Com o aproximar do dia 1 de agosto, quando uma nova taxa alfandegária deverá começar a ser aplicada a produtos importados da Europa para os EUA, os investidores estão a procurar ativos de refúgio, como acontece regularmente em tempos de incerteza. Mais uma vez, o metal amarelo está a beneficiar do ambiente de volatilidade sentido nos mercados, numa altura em que empresas de diversos setores se apressam a tentar cruzar a fronteira dos EUA para descarregar encomendas e stock que tenham disponíveis, em produtos que vão de café a medicamentos.“O preço do ouro atingiu um máximo de cinco semanas nas primeiras horas de negociação desta quarta-feira, 23 de julho, apoiado por dois fatores principais”, explicou ao início da manhã Ricardo Evangelista, analista da ActiveTrades Europe. “Em primeiro lugar, cresce a ansiedade à medida que se aproxima o prazo imposto pela administração norte-americana para concluir acordos comerciais com parceiros globais — ou aplicar tarifas elevadas — o que está a alimentar a procura por ativos de refúgio. Em segundo lugar, aumentam as preocupações em torno das aparentes tentativas da Casa Branca de interferir na política monetária da Reserva Federal”.Recorde-se que Donald Trump tem estado a pressionar Jerome Powell, o atual presidente da Reserva Federal norte-americana (FED) – nomeado por Trump durante o seu primeiro mandato e mantido por Joe Biden durante a sua administração – por considerar que a instituição não está a aplicar uma política monetária favorável ao desenvolvimento da economia. As críticas públicas, seja em entrevistas seja nas suas redes sociais, têm estado a contribuir também para um ambiente de suspeição e de preocupação, com os especialistas a apontar a gravidade de um cenário em que haja interferência política no rumo da FED (o banco central do país), que deve sempre agir de forma independente da administração que ocupa a Casa Branca..Trump considera Powell "demasiado lento" a baixar taxas de juro da Fed."Isso seria como dizer que, quando está a sofrer bullying, a melhor coisa a fazer é ceder",Alan Blinder, antigo vice-presidente da FED.Desde esta terça-feira, 22 de julho, aliás, que crescem os rumores sobre uma possível resignação por parte de Jerome Powell, que segundo fontes próximas tem estado a pensar se se deve afastar para garantir a estabilidade do sistema. Para Alan Blinder, economista e antigo vice-presidente da FED, essa decisão “criará um precedente terrível para o futuro”."Isso seria como dizer que, quando está a sofrer bullying, a melhor coisa a fazer é ceder", disse Blinder durante uma entrevista por telefone à CNN. "Eu preferiria muito mais ver – e é isso que espero – Powell lutar contra isto até o fim", instou o atualmente professor de Economia na Universidade de Princeton.“Esta situação levanta dúvidas sobre a independência do banco central e contribui para uma perda de confiança nos ativos denominados em dólares. Como consequência, o dólar está a enfraquecer face às principais moedas, o que dá suporte adicional ao ouro, devido à correlação inversa entre ambos os ativos”, continua Ricardo Evangelista.“Neste contexto, a atenção dos investidores mantém-se focada nas negociações comerciais em curso, com especial destaque para as conversações entre os Estados Unidos e a União Europeia. O fracasso em alcançar um acordo poderá ter um impacto negativo sobre as perspetivas da economia global. Quanto mais nos aproximarmos da data-limite de 1 de agosto sem progressos, maior será a probabilidade de uma aceleração na procura por ativos de refúgio, como o ouro, criando margem para novas subidas no preço do metal precioso”, conclui ainda o analista. .Tarifas: UE prepara-se “para o pior” e desenha plano de retaliação .Recorde-se que esta segunda-feira a Reuters dava conta de que a União Europeia se está a preparar para o pior cenário possível, em que os dois blocos económicos não chegam a acordo, e Trump agrava mesmo a tarifa, de forma transaversal, a aplicar aos produtos oriundos da UE. Negociadores americanos e europeus têm-se desdobrado em reuniões para tentar chegar a um acordo que não seja particularmente gravoso para nenhuma das partes, mas depois de vários meses de avanços e recuos é mesmo possível que agosto marque um novo momento na guerra comercial que a adminisitração republicana iniciou assim que ocupou a Casa Branca, em janeiro deste ano.