Inflação não trava procura por férias e corrida às viagens dispara 20% para novo recorde

Nunca se venderam tantas viagens no início do ano como em 2024, apesar do aumento dos preços. Agências de viagem dizem-se “espantadas” com corrida dos portugueses aos pacotes de férias e antecipam ano histórico.
Leonardo Negrão
Leonardo Negrão
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“Os portugueses estão a comprar férias como nunca tinham comprado”. O balanço é do presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira, que explica que nos primeiros meses deste ano a procura por viagens subiu 20% face a 2023, aquele que foi  o melhor ano de sempre para o setor.

Apesar da atual conjuntura económica, “pautada pela subida das taxas de juro, perda do poder de compra, instabilidade política e guerras” a verdade é que as agências de viagem estão a ultrapassar todos os recordes de vendas. “Venderam-se muitos milhões de euros de reservas de verão na Bolsa do Turismo de Lisboa (BTL). O verão já está a aquecer e, aparentemente, está a haver antecipação de reservas. Os operadores foram ambiciosos e reforçaram quer no médio curso quer no longo curso e nas operações charter. Temos mais capacidade de transportar portugueses para os diversos destinos e ainda assim a grande verdade é que continuam a comprar como nunca”, indica.

Pedro Costa Ferreira assume-se “espantando” com o elevado apetite dos portugueses por viajar depois dos números históricos de 2023. No início do ano, as perspetivas desenhavam-se mais tímidas e o objetivo era o de tentar igualar o ano passado mas, na verdade, o cenário está a ser de crescimento. “Não podemos explicar porque é que isto está a acontecer, apenas podemos relatar que  está, de facto,  a acontecer”, adianta.

A surpresa da evolução das vendas ganha também músculo ao olhar para os preços. Comprar uma viagem este ano, seja em Portugal ou para o estrangeiro, está mais caro. O diretor geral de vendas e marketing da Agência Abreu refere que no pacote final são os hotéis que apresentam uma maior subida, contrariamente às “componentes aérea e de operação turística que registam subidas mais modestas”. Pedro Quintela admite que “os valores da hotelaria portuguesa têm vindo a aumentar e isso faz com que alguns destinos estrangeiros de proximidade se tornem mais apelativos e competitivos, comparativamente a alguns destinos nacionais”.

O presidente da APAVT assume a concorrência. “Sim é possível ir para as Caraíbas ou para Cabo Verde a um preço mais barato do que para alguns sítios em Portugal”, aponta. Ainda assim, sublinha  que não existe um “efeito de substituição”.

“Portugal manter-se-á, este ano, como o principal destino de férias dos portugueses. Ao longo do país há uma nova oferta utilizada cada vez mais pelos portugueses. O maior sucesso da Madeira nos últimos anos foi o mercado interno e temos de pensar também no êxito dos Açores. Tudo está a crescer, não creio que se possa dizer que pelo facto de no mundo existirem ofertas mais agressivas e de os portugueses viajarem também mais para fora estão a fugir de Portugal. Estão a escolher entre as várias oportunidades as boas oportunidades que existem fora de portas”, atesta Pedro Costa Ferreira.

O diretor operacional da Lusanova corrobora o argumento e afirma que a sede de viajar é transversal no território nacional e estrangeiro. “As reservas para os Açores e Madeira aumentaram em comparação com 2023, assim como a procura por destinos de longa distância, como Índia, Japão, China, Tailândia, Vietname e Canadá”, enumera o porta-voz do operador turístico.

Tiago Encarnação explica ainda que a Lusanova antecipou a programação este ano para “fazer face à procura sentida logo no início de 2024”. “É comum que os preços dos pacotes turísticos aumentem em comparação com o ano anterior, no entanto, notamos que esse aumento de preços não parece ter afetado a procura e a escolha dos destinos da nossa oferta. Não teve nenhum impacto na procura pelos nossos destinos”, assinala.

E para onde estão os portugueses a comprar férias? Disneyland Paris, Cabo Verde, Marrocos, ilhas espanholas, Tunísia, Creta, Senegal e São Tomé são alguns dos destinos com maior procura, já consolidada nos últimos anos. No longo curso, Republica Dominicana, México, Cuba e Brasil são os preferidos.

Mas fora da oferta de sol e praia, as contas também são positivas. A Pinto Lopes Viagens, que organiza viagens em grupo, culturais e de autor, destaca “uma procura acima do normal por viagens temáticas”. Os destinos na Europa e na Ásia assumem o favoritismo  e o top é ocupado pelo Japão, a Índia, Argentina e Chile, Peru e Emirados Árabes Unidos, mas há um crescente interesse por destinos “fora da caixa” como o Iraque, Coreia do Norte, Antártida, Alasca, a Arábia Saudita, Angola e Zimbabué. “Apesar da conjuntura macroeconómica, as perspetivas são de que os portugueses vão continuar a viajar. Pelo menos no que se refere ao nosso cliente-tipo, temos a convicção de que este não vê o ato de viajar como um custo, mas sim como um investimento”, diz o CEO, Rui Pinto Lopes.

O primeiro trimestre ainda não chegou ao fim e, a manter-se o nível da procura as agências estão otimistas num novo ano recorde, indica o presidente da APAVT. “Há ainda muita operação de verão para ser vendida. Ainda é cedo para confirmar [um novo recorde] mas se compararmos as vendas com igual período do ano passado estamos francamente em crescimento e tudo perspetiva de que este ano seja melhor, por muito que me possa espantar”, conclui Pedro Costa Ferreira. 

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