Velocidades mais rápidas, maior disponibilidade de rede e, acima de tudo, baixa latência. Estas são três das principais características da quinta geração das telecomunicações móveis que têm prometido, ao longo dos últimos anos, revolucionar a utilização dos consumidores finais, mas sobretudo a economia..Diferentes setores de atividade podem tirar benefício do 5G, nomeadamente numa altura em que a transição digital, acelerada pela pandemia, faz parte dos planos estratégicos das organizações. Pedro Sanguinho explica ao Dinheiro Vivo que, à medida que a rede for sendo implementada pelos operadores e que surjam mais dispositivos capazes de a suportar, "será muito mais fácil começarmos a ver o mercado trazer soluções mais inovadoras" do que aquelas que vemos agora. "Estou em crer que este ano vai ser de grande mudança", perspetiva o senior manager da indústria de Tecnologia, Media e Telecomunicações da Deloitte..Para os utilizadores finais, aponta, as vantagens prendem-se essencialmente com a velocidade de transferência de dados, ainda que "muitas vezes já sejam [melhorias] impercetíveis" à maioria das pessoas. O verdadeiro poder disruptivo da tecnologia está na forma como pode ajudar a transformar os negócios, da agricultura à indústria, passando pela mobilidade. A "muito baixa latência" - o tempo entre o sinal dado pela rede e o momento em que é captado pelos dispositivos - é o ingrediente mais importante desta equação, a par da "alta capacidade de dispositivos no mesmo local". "Essas funcionalidades vêm com a segunda vaga do 5G, porque o core da rede tem de evoluir para suportar o 5G de uma ponta à outra. Essa transformação também já está a ser preparada pelos operadores", refere..Porém, aplicar as funcionalidades de ponta oferecidas pela quinta geração móvel a setores de atividade com desafios específicos exige um conhecimento profundo de cada uma destas indústrias. "O 5G tem, realmente, um poder de transformação muito grande, mas temos um gap de linguagem. Temos os que falam negócio e os que falam tecnologia", diz Pedro Sanguinho. É precisamente nessa intermediação entre uma componente e a outra, nessa tradução, que está o ganho. "As dores não são iguais em todas as empresas nem em todos os setores", reforça..Com mais de duas décadas de experiência, Pedro Sanguinho rumou à Austrália, onde viveu entre períodos de confinamento e foi acompanhando, no terreno, a implementação do 5G. Foi ali que apoiou organizações na transição para a nova rede móvel e de onde retira lições que, acredita, podem servir de aprendizagem para países como Portugal. Ao contrário do território nacional, a Austrália enfrentou desafios ligados à enorme área terrestre que caracteriza o país - o nosso país corresponde a apenas 1,2% da dimensão da Austrália. Desde logo, o foco na disponibilização rápida do espectro foi uma prioridade. "O governo australiano percebeu que o 5G era algo realmente importante para a economia, para a transformação digital do país e para promover o crescimento da economia digital. O que fez foi antecipar ao máximo", afirma..Em Portugal, o leilão do espectro prolongou-se por sete meses, empurrando o país para a cauda da Europa em termos da disponibilidade da rede. Na Austrália, embora este processo tenha sido "muito eficiente", com a operadora Telstra a lançar o serviço ainda em 2019, a cobertura geográfica levantou dificuldades ao setor. A maior parte da densidade populacional está concentrada junto às cidades, perto do litoral, pelo que o acesso nas zonas rurais, onde a existência de fibra ótica era escassa, demorou mais tempo. Contudo, foi a antecipação do governo local que permitiu evitar consequências maiores para a economia durante os sucessivos períodos de confinamento, devido à pandemia. "Face às dificuldades que eles têm com os serviços de rede fixa de fibra, se não fosse o 5G e a capacidade que colocou na rede móvel, o teletrabalho e o ensino remoto teriam sido um desastre", contextualiza..Por cá, há aprendizagens que se podem retirar da experiência australiana. "Temos muitas fábricas que, aos dias de hoje, não têm a conectividade que gostariam de ter. O investimento feito no 5G é fundamental para ajudar no desenvolvimento das zonas rurais, à implementação da indústria e ao desenvolvimento da agricultura", exemplifica o perito..Apenas com a implementação total do 5G standalone, que tem vindo a "aumentar rapidamente" na Europa, é que surgirão os casos de uso mais futurísticos. Para as metrópoles, o conceito de cidade inteligente poderá, finalmente, vingar, já que a baixa latência e elevada capacidade da rede serão capazes de suportar e conectar milhares de dispositivos em simultâneo. Na Austrália, foram feitos testes com realidade virtual (VR) e realidade aumentada (AR) em treinos remotos da Força Área, por exemplo. Em território nacional, existe já um hospital que utiliza a quinta geração móvel para a formação de profissionais e que, mais à frente, poderá vir a ser utilizada para intervenções cirúrgicas à distância..As opções de utilização para o 5G são muitas, em particular para as empresas. Uma agricultura mais tecnológica poderá ser mais produtiva e mais sustentável, assim como uma fábrica poderá ver ganhos na eficiência e na automação. "É muito importante que as empresas invistam no 5G", sublinha Pedro Sanguinho, que vê na tecnologia a solução para "ajudar a enfrentar os problemas de negócio"..Ajudar as organizações a compreender as potencialidades do 5G, mas sobretudo a calcular o retorno do investimento e a adaptar os casos de uso à realidade de cada negócio é a especialidade do senior manager da Deloitte. "Trabalhamos com as indústrias para fazer essa tradução de dores do negócio em soluções tecnológicas", reforça.