Lula da Silva pode ser hoje o presidente da República e Sergio Moro um pária nos mundos jurídico e político mas, nem por isso, a Operação Lava Jato foi uma peça de ficção..Houve desvios multimilionários, num generoso intervalo de tempo, perpetrados por políticos que, grosso modo, garantiam obras estatais, nos níveis federal, estadual e municipal, a determinadas construtoras em troca de fortunas utilizadas, na maioria dos casos, para cobrir os gastos das campanhas eleitorais..Entre os citados, investigados e condenados por crimes de corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, organização criminosa, obstrução da justiça, operação fraudulenta de câmbio e recebimento de vantagem indevida estavam membros de 33 partidos diferentes..O mais visado foi o Partido Progressista (PP), onde militava à época Jair Bolsonaro, que só não saiu chamuscado da operação porque nem ocorreu aos construtores corromper um deputado, à época, de tão baixo clero - além disso, ele ia enriquecendo por outros meios, nomeadamente via rachadinhas, o escândalo do desvio para o próprio bolso do salário dos funcionários fantasmas do seu gabinete, sem precisar desses corruptores de primeira divisão..No entanto, como o escândalo se verificou durante os governos do Partido dos Trabalhadores (PT), foi a formação de centro-esquerda e, por extensão, Lula quem ficou no olho do furacão da Lava Jato - não que não merecesse levar com boa parte das culpas porque "houve gente no PT que se lambuzou", frase da lavra de Jaques Wagner, um dos cardeais do partido, mas a operação, repita-se, atingiu 33 forças e o PP mais do que todas as outras..Do período da Lava Jato - grosso modo, os primeiros 15 anos do novo milénio - transportemo-nos para os dias de hoje, já na segunda década do século XXI. Agora, como então, é Lula o presidente e, agora, como então, ele decidiu rodear-se no governo de alguns dos políticos mais interesseiros do país, incluindo, outra vez, gente do PP e afins, caso contrário não tem apoio no Congresso e não governa..Juscelino Filho, por exemplo, o ministro das Comunicações do conservador União Brasil, já é investigado pela Polícia Federal por enviar verbas indevidas para uma cidade cuja prefeita é a irmã, por manipular licitações e por receber pagamentos via empresa de fachada. Filho usou ainda aviões oficiais da Força Aérea Brasileira para compromissos privados em São Paulo, nomeadamente uma competição equestre. O ministro possui cerca de 450 mil euros em cavalos de raça, não declarados. E, enquanto deputado, propôs um único e singelo projeto: a criação do Dia do Cavalo. Mas Lula, desde a Lava Jato com repulsa à judicialização da política, resiste a demiti-lo. .Mas, com uma remodelação governamental a caminho, que incluirá mais gente deste nível para garantir apoio no poder legislativo, o governo Lula 3 arrisca-se a feder tanto como os governos Lula 1 e 2. E quem vai levar com o grosso das culpas, eleitorais e jurídicas, será, com alguma razão, o responsável, em última análise, por permitir que essa gente tenha entrado no governo..No boletim meteorológico de Brasília, anuncia-se, pois, perigo de avalanche de casos de corrupção. Ou Lula se previne e começa já a demitir os Juscelinos todos sem piedade ou é arrastado, outra vez, por ela.