Num estudo recentemente realizado pela Universidade Católica, no Porto, encontraram-se factos curiosos sobre o kiwi que são desconhecidos da generalidade da população..O primeiro diz respeito ao valor nutritivo deste fruto introduzido em Portugal na década de 70 do século XX, mas que só nos anos 2000 começou a ganhar expressão: o kiwi tem 1,7 vezes mais vitamina C do que a laranja, 1,7 vezes mais magnésio, 1,7 vezes mais potássio e 8 vezes mais vitamina E do que a laranja! O kiwi tem ainda mais fibra, mais proteínas e mais energia..O segundo facto diz respeito ao país de origem do fruto que, apesar de estar associado à Nova Zelândia, é, na verdade, proveniente da China, só tendo sido introduzido na Europa em 1903..Uma terceira curiosidade referente a este fruto tem a ver com as condições especialmente favoráveis que foram encontradas na Nova Zelândia, sobretudo na ilha Norte e que são, em termos de latitude, muito semelhantes às que verificamos existirem em Portugal, perto do litoral, desde Viana do Castelo até próximo de Coimbra. Ou seja, as áreas de cultivo favorável para a produção de kiwi em Portugal e na Nova Zelândia são equidistantes em relação ao Equador, cada uma no seu hemisfério, sendo, todavia, a área de cultivo aproximadamente 4 vezes maior na Nova Zelândia do que em Portugal..Adicionalmente, Portugal figura desde há vários anos na lista dos 10 maiores produtores mundiais de kiwi, com valores próximos das 55 000 toneladas por ano, numa área que se julga variar entre os 2800 e os 3500 hectares. Nesta lista encabeçada pela China, Portugal consegue níveis de produção superiores, inclusivamente aos Estados Unidos. Uma parte substancial da produção é para exportação, sendo o maior comprador a Espanha. A variedade Hayward é a espécie mais produzida em Portugal entre as regiões de Entre Douro e Minho e a Beira Litoral..Um quinto facto curioso vem da elevadíssima produtividade deste fruto por hectare. Enquanto num hectare se podem produzir 12 a 20 toneladas de uvas, 14 a 20 toneladas de maçã e 8 a 12 toneladas de pêssegos e laranjas, é possível produzir cerca de 30 toneladas de kiwis (embora estes valores se encontrem ainda presentemente na casa das 20 toneladas, na maior parte das explorações). O valor de venda situa-se, em média, cerca de 65% acima do valor de custo..Outro facto curioso advém da produção do kiwi ter em Portugal condições muito favoráveis ao seu cultivo, podendo vir a tornar-se numa das produções frutícolas mais rentáveis. O caminho para a transformação do kiwi no chamado "ouro verde", tem, todavia, sido moroso. A produção de kiwi é de cerca de 20/25 toneladas/hectares, em média. Para estes valores se poderem melhorar, ou seja, para se aumentar a produtividade por hectare, seria preciso mais investimento em poda, monda e no aumento da mão-de-obra. Por esta razão, a produtividade do kiwi em Portugal é ainda baixa, o que acaba por causar uma forte pressão sobre o preço desembolsado pelos entrepostos que se pensa ser cerca de 20% superior à real valorização do fruto, dependendo da categoria e do calibre - definidos por lei - assim como da quebra..Mas com o aparecimento de mais produtores, esta valorização terá de dar lugar a uma maior eficiência por hectare cultivado, sendo que o uso destes terrenos em Portugal pode vir a ter condições de gerar o dobro dos kiwis atualmente produzidos. A acontecer uma profissionalização efetiva, e a reduzir-se alguma da informalidade que é característica neste setor, a fileira terá condições de albergar mais produtores e organizações de produtores que poderão vender a sua produção a entrepostos de forma mais vantajosa para todos, daqui se esperando, não apenas uma colocação em melhores condições no mercado nacional, como também além-fronteiras, onde já é vendida mais de metade da produção nacional..Todavia, por enquanto, as tabelas de preço, em singelo, nem sempre são comparáveis, dado que nalguns casos incluem condições que devem também ser valorizadas, como por exemplo o transporte ou a imputação de quebras, e noutras, não. Ainda assim, apesar do setor ter alguns traços de informalidade comuns nalguns setores agrícolas em Portugal, alguns entrepostos fornecem já serviços bastante sofisticados até, com contratos que procuram conferir rigor e confiabilidade ao setor, e que podem incluir valências como o acompanhamento técnico especializado ao produtor, com enfoque em aspetos relacionados com a sustentabilidade e certificação do produto, e assegurando assim uma relação de maior garantia em termos das condições de entrega, serviços de transporte e logística de recolha de fruta junto dos próprios produtores..Nalguns casos, verificam-se condições de bonificação aos produtores que implementem referenciais de qualidade e sustentabilidade, bem como bonificação a parâmetros qualitativos da fruta (brix e práticas sustentáveis ao nível da produção), com oferta de serviços de pré-calibragem e gestão de quebras, assegurando-se assim níveis de transparência, nomeadamente em relação ao processo de calibragem, cumprimento de prazos de pagamento, e datas de fecho de campanha. Estes elementos são de valorizar aquando da comparação de preços e nem sempre estão presentes na fileira do kiwi, nem nas decisões de todos os intermediários que nela operam. Este constitui o sétimo facto curioso do kiwi..Em jeito de conclusão, pode dizer-se que uma das últimas curiosidades do kiwi em Portugal passa pela tomada de consciência de que se trata de um setor com níveis de produtividade e retorno acima de muitas das produções de frutos e legumes normalmente associados ao que é português, e que é um efeito de que este fruto não beneficia ainda. Ao contrário da laranja em que muitos consumidores dizem inclusivamente preferir pagar mais pelo produto nacional, no kiwi, o produto estrangeiro, não sendo organoleticamente melhor, consegue muitas vezes níveis de preferência superiores, o que demonstra alguma incapacidade, também por parte do consumidor, em perceber o verdadeiro potencial do "ouro verde" português..Susana Costa e Silva, docente da Católica Porto Business School