"Os nossos 30.000 colaboradores russos estão a fazer o mesmo trabalho para estarem o mais próximo possível de uma população que não tem qualquer responsabilidade pessoal pelo deflagrar desta guerra. Abandonar os nossos colaboradores, as suas famílias e os nossos clientes não é a escolha que fizemos." É desta forma que a Auchan reage ao pedido de boicote da Ucrânia ao grupo, um dos poucos que mantêm atividade na Rússia.
"Como disse o Presidente francês Emmanuel Macron, 'não estamos em guerra com o povo russo'", afirma em comunicado a Auchan, explicando que o seu compromisso é "fazer tudo o que estiver ao alcance para assegurar que as pessoas nos países de operação tenham acesso a alimentos de qualidade a um preço acessível e assim satisfazer as necessidades alimentares básicas da população civil".
O chefe da diplomacia ucraniana apelou este domingo ao boicote da cadeia francesa de supermercados Auchan, após esta anunciar a intenção de manter a sua atividade na Rússia para apoiar o poder de compra dos cidadãos russos. "Aparentemente, as perdas de empregos na Rússia são mais importantes do que as perdas de vidas na Ucrânia", escreveu Dmytro Kuleba na rede social Twitter.
O grupo francês, porém, garante que a operação russa até dá prejuízo e que fornecer a população, maior vítima da guerra que Putin levou à Ucrânia e que a Auchan repudia - "apelamos veementemente ao fim dos confrontos" e "partilhamos do desejo de Zelensku de encontrar os meios para devolver rapidamente a paz", escrevem em comunicado -, é mesmo o único objetivo de manter a atividade.
"Desde o início da guerra, parámos os nossos investimentos na Auchan Rússia, que opera em total autonomia. A Auchan Rússia não está atualmente a obter qualquer lucro e, no contexto atual, prevê perdas para 2022", vincam. "Encerrar as nossas operações na Rússia seria considerado como uma falência premeditada que levaria à expropriação, o que reforçaria o ecossistema económico e financeiro russo, colocaria os nossos colaboradores e as suas famílias numa situação muito precária e privaria a população, num período de inflação elevada, dos serviços de um distribuidor discounter, que opera no país há 20 anos."
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, porém, realça outros efeitos e apela ao boicote, alargado às lojas de artigos para o lar Leroy-Merlin e à marca de desporto Decathlon, todas detidas pelo grupo empresarial francês Mulliez. "Se a Auchan ignora as 139 crianças ucranianas assassinadas neste mês de invasão russa, ignoremos a Auchan e todos os seus produtos."
Numa mensagem virtual recente à Assembleia Nacional francesa, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, apelou às empresas do país para que se retirem da Rússia e deixem de "patrocinar a maquinaria de guerra russa", aludindo concretamente à Auchan, assim como à fabricante de automóveis Renault. Em resposta, o grupo francês anunciou hoje que manterá a sua atividade na Rússia, argumentando que abandoná-la neste momento seria "inimaginável do ponto de vista humano". "O mais importante na nossa opinião é manter os nossos trabalhadores e garantir a nossa principal missão, a de alimentar o povo", disse o responsável do grupo, Yves Claude, ao semanário Le Journal du Dimanche.
A Auchan está presente na Rússia há 20 anos, tem cerca de 30.000 trabalhadores, dos quais cerca de 40% são também acionistas, e 231 lojas, que a empresa teme que sejam expropriadas se deixar o país.
A Renault, que tem na Rússia o seu segundo maior mercado, após a França, anunciou no dia do discurso de Zelensky a suspensão das suas atividades na Rússia devido à invasão da Ucrânia.
Com Lusa