A Europa olhou para a África nesta crise? Esta foi a primeira pergunta lançada por David Pilling, o editor de África do Financial Times, ao Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa durante uma conversa entre presidentes, neste caso com o Presidente do Gana, Nana Akufo-Addo.
“Esta pandemia é a primeira global num mundo globalizado”, disse. Mesmo os grandes poderes e as instituições globais, na sua opinião, não reagiram rapidamente, não compreenderam, não se coordenaram. “Houve falta de conhecimento e o timing não foi o correto”, acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, claramente descontraído apesar da falha técnica que lhe tirou o som durante alguns minutos.
O encontro anual Eurafrican Forum, que este ano decorreu numa versão digital, discutiu esta semana os principais desafios e oportunidades entre a União Europeia e a África na procura de terrenos comuns num mundo pós-covid. Esta é uma iniciativa do Conselho da Diáspora Portuguesa, uma organização fundada em 2012 e que conta hoje com 95 membros, residentes em cinco continentes.
“A Europa está a financiar a recuperação, mas devemos fazer mais”, acredita o Presidente de Portugal, sublinhando que no nosso país somos proativos na cooperação com África na pandemia, mas, repetiu: “devemos fazer mais e resolver os problemas já.” Contudo, a resposta, na sua perspetiva, tem de ser tanto conjuntural como estrutural.
“África deve ser uma prioridade para a Europa”, destacou, explicando que devemos pensar em investir nas estruturas de produção e na distribuição “para que a economia africana seja diferente, não só em um ou dois países, mas em todo o continente.”
Defendeu ainda que a Europa tem de pensar como pode contribuir para uma mudança estrutural em África; simplificar o sistema de financiamento de modo a ser operacional; e encontrar um esquema para o investimento privado.
E o caminho, para Marcelo Rebelo de Sousa, é pensar em conjunto com os líderes africanos naquilo que a Europa pode fazer para desenvolver e ajudar. Acredita que podemos conseguir uma resolução, as linhas de um acordo até final deste ano durante a presidência alemã do Conselho da União Europeia.
Uma área de comércio livre, como a African Continental Free Trade Area, entre os países africanos é essencial e não deve ser adiada por causa da pandemia, mas não devemos esquecer que um desenvolvimento sustentável em Africa requer estabilidade, segurança e paz- disse Rebelo de Sousa para terminar.