A Teixeira Duarte vai regressar ao PSI, o índice de referência da bolsa de Lisboa, que vai passar de 15 para 16 cotadas. À boleia do TGV, a construtora vai ser a segunda do setor a cotar naquele índice. Porém, as opiniões divergem quanto às consequências, para a empresa e para o índice. Ainda assim, há um ponto que une os especialistas: tanto a cotada como o índice saem a ganhar.A construtora começou a negociar na bolsa em 1998, tendo repetido entradas e saídas no PSI desde então, até deixar o índice pela última vez em 2016. Desta vez, falamos de uma valorização na ordem de 575% desde o início do ano, que levou a capitalização de mercado a subir até aos 226,8 milhões de euros. Assim sendo, o “freefloat” (ações disponíveis para compra e venda em bolsa, ou seja, aquelas que não pertencem aos donos da empresa) ultrapassou os 100 milhões de euros, o que lhe permite voltar a ingressar no índice.No desempenho recente da empresa, destacam-se os 440 milhões de euros adicionados à respetiva carteira de investimentos em função da linha de Alta Velocidade, que vai ligar o Porto a Lisboa. A Teixeira Duarte tem, de resto, uma participação 6,35% no consórcio que vai construir a primeira fase da linha. A concessão, atribuída ao consórcio Lusolav pela Infraestruturas de Portugal, destina-se a construir a linha que vai ligar o Porto a Oiã, com uma avaliação superior a 1,66 mil milhões de euros. O consórcio é liderado pela Mota-Engil, envolvendo também a Alves Ribeiro, a Casais, a Conduril e a Gabriel Couto.De acordo com Pedro Lino, CEO da Optimize, neste contexto a Teixeira Duarte ganha mais visibilidade entre os investidores e os fundos de investimento, pelo que também é “positivo” para a bolsa.Ao Diário de Notícias (DN), Pedro Lino destaca o portfólio “muito interessante” de imobiliário que permitiu à Teixeira Duarte reestruturar a dívida bancária, pelo que existe prontidão para iniciar “novas obras”. Os próximos 10 anos reservam 20 a 25 mil milhões de euros em obras públicas (entre elas o novo aeroporto, a terceira ponte sobre o Tejo e o próprio TGV), o que anima os mercados.Assim, diz, a “melhoria operacional e de perspetivas” gerou, uma forte valorização, impulsionada, nas sessões mais recentes, pela certeza de que a Teixeira Duarte vai voltar a integrar o PSI. Sobre a possibilidade de a Teixeira Duarte continuar a valorizar em bolsa, Pedro Lino alerta que ainda existem “perigos, nomeadamente a execução do projeto de crescimento e reestruturação”, em função da “dívida muito grande” com que a empresa lida.Ao mesmo tempo, Pedro Lino salienta que a entrada no PSI deverá atrair investidores nacionais, mas não tanto os internacionais. Estes últimos “querem liquidez e volume”, pelo que a Teixeira Duarte não é atrativa, esclarece. Quanto à volatilidade dos títulos, deverá ser ainda mais agressiva do que no caso da Mota-Engil, que também faz parte do PSI e frequentemente sobe e desce de forma repentina. Ainda assim, no caso da Teixeira Duarte o impacto no índice será mínimo, já que a mesma terá um peso “residual”.À conversa com o DN esteve também João Queiroz, head of trading do Banco Carregosa, que fala numa “viragem simbólica e prática”. Da perspetiva da empresa, trata-se do “reconhecimento de um processo de recuperação e reestruturação bem-sucedido, que devolve visibilidade e credibilidade no mercado”. Ao mesmo tempo, a bolsa de Lisboa dá um “sinal de visibilidade” e o PSI “reforça a narrativa de que não é apenas um índice de blue chips estáveis, mas também um espaço onde empresas em transformação podem ganhar escala e gerar valor”, aponta.Deste ponto de vista, aumenta a visibilidade da Teixeira Duarte à escala internacional, ao mesmo tempo que fica reforçada a “cobertura de research por casas de investimento e a confiança junto da banca e de parceiros de negócio”Ao mesmo tempo, a valorização expressiva “dificilmente” se vai repetir, mas pode gerar “fluxos adicionais de investimento”. Neste contexto, a tendência futura ficará sujeita à “capacidade da Teixeira Duarte em mostrar disciplina financeira e consolidar resultados operacionais”, sublinha o responsável pela pasta do trading no Banco Carregosa.O especialista sublinha ainda a ideia de uma elevada volatilidade, em função de “margens pressionadas por custos, elevada dependência de investimento público e privado e sensibilidade a ciclos económicos e geopolíticos”, pelo que a inclusão no PSI pode resultar num aumento da “amplitude dos movimentos do índice em momentos de stress setorial”, de acordo com João Queiroz.Certo é que as ações da Teixeira Duarte fecharam a sessão de sexta-feira nos 54 cêntimos e vão passar a negociar no PSI a partir da próxima segunda-feira, dia 22 de setembro.