Abrandamento da inflação, poucos cortes nas taxas de juro e muita incerteza, a começar no setor que liderou as valorizações nos últimos 12 meses. São estas as perspetivas traçadas pela corretora XTB, num olhar para 2026.Num evento dirigido à comunicação social realizado esta terça-feira, 16 de dezembro, os analistas debruçaram-se sobre aquilo que aconteceu em 2025 e o que pode estar para vir em 2026, na economia e nos mercados.É sabido que as empresas tecnológicas lideraram investimentos em 2025, com particular foco na Inteligência Artificial (IA). Ora, estas foram também as que mais valorizaram, em particular na bolsa de Nova Iorque, pelo potencial que os investidores acreditam que pode surgir.Posto isto, surgiu nos mercados a questão sobre se estas estarão numa 'bolha', ou seja, com uma capitalização de mercado muito mais elevada do que merecem, mediante os produtos e serviços que já lançaram ou estão a desenvolver. Um dos fatores no centro das atenções é o facto de algumas das maiores empresas do setor terem dívidas líquidas positivas, o que significa que o valor em dívida é maior do que o capital líquido que detêm.Mas pode falar-se da existência de uma bolha na IA? Quanto às "empresas que produzem os cabos, os sistemas de arrefecimento, as placas gráficas e os data centers, não", garante Vítor Madeira, analista de mercados da XTB. Isto porque falamos de empresas com investimentos muito menores.Por outro lado, as empresas que mais apostam nas tecnologias associadas à IA podem correr esse risco, mas "só o futuro dirá". São os casos de empresas como Microsoft, Google (Alphabet), Amazon, Meta, e OpenAI, a título de exemplo, que estão a investir milhares de milhões de dólares na IA.Ora, na perspetiva do próprio, a questão não é se a IA permite aumentos de produtividade, porque isso "está provado". A dúvida é se "os investimentos vão dar rendimento", através de lucros e dividendos. Ou seja, "se este retorno não chegar aos acionistas, alguém vai sair penalizado".Índices em baixa por receio dos mercados?Várias cotadas e índices de Wall Street ficaram penalizados, nos últimos dias, por receios que parecem estar associados a um cenário de possível bolha. Olhando para o índice tecnológico Nasdaq, houve uma queda de 2,5% desde o fecho da sessão de quinta-feira. Em simultâneo, a Nvidia foi mais além, ao tombar 4% no mesmo período. No centro do 'vulcão', porém, está a Oracle, cuja capitalização sofreu um corte de 17%, associado precisamente a receios sobre a dívida da empresa."As recentes quedas nos índices... será que o mercado está a prever isso [a existência de uma bolha]?" Caso os investidores cheguem mesmo à conclusão de que esse é um cenário real, deveremos assistir a uma penalização mais agressiva na tecnologia, mas extensível aos outros setores. "O mercado, quando cai, arrasta tudo", alerta Vítor Madeira.Em todo o caso, será necessário esperar para conhecer os próximos desenvolvimentos. Certo é que o próximo ano será decisivo e a incerteza define, para já, o sentimento.No que respeita ao comportamento do S&P 500 (índice de referência em Wall Street) em 2025, há destaque para os ganhos operacionais. "Tirando a energia, todos os setores cresceram em termos de lucro", de forma particularmente acentuada na tecnologia.Juros a baixar (mas pouco) em 2026O analista destaca as melhorias da Reserva Federal no que diz respeito a perspetivas de crescimento económico. A Fed previa anteriormente 1,6% em 2025 e 1,8% em 2026, ao passo que as expetativas mais recentes, divulgadas na semana passada, apontam para 1,7% e 2,3%, respetivamente.Ainda a respeito da Fed, os mercados esperam um a dois cortes (de 25 pontos base) nas taxas de juro de referência no próximo ano, ainda que este cenário possa alterar-se, consoante a escolha de Donald Trump para a posição de presidente daquele organismo. Recorde-se que o mandato de Jerome Powell termina em maio do próximo ano.No caso do BCE, deverá haver um único corte. Esta expetativa leva em consideração a perspetiva de que o emprego vai "continuar forte" a médio e longo prazo. "O pior que podia acontecer era o desemprego subir", num contexto de inflação elevada e taxas de juro altas, porque seria a origem de uma crise..Regressam os receios sobre 'bolha' na IA. Oracle cai 11% em bolsa após resultados e setor acompanha."Soberania de dados". HPE e Nvidia unem-se para lançar primeira fábrica de IA na União Europeia