Infraestrutura mundial em debate 

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Em 2023 e talvez anos seguintes, não se espera apenas uma tendência recessiva para as economias mais desenvolvidas e outras. Prosseguirá também uma reponderação de muitos aspetos da globalização.

Alguns países, como a China, apostarão mais do que até aqui no consumo interno para mitigar ou evitar as tendências recessivas e manter um nível de crescimento razoável, absolutamente essencial para evitar tensões internas. Do discurso chinês ao mais alto nível parece resultar um esbatimento da aposta nos gigantescos projetos da belt and road initiative e talvez até uma reorientação estratégica e comunicativa. É um dos assuntos com impacto global a seguir atentamente.

Noutras paragens mais próximas de Portugal e do Brasil, aquilo a que se assistirá nos próximos anos é, seguramente, uma onda de investimentos vultuosos em infraestruturas. Todavia, a evolução geopolítica recente, que, eventualmente, se aprofundará, leva a que os investimentos em infraestruturas sejam reorientados, embora sem cortar totalmente com a lógica anterior.

Continuará a haver investimentos que decorrem da lógica da globalização dos mercados e das supply chain. Porém, com ajustamentos. Muitos Estados sentem que a falta de segurança e de confiança nas cadeias de abastecimento desenhadas pelo movimento globalizador determina a reinternalização de processos de produção e de distribuição que se tinham externalizado, designadamente para o extremo Oriente. Isso implica o reforço do investimento em certo tipo de infraestruturas com "vista para dentro" e não para fora.

Por outro lado, mesmo as que concernem aos mercados externos vão ser condicionadas pela evolução geopolítica. Muito possivelmente, as tendências serão para privilegiar as ligações com aqueles em relação aos quais existem laços de natureza política, de confiança e de proximidade civilizacional.

Acresce que o tipo de infraestruturas a construir vai sofrer alterações de prioridades ou pelo menos de ênfase. As questões ambientais e energéticas, com transição de fontes e de mercados, implicarão maciços investimentos em infraestruturas de produção de energia de fontes renováveis (eólico offshore, parques fotovoltaicos, hidrogénio verde) e do respetivo armazenamento e transporte, bem como do gás natural. Por esse e por outros motivos, infraestruturas ligadas ao transporte, como os portos e os terminais rodoviários, bem como as próprias vias de transporte, como as vias férreas e rodoviárias, serão seguramente repensadas.

O Brasil, com imenso potencial para ser um dos beneficiários líquidos destes movimentos globais, irá, certamente, ter uma palavra a dizer nesses vários planos. Além disso, impõem-se exigentes e urgentes reforços do investimento em infraestruturas de serviço às populações, estreitamente ligadas ao cumprimento da Constituição e ao bem-estar e em domínios onde continuam a existir défices enormes: infraestruturas da água, do abastecimento de energia, do saneamento básico, do tratamento de resíduos, de proteção ambiental, da habitação e dos meios de circulação.

O Fórum sobre Infraestruturas que o FIBE realiza de 16 a 18 de novembro de 2022, em Lisboa, com a participação de especialistas, académicos, políticos e empresários, tem a ambição de colocar a debate todos estes temas, de forma aberta e transformadora.

Presidente do Fórum de Integração Brasil-Europa

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