concorrência e o aumento dos custos”, disse.
Para este ano, o presidente da Portugal Activo perspetiva que o setor continuará a crescer em número de praticantes e de faturação, apoiado “no desenvolvimento das empresas portuguesas e na vinda de alguns operadores estrangeiros”. A atividade tem também verificado um “crescimento já muito visível de pequenos estúdios, que vai também contribuir para o nosso desejo de atingir, pelo menos, os 8% de taxa de penetração em 2026, contra os cerca de 7% que registamos hoje”.