Lagarde vaticina que inflação muito baixa ou zero é algo que não voltará a acontecer

Na altura da pandemia, durante quase um ano, Europa teve inflação quase zero e até negativa. Antes disso, durante anos esteve abaixo de 2% ou de 1%, persistentemente aquém da meta do BCE (2%). Esse tempo não voltará, vaticina a banqueira central.
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"Não penso que vamos regressar ao ambiente de inflação reduzida que marcou os últimos anos", vaticinou Christine Lagarde, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), no debate final do Fórum BCE, que decorre em Sintra, Portugal.

Neste painel do fórum anual que serve para debater os grandes problemas atuais e as tendências políticas a serem seguidas pelos grandes bancos centrais dos países desenvolvidos participam ainda Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed, o maior banco central do mundo), Andrew Bailey, governador do Banco de Inglaterra, e Agustín Carstens, diretor-geral do Banco de Pagamentos Internacional.

Na altura da pandemia, durante quase um ano, Europa experimentou inflação quase zero e até negativa. Antes disso, durante anos esteve abaixo de 2% e mesmo de 1%, persistentemente aquém da meta do BCE (2%). Esse tempo não voltará, vaticinou a banqueira central.

Os últimos números da inflação, que na zona euro já furou a barreira dos 8% (em maio) e que em alguns países já vai nos 20%, estão a ser alimentados pelo choque nos preços do petróleo, dos alimentos e pela guerra contra a Ucrânia, impressionam Lagarde e o público em geral pela enorme disparidade face aos valores desses anos que precederam a crise da pandemia e das outras crises recentes, já deste século, como a financeira e bancária de 2007/2008 e a crise soberana de 2010/2014.

Por exemplo, quando a pandemia covid-19 se agravou muito, entre final do verão de 2020 e da primavera de 2021, a inflação europeia chegou mesmo a ser negativa. Os preços caíram, tal era a debilidade da procura, do consumo, das viagens, do turismo.

Globalizado e barato

Para Christine Lagarde, a inflação foi baixa durante muitos anos porque "a globalização permitiu manter os custos baixos".

Isto é como quem diz, China, Índia e tantos outros países asiáticos mais pobres e em desenvolvimento foram as fábricas do resto do mundo (componentes automóveis, informáticos, telemóveis, computadores, plásticos, roupa, calçado), tudo baseado em baixos salários.

Além do fator globalização, que recorde-se hoje está em xeque com o ambiente de alta tensão entre Ocidente e Rússia e China, a chefe do BCE nota que as expectativas dos agentes económicos para a inflação futura estão hoje muito mais elevadas do que antes, o que parece antecipar, com alta probabilidade, que a inflação realmente observada e sentida venha a ser bastante elevada nos próximos tempos.

Jerome Powell, o líder da Fed, considera que o ambiente de custos baixos e inflação mínima desse passado recente foi possível devido à globalização, ao crescimento baixo da produtividade e às novas tecnologias.

(atualizado 16h00)

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