Num olhar a 2026, o sentimento geral é de otimismo cauteloso, com a inflação a desempenhar um papel fundamental. Ainda assim, há um denominador comum: a ideia de que vai reinar a incerteza, a começar pelos resultados ligados ao setor que está no centro das atenções: a Inteligência Artificial (IA).Mas qual o contexto em que nos encontramos? O ano que está a terminar fica marcado por reduções nas taxas de juro e taxas de inflação acima dos limites definidos, em termos macro. Ainda assim, nos mercados, registou-se um otimismo acentuado nas bolsas (de forma geral, mas em particular na área da IA) e máximos históricos nos futuros de ouro.Começando pelas bolsas, 2025 foi um ano de excelência, nos EUA e na Europa, mas de formas diferentes. A performance de Espanha liderou as praças europeias, mas Portugal desperta interesse, ao mesmo tempo que a IA gerou ganhos expressivos do outro lado do Atlântico.Entre as principais congéneres europeias, apesar dos receios de desaceleração económica e de crise política (em França), os índices mais negociados renovaram máximos históricos. O alemão DAX subiu 21% e o francês CAC avançou 10%, pelo que deixaram o lugar de destaque para Espanha, cujo IBEX ganhou 48%.Olhando para a bolsa de Nova Iorque, o S&P 500 avançou 16% desde o início do ano e está em máximos. Ainda assim, é necessário levar em consideração a queda do dólar face ao euro no mesmo período, próxima de 13%. Por setores, a tecnologia foi mais longe, com uma subida na ordem de 22% e nos semicondutores houve uma valorização de 46%.Virando o foco para 2026, a generalidade dos analistas coincidem na ideia de que a IA vai continuar a ser o centro das atenções, faltando saber se para o bem ou para o mal. Isto porque, em virtude dos disparos nas capitalizações de mercado de uma série de empresas do setor (e outras que, não estando diretamente ligadas à IA, colaboram com 'players' do setor), existe, da perspetiva dos mercados, a exigência de resultados significativos, sobretudo na métrica da faturação.A elevada dívida de determinados empresas que estão a investir muitos milhares de milhões de dólares em IA (caso da Nvidia, por exemplo) é alvo de um forte escrutínio e tal não será diferente no ano que se aproxima. Ora, tudo somado, este setor deverá ser o motor dos mercados norte-americanos em 2026 e os resultados financeiros deverão ditar boa parte das mexidas. O resultado é uma perspetiva de incerteza.De forma mais concreta, o estudo recente da estação norte-americana "CNBC" indica a expetativa média de que o S&P 500, que funciona como índice de referência em Wall Stret, avance até aos 7.650 pontos em 2026. De referir que o índice terminou a sessão de sexta-feira, dia 26 de dezembro, nos 6.930 pontos, o que o deixou mais perto do que nunca de quebrar a barreira psicológica dos 7 mil.Regressando às bolsas europeias, ainda no tema da tecnologia, os mercados continuam atentos à ASML. É a principal fabricante de máquinas de fotolitografia (componente essencial no fabrico de chips semicondutores) em todo o mundo e está suportada sobretudo em parceiras europeias. Varia, por norma, na linha do sentimento do setor tecnológico notado em Wall Street. Cotada nas bolsas dos Países Baixos e dos EUA, disparou 31% e 50%, respetivamente.Periferia europeia em destaqueTambém no contexto europeu, as economias periféricas terão um maior potencial de crescimento do que as economias centrais (em particular o bloco franco-germânico). É esta a perspetiva do Blackrock Investment Institute, que aponta a crescimentos acima da média em Espanha e Portugal, em função da boa representação dos setores financeiro, de infraestruturas e saúde.No caso português, estima-se um crescimento acima da média da zona euro (com o turismo como motor), baixa inflação face relativamente aos países pares e um quadro de estabilidade política. Estes são fatores que deverão dinamizar o mercado acionista.Geopolítica guia parte do sentimento, com o ouro em forte altaNos futuros, o ouro registou o melhor ano de sempre. As negociações dispararam perto de 73% desde o início de 2025. Em março quebrou a marca dos 3 mil dólares por onça e só tivemos que esperar até outubro para ser quebrada a dos 4 mil dólares. Foi já em época natalícia que foram quebrados os 4.500 dólares. Os aumentos estão ligados ao crescimento da procura por parte de vários os bancos centrais, que optaram por aumentar as respetivas reservas de ouro (sobretudo o banco central da China). Por outro lado, o minério é perspetivado como reserva de valor. Significa isto que tende a subir em períodos de maior incerteza de âmbito macroeconómico ou geopolítico, por exemplo. Ora, em curso estão a guerra comercial, coloca frente a frente as duas maiores potências económicas do globo (EUA e China) e ninguém sai ileso. As dúvidas decorrentes dos conflitos armados ao redor do globo (em particular a guerra que decorre no leste europeu) também resultam numa forte valorização do minério.Também aqui é notória a incerteza, já que tudo depende dos decisores políticos. Certo é que há várias startups de defesa a surgir na Europa (com rondas de investimento que atraem muitos milhões), depois de grandes empresas do setor fazerem brilharetes em 2025 (Rheinmetall em destaque, ao disparar 150%).Ora, o rearmamento que a UE pretende, com promessas de grandes investimentos a este respeito, deverá impulsionar o setor. A par da energia (com grande aposta na independência energética e transição para energia verdes), os dois setores vão estar sob olhar atento dos analistas, de forma especial nos mercados europeus..Fabricante de ‘chips’ MetaX estreia-se na bolsa de Xangai com valorização de 700%.Ouro e prata continuam a disparar para novos máximos de sempre