Inteligência artificial

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O relativamente consensual que as novas gerações vão dar por adquiridos valores sociais como a tolerância, a igualdade ou a diversidade que é, afinal, um dos princípios primordiais da sobrevivência das espécies, dos povos e das organizações. É igualmente aceite que esta evolução comportamental tem sido mais rápida em fatores de discriminação históricos como raça, sexo ou idade.

Existem, todavia, outros fatores de discriminação, como sejam a orientação política, religião, etnia cultural, incorporados nos comportamentos sociais e que, por isso, não se manifestam de forma tão evidente. Existe atualmente uma tensão entre a “inércia” dos comportamentos instalados, atribuídos às maiorias, e o desempenho “ativo” das minorias que reivindicam as suas causas.

A propósito da inteligência artificial, aplicada às relações sociais, tem sido debatido de que forma pode alterar ou propagar estes comportamentos. Por um lado, é possível programar o “algoritmo” para eliminar fatores de discriminação, por exemplo na avaliação das competências de um indivíduo para desempenhar uma determinada função. Por outro lado, é pretendido que o algoritmo aprenda e replique comportamentos humanos, que pela sua natureza discriminatória podem desviar este objetivo.

Na publicidade, o objetivo da utilização de inteligência artificial, de forma simplificada, é identificar padrões comportamentais em consumidores com maior propensão para adquirir um determinado produto. O resultado é uma melhor utilização do investimento publicitário, uma vez que a comunicação é direcionada para um público interessado. A consequência é a criação de segmentos de consumo que podem limitar o recrutamento de novos consumidores, que se distingam dos primeiros por terem interesses diferentes, mas que podem querer os mesmos produtos.

A utilização desta tecnologia pode trazer benefícios nos casos em que a oferta seja limitada, como, por exemplo, no mercado imobiliário. O problema é que ao segmentar possíveis consumidores com base nos que “mostraram interesse” por critérios como idade, poder de compra, localização, estão a ser excluídos outros indivíduos que podem legitimamente invocar discriminação, apesar de não preencherem estes requisitos de afinidade.

De certa forma, aproveitando a abordagem de Bertrand Russell, este debate pode ser colocado ao nível da filosofia, isto é, algures entre o conhecimento limitado da ciência e a certeza dogmática da teologia.

Segundo este autor, a ciência diz-nos aquilo que sabemos, e por isso é fácil ser insensível ao que não sabemos. A teologia, por sua vez, induz uma crença de conhecimento onde de facto existe ignorância.

Apenas a filosofia ensina a questionar, o que, num mundo em constante evolução tecnológica, significa não aceitar como necessárias as suas limitações.

Managing Director da OMD

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