Lisboa e Porto concentram mais de metade do poder de compra nacional

Dados do INE mostram que, em 2019, as duas áreas metropolitanas, em conjunto, concentravam 52% do poder de compra, mas apenas 45% da população do país
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Dos 308 municípios portugueses há 32 em que o poder de compra per capita é superior à média nacional. Metade deles estão nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Os dados são do Instituto Nacional de Estatística, são referentes a 2019, ou seja, do período pré-pandemia, mostram que, no conjunto, as duas áreas metropolitanas concentravam mais de metade (52%) do poder de compra, apesar de terem, apenas, 45% da população nacional.

Esta é a 14ª edição do Estudo sobre o Poder de Compra Concelhio, com o qual o INE pretende "prestar informação ao nível do município que traduza o poder de compra manifestado nestes espaços geográficos". São três os indicadores de síntese gerados - o indicador per capita (IpC), a percentagem de poder de compra e o fator dinamismo relativo - a partir de 16 variáveis como o rendimento bruto declarado para efeitos de IRS, o valor das compras nacionais pagas por multibanco ou dos levantamentos realizados em caixas automáticos, o crédito à habitação concedido, o volume de negócios das empresas ou o ganho médio mensal da população empregada por conta de outrem, entre outros.

O indicador per capita do poder de compra tem por referência o valor nacional de 100, sendo que, em 2019, a região continental atingia os 100,6 enquanto as regiões autónomas dos Açores e da Madeira se ficavam pelos 88 e 87,7 respetivamente. A Área Metropolitana de Lisboa, com 121,8, e o Algarve, com 100,8, constituíam as duas regiões NUTS II com valor acima do nacional.

Como referido, dos 308 municípios portugueses havia, em 2019, 32 com um poder de compra per capita acima da média nacional, com especial destaque para os territórios metropolitanos de Lisboa e Porto. Em contrapartida, há 139 municípios, número que corresponde a 45% do total, que apresentam valores inferiores a 75: das dez localidades com menor poder de compra: seis estão a Norte, três na Região Autónoma da Madeira e uma na região Centro.

Lisboa é, sem surpresa, a localidade que tem um indicador mais elevado, de 205,62, mas é também o único município com mais do dobro do índice, destaca o INE. Há ainda mais três municípios da Área Metropolitana de Lisboa e quatro da Área Metropolitana do Porto nas primeiras 15 posições da tabelas, correspondentes a localidades com um IpC superior a 110. São eles Oeiras (153,13), Alcochete (119,79) e Cascais (117,95) a Sul e Porto (154,02), Matosinhos (130,63), São João da Madeira (130,55) e Maia (110,64) a Norte.

Também as capitais de distrito, como Faro (130,57), Coimbra (126,28), Aveiro (121,75), Évora (117,78), Braga (108,78), Beja (105,28), Leiria (103,21), Portalegre (101,83) e Santarém (100,41)., apresentam valores de poder de compra per capita acima da média nacional, sendo acompanhadas, nas regiões autónomas, pelo Funchal (115,71) e por Ponta Delgada (107,96). O INE destaca, ainda, a performance dos municípios de Sines (127,63), no Alentejo Litoral, de Albufeira (114,05), Loulé (109,34) e Portimão (105,61) no Algarve e Castro Verde (105,45) no Baixo Alentejo.

Sobre a Percentagem de Poder de Compra (PPC), indicador que pretende avaliar o grau de concentração do poder de compra nos diferentes territórios, "tendo em consideração que as áreas de maior ou menor poder de compra no território nacional dependem, não só da distribuição do poder de compra per capita pelo país, mas também da distribuição espacial da população residente ", refere o INE, conclui-se que as regiões NUTS II Área Metropolitana de Lisboa e Norte concentravam dois terços (66,1%) do poder de compra manifestado regularmente no país.

"Para este resultado, contribuíam de forma mais decisiva a própria Área Metropolitana de Lisboa (34%), simultaneamente região NUTS de nível 2 e 3, e a Área Metropolitana do Porto (18%). No conjunto, os dois territórios metropolitanos representavam mais de metade (51,5%) do poder de compra manifestado no território nacional. Contudo, os dois territórios metropolitanos reuniam, em 2019, 44,6% da população do país (27,8% na Área Metropolitana de Lisboa e 16,8% na Área Metropolitana do Porto)", pode ler-se no estudo.

As sub-regiões com menor poder de compra localizam-se no interior Norte e Centro e são, por ordem crescente, Alto Tâmega, Beira Baixa e Terras de Trás-os-Montes. Além destas, também o Alentejo Litoral, o Alto Alentejo e o Baixo Alentejo contribuíam, individualmente, com menos de 1% para o poder de compra nacional em 2019.

A nível municipal, destaque para Lisboa, que representa 10% do poder de compra total do país. O INE indica que só 22 localidade mais concentravam, em 2019, mais de 1% do poder de compra nacional, entre os quais, estão Sintra (o segundo na tabela, com 3,6% do poder de compra nacional) Oeiras, Cascais, Loures, Almada, Amadora, Seixal, Odivelas, Vila Franca de Xira e Setúbal, na AML, e Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Maia, Gondomar e Santa Maria da Feira, na Área Metropolitana do Porto. A tabela é completada por Braga, Coimbra, Leiria, Funchal, Guimarães e Vila Nova de Famalicão.

Globalmente, e analisada a concentração do poder de compra nos 308 municípios portugueses, o INE concluiu que, em 2019, cerca de 7% e 21% dos municípios concentravam, respetivamente, 50% e 75% do poder de compra nacional. "Estes resultados suportam a leitura de que o poder de compra se encontra associado à dimensão urbana dos municípios e, portanto, territorialmente muito concentrado", sublinha.

Por fim, o estudo analisa o fator Dinamismo Relativo (FDR), que pretende refletir o poder de compra de manifestação irregular, geralmente sazonal, e que está relacionado com os fluxos populacionais induzidos pela atividade turística. Nesta perspetiva, é a região algarvia que se destaca, com 13 dos 17 municípios nacionais com um FDR superior a 1: Vila do Bispo, Albufeira, Lagos, Loulé, Aljezur, Lagoa, Tavira, Castro Marim, Portimão, Vila Real de Santo António, Silves, Monchique e São Brás de Alportel. De entre estes municípios, Vila do Bispo, Albufeira e Lagos destacavam-se com um FDR superior a 6 desvios-padrão. A estes juntam-se Grândola (2,692), no Alentejo Litoral, Nazaré (2,048) e Óbidos (1,920), ambos na sub-região Oeste, bem como Porto Moniz (1,261), na Região Autónoma da Madeira.

No extremo oposto há 51 municípios com um Fator Dinamismo Relativo inferior a -0,5, entre os quais estão alguns grandes centros urbanos, incluindo municípios das áreas metropolitanas de Lisboa (Oeiras e Vila Franca de Xira) e do Porto (São João da Madeira e Valongo), algumas capitais de distrito, como Beja, Portalegre e Coimbra, e ainda municípios do Alentejo (Campo Maior, Castro Verde e Vendas Novas), do Médio Tejo (Entroncamento) e da Região Autónoma dos Açores (Corvo).

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