J.Lisbon. Roupa masculina na ponta dos dedos

José Cabral, conhecido como o Alfaiate Lisboeta, quer pôr os homens portugueses mais bem vestidos sem terem de se fechar num provador
Publicado a

Quantas vezes, ao descer o Chiado, não imaginou que, de repente, um desconhecido lhe pediria para o fotografar? Esse desconhecido apresentar-se-ia como o Alfaiate Lisboeta, dono de um blogue onde homens e mulheres anónimos com looks diferentes passariam a estar orgulhosamente expostos.

O blogue, criado há sete anos, tornou-se um sucesso que permitiu a José Cabral deixar o emprego num banco para perseguir outros sonhos. Mesmo sem nunca ter tornado o blogue num negócio.

Agora, José tem mesmo um negócio online. Chama-se J. Lisbon e é um site de roupa masculina com 23 marcas diferentes, onde o comprador não só sabe exatamente o que vai comprar, como ainda pode ter uma ajuda de como ou quando usar determinada peça. E nem precisa de sair de casa.

O mais estranho é que o dono do site nunca fez uma compra online: “Sentia que não havia informação suficiente, pormenorizada, que me permitisse fazer uma compra segura. Por isso, tentei criar uma plataforma onde me sentisse confortável a comprar roupa. O que é diferenciador no J. Lisbon é a forma como revoluciona a experiência de produto online.”

Aqui a descrição da peça vai mais longe, não se limitando ao tamanho e ao material de que é feito. Os textos, feitos por José Cabral, explicam a origem dos materiais, o conforto, mais-valia e até sensações. Todos os produtos são experimentados antes por José para que as descrições sejam o mais pormenorizadas possível.

“O online é muitas vezes visualmente pobre, com modelos com corpos de Adónis e com pouca informação. Tentei dar informação relevante, dar uma ajuda ao consumidor”, explica.

É por isso que todas as fotografias do site, de sua autoria, são tiradas na rua e não em ambiente de estúdio, com homens com vários tipos de corpos e alturas - amigos de José - com que o cliente se possa identificar.

No primeiro ano, e sem marketing nenhum, J. Lisbon fez 20 mil euros de faturação. Apesar dos milhares de seguidores do Alfaiate Lisboeta, José não quis misturar os sites. “Quis separar as coisas, porque cada uma vale por si. Eu adoro o Alfaiate Lisboeta e por isso é que nunca quis fazer daquilo um negócio.”

Com dez mil euros de investimento, saídos do seu bolso, o site demorou um ano a fazer. Ficou online em novembro de 2014 depois de seis meses de curadoria pessoal de José Cabral em busca das marcas que queria ter no site.

Começou com 15, hoje tem 23 marcas, 20 das quais são portuguesas, como a Bernardo M 42, a Wolf&Son, Green Boots ou a La Paz. Outras, como a Lobo do Mar, Dielmar ou Diniz & Cruz, só vendem no site do J. Lisbon. “Nós trabalhamos em drop shipping, ou seja, não há stock. Consegui que as marcas aceitassem trabalhar desta forma e aí valeu-me muito a confiança criada com o Alfaiate Lisboeta.”

Neste momento tem 150 clientes fixos, um dos quais, português, já comprou mais de dez vezes. 40% da faturação do site vem do estrangeiro, um mercado onde José quer apostar cada vez mais, daí a escolha do nome em inglês.

Mas, apesar de tornar o site mais acessível lá fora, não deixa de ter ligação ao seu criador e à cidade onde vive. “O J. Lisbon é para um segmento médio-alto mas, para algumas pessoas em Portugal, dar 100 ou 120 euros por uma camisa que não é Lacoste nem Gant não entra bem. Os homens estão muito menos conservadores em termos de roupa mas ainda há muitos preconceitos. Com uma loja online não posso ficar só por Portugal”, confessa.

Uma das marcas representadas no J. Lisbon é a Caiágua e consiste em impermeáveis de cores brilhantes, elegantes e divertidos, de materiais diferentes que fazem que qualquer pessoa anseie pela chuva.

“Quando chove, é uma coisa que te condiciona esteticamente, as pessoas sentem que vão menos giras ou menos atraentes quando está a chover”, explica José Cabral. A marca, criada com um amigo natural do Porto, teve uma primeira coleção com menos de cem impermeáveis, a 137 euros cada um. As vendas, exclusivas online no J. Lisbon, correram tão bem que na próxima vão ter dez cores diferentes, novos tecidos, quer para homem quer para mulher, e muitas mais peças.

Apesar de estar em vias de conseguir um grande investimento, que lhe permitirá, finalmente, ter uma equipa a trabalhar com ele, até aqui José Cabral fez tudo sozinho, desde as fotos aos textos, ao marketing, às contas, pagamentos, encomendas. Só não fez o site porque não sabe. “É tudo assegurado por mim. É um desafio tremendo, mas também uma enorme adrenalina.”

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt