Quantos de nós já não ouvimos, depois de um lauto e bem regado almoço, alguém afirmar "não estava nada mau"? Esta expressão de contentamento possui, no entanto, três palavras que qualquer marketeer sabe que devem ser usadas com muita, mas mesmo muita cautela: "não", "nada" e "mau". Os portugueses, para exprimirem a sua satisfação, constroem uma frase de quatro palavras em que três são consideradas evitáveis pelos cânones da comunicação de marketing..Já sabemos que o marketing não é o forte dos portugueses. Sobejas vezes tenho realçado, neste mesmo espaço, que temos um défice de imagem - em geral, a realidade é melhor do que a imagem que passamos, tanto para fora como para dentro do país..Mas a frase "não estava nada mau é ainda reveladora de uma outra característica: o nacional pessimismo. Para dizermos que "estava ótimo utilizamos uma expressão com o dobro das palavras (o que indicia que somos pouco eficientes) e com uma dupla negativa, o que evidencia não só baixa eficácia comunicacional mas também um espírito negativista..Mas será mesmo assim? Um estudo publicado em 2021 pela União Europeia revela que afinal Portugal é otimista. De acordo com o índice de otimismo desenvolvido pelo Eurofound, o nosso país surge em 7º lugar no conjunto dos 27 estados membros, à frente de países como os Países Baixos e Espanha, e muitíssimo à frente da França e da Grécia que se encontram na cauda do ranking..A questão que se coloca é saber como compatibilizar a ideia generalizada de que os portugueses são pessimistas com os resultados daquele estudo recente. De facto, só há três explicações possíveis:.- a primeira é que o pessimismo português não passa de um mito urbano que não corresponde à realidade;.- outra é que o estudo tem falhas metodológicas que fazem com que as suas conclusões não sejam cientificamente válidas;.- a terceira explicação passa por aceitar que somos estruturalmente pessimistas mas que conjunturalmente estamos a passar por uma onda de otimismo..Se esta última hipótese for verdadeira, o Governo, com a ajuda do Presidente da República mais otimista que alguma vez tivemos, pode ficar satisfeito pois foi capaz de transformar um país pessimista em otimista, mesmo que conjunturalmente..Mas até que ponto não estaremos perante um otimismo que é fruto de uma certa dose de inconsciência, conformismo e falta de ambição? Inconsciência sobre o estado do mundo e do país, conformismo em relação ao status quo vigente e falta de ambição decorrente de expectativas muito baixas..Se assim for, Portugal continuará a sua caminhada em direção à cauda da Europa. Até que o otimismo conjuntural desapareça e só reste o pessimismo, tanto o estrutural como o conjuntural. Mas quando isso acontecer já Costa terá certamente aceitado um desafio internacional (presidente da Comissão Europeia?) e Marcelo estará reformado..Professor da Universidade do Porto - Faculdade de Economia e Porto Business School